novo filme do Coringa just dropped
Na esteira desse comercial aqui que o pessoal do Jogabilidade andou desenterrando…
… eu tenho a impressão de que esse comercial aqui
foi o meu “descobrir que o Papai Noel não existe” particular. Só que o Papai Noel eram cinco japoneses em colantes coloridos.
Eu vi essa propaganda e eu tinha CERTEZA de que eu viraria um Flashman assim que apertasse o botãozinho. Ganhei o troço e adivinha só
Isso provavelmente desencadeou uma série de decisões duvidosas ao longo da minha vida.
Pra completar, pouco tempo depois de ganhar o GADGET, eu fui com ele na casa da minha vizinha e o irmão mais velho dela ficou apertando o botão vermelho, fazendo barulhinho, e ficou apertando e apertando e apertando sem parar e quebrou o botão e aí o apetrecho nunca mais funcionou direito. Isso provavelmente desencadeou uma série de decisões duvidosas ao longo da minha vida.
ainda no tema: muita gente deve se lembrar dessa
não sei nem por onde começar
Sexta-feira à tarde eu sabia que existia um Festival do Boi-Bumbá de Parintins, sabia do Caprichoso x Garantido, conhecia aquela música do gavião real porque por algum motivo tocava na 105 FM Criciúma nos anos 90, etc. Algumas horas depois eu estava me perguntando quanto sairia pra ir acompanhar o festival ao vivo in loco no ano que vem.
É um lance que é um meio-termo entre musical e desfile de carnaval. Tem música (mais de uma, ao contrário do carnaval), temas, as alegorias e carros gigantes, apuração de votos, etc. Só que tudo obviamente voltado pro Amazonas, dando destaque pra cultura local. Tem um certo tom dramático que visa a empolgação de quem assiste, com o apresentador de cada boi fazendo a frente e chamando cada momento, lembrando os jurados do que é cada item. E as torcidas contam ponto também. Galera tem que ficar pulando, mexendo os braços, tudo bonitinho, o tempo inteiro. Isso aqui se passasse na Globo ou ganhasse react do Casimiro ia estar bombando.
Assim, eu não saberia como vender o festival muito bem porque eu não sei vender. Mas só de assistir já foi divertido. E eu nem vi tudo - a apresentação de cada boi dura duas horas e meia, ao longo de três dias. Eu nem conheço nada do rolê. Mas se fosse pra mostrar um trecho pra vocês do que foi uma das coisas que me empolgou, realço aqui o começo da apresentação do Garantido no sábado:
Tem outros trechos no canal da TV A Crítica, incluindo as apresentações inteiras de cada noite. Infelizmente também tem vídeos do Sikêra Jr., mas né. Aqui tem um vídeo deles contando um pouco do contexto da coisa toda:
E por mais que eu estivesse tendendo mais pro Garantido, essa música aqui do Caprichoso pra mim foi o hit do festival e COM CERTEZA foi o que deu o prêmio pra eles esse ano
Tudo isso eu conheci graças à alegria das noites da família brasileira: o canal do Rica Pancita na Twitch.
Maravilha do Sul - parte 2
(outras histórias passadas na cidade de Maravilha do Sul você pode encontrar nas seguintes edições desta newsletter: #14, #16, #17, #18, #19, #21, #22, #24, #25, #26 e #34, #39. Estamos a caminho do final: a hora pra começar a ler é agora, ou essa história vai se autodestruir.)
Melquíades bebia sua primeira cerveja da noite no bar da festa de São Drogo. Ficou em pé, apoiado no balcão que consistia em um pedaço de madeira mais ou menos reto, enquanto analisava o movimento. E de fato havia muito movimento.
Calculadora estava (internamente) empolgado no palco, tocando e cantando “Fio de Cabelo”, do Chitãozinho & Xororó. Ele sabia que era uma das preferidas do ex-padre Valter, que tinha acabado de chegar na festa e estava sendo efusivamente recebido pelas mulheres da igreja. Pouco depois dele, o bigode portentoso do ex-prefeito O’Hara e o rosto recentemente harmonizado de sua filha Micaela chegaram para aparecer em fotos pro jornal.
- E voltamos ao vivo diretamente da festa de São Drogo. – trovejou Cláudio Bandeirante, empunhando seu microfone. – Estamos aqui com um dos patrocinadores da festa: Pedro Reis, detetive particular, que é também casado com uma das organizadores, a Maria Antônia. Boa noite, Pedro.
Pedro disse “boa noite” mas ninguém ouviu porque Cláudio não tirou o microfone da boca e seguiu falando:
- Me diz uma coisa: fazer uma festa desse tamanho, com tudo que a gente tá vendo... dá trabalho né?
- Hã, dá. Dá sim. Tem muita coisa rolando por baixo dos panos. – seus olhos passaram ligeiramente pelo bar da festa, onde encontraram Márcia trabalhando. - Muita coisa que ninguém imagina. É uma estrutura muito grande né.
- A Maria Antônia, a Arlete e as outras meninas estão de parabéns pela organização.
- Sim, com certeza. É muito bonito ver a amizade entre elas, não é? Tudo ocorreu na mais perfeita harmo... – o microfone saiu da frente de Pedro.
- Acabei de avistar: o nosso amigo General acabou de chegar aqui na festa.
