Álbum recém-saído do ELUCID, rap meio experimental com uma vibe bem interessante
Ainda no rap, mas com uma pegada mais oldschool, mais puxado pro boombap (porém moderno), tem o novo do Logic
E, ok, pra efeito de registro: a música que não tem saído da minha cabeça recentemente tem sido essa Antigueira Porém Sonzeira™ do Ian Dury & The Blockheads
Nunca tinha dado atenção pro Ian Dury, não sei bem porquê, mas vi esse vídeo do Trash Theory falando sobre o cara e a música e aí já sabe né.
Existe um certo alento na história dele quando se descobre que a música de maior sucesso do rapaz saiu quando ele tinha seus 36/37 anos. Ou pelo menos é eu quero acreditar né.
Galera recentemente eu recebi esse mimo, essa caixa cheia de Cheetos sabor limão… se quiserem que eu faça o review, me falem nos comentários
Tenho jogado e pelo visto tô quase terminando um joguete chamado Flynn: Son Of Crimson.
É um lance de plataforma com umas coisas de Zelda e tal. Tem espadinha, tem tirinho, tem personagens bonitos e gráficos cativantes. Mas umas mecânicas meio antiquadas, enfadonhas, inimigos repetitivos e em um dado momento parece que as fases ficam longas demais. É bem gostosinho de jogar (com direito a esquiva e dash) e isso já é meio que o suficiente pra me fisgar num jogo de plataforma - e, bom, tá no Game Pass, não é como se eu tivesse perdido muita grana nele. Se cair na tua mão, jogue.
Mas eu quero saber mesmo é disso aqui, nem saiu e já é Jogo