Cláudio atravessou meia festa atropelando todo mundo em sua frente para chegar na entrada e enfiar o microfone na cara do General.
- General, uma palavrinha aqui pros nossos ouvintes sobre essa grande festa.
- Boa noite, Cláudio. A festa está linda, o povo de Maravilha do Sul merece uma festa desse porte. Parabéns pra organização.
- E me diz uma coisa: o que você mais quer ver na festa de São Drogo desse ano?
*
Os olhos do Coronel se arregalaram. Ele parou de rir de repente. A música alta que tocava pareceu sumir e sua atenção toda se voltou para o clarão que surgiu no céu escuro. O padre Valter percebeu o olhar paralisado do Coronel e virou a cabeça para seguir a visão dele.
- Puta que me pariu. – disse o padre.
Raul dormia. Suas pernas estavam arranhadas, seus braços doíam. Achou melhor se encostar numa árvore do lado da estrada e voltar pra casa pela manhã. Seu sono foi atrapalhado por um barulho que vinha de cima dele, junto com uma luz muito forte. Mas ele não teve tempo de se mexer.
Matias viu o clarão se aproximando da árvore. Olhou para baixo e encontrou Raul. Berrou o nome dele.
O que quer que fosse aquilo, era de um verde fluorescente e se dirigia à arvore com uma velocidade que nenhum dos espectadores sequer podia imaginar. Então atingiu o objetivo. Matias sentiu uma explosão branca, um calor repentino. Tentava manter os olhos abertos mas não conseguia. Quando o clarão passou, viu apenas o que restava da árvore: um pedaço de caule disforme, em chamas, caindo pro lado. Ao lado dessa forma quase abstrata, viu o braço erguido de seu filho. E em volta dele uma cratera gigantesca, que Matias nunca achou ser possível. A explosão tinha afastado a terra em volta e formado um círculo escuro, com alguns pontos em chamas. Matias gritou mais uma vez pelo nome de seu filho e saiu correndo pra encontrá-lo no meio da cratera. Sequer percebeu quando passou pelo pai de Arlete, em estado catatônico na entrada da casa, ou quando um carro se aproximou da cratera.
Viu o braço de seu filho tentando fugir pela terra enquanto o resto do corpo tinha sido enterrado. Foi esbaforido até ele e quando estava a três passos de alcançá-lo, a terra em volta sugou Raul como se fosse areia movediça, num movimento único que pareceu um tipo de chupão de pedregulhos e luz branca-verde que fez o braço desaparecer. A Matias só restou correr até o centro da cratera e berrar por Raul mais uma vez enquanto tentava desenterrar o corpo do garoto com as mãos, sem sucesso. Onde havia o braço de Raul agora só restavam as lágrimas de Matias.
- Matias?! Que porra foi essa?
Matias olhou para sua esquerda para ver o dono da voz grave. Era Cláudio Bandeirante (que reconheceu não só por ser o dono da rádio e do jornal da cidade, mas por ser o cara que praticava bullying com ele no colégio paulatinamente), e Matias pôde ver outras quatro silhuetas contra a luz do farol de um carro: do padre Valter, do Coronel, do prefeito O’Hara e do policial Borba.
Não soube o que responder à pergunta de Cláudio. À sua direita, ouviu um assovio de surpresa.
- Que bagunça, hein? – disse Melquíades.
*
Os soldados e cientistas arrumavam o rastro de destruição que o fugitivo tinha deixado no laboratório. Derrubou armários e macas, quebrou frascos e estantes de vidro. Tudo isso em vez de ficar preso por sabe-se lá quantos dias num laboratório que estava analisando seu corpo em busca de sabe-se lá o quê. O descuido do doutor Dezaki o permitiu sair correndo pro meio do mato mas agora Dezaki e seus colegas é que tinham que dar conta de ajeitar a bagunça.
Foi no momento em que o doutor Dezaki terminou de colocar o último tubo de ensaio em seu local exato no armário, ao lado de todos os outros frascos até então cheios de componentes químicos alinhados perfeitamente de acordo com seu nome e função, que a terra tremeu e balançou o armário e fez tudo cair e quebrar no chão. Dezaki soltou um palavrão e se afastou do armário enquanto a terra continuava a chacoalhar sob seus pés.
Era o segundo terremoto em pouco tempo e esse parecia estar cada vez mais forte. Saiu trôpego da tenda em que estava enquanto as coisas se mexiam ao seu redor. Chegou ao corredor principal do laboratório e pôde ver a tenda central sendo sugada para dentro da terra, por um buraco que tinha surgido onde antes quedava o meteoro. Viu as paredes e os suportes da tenda sendo levadas e sua reação inicial foi ficar olhando para a situação, como quem assiste a uma cena grotesca de um filme de terror, mas piscou e preferiu sair correndo para salvar sua vida. Apressou-se pelo corredor junto com os outros soldados e saiu a tempo de ver boa parte do laboratório desaparecer para dentro da terra.
E segundos depois, surgir de volta, mas desta vez voando pelo céu devido a algum tipo de explosão branco-esverdeada vinda do centro da cratera. Os pedaços de laboratório caíram aleatoriamente mas o que chamou a atenção de Dezaki foi o que surgiu onde antes havia um meteoro. Era algo muito maior. E estava desenterrando a si mesmo.
Continua…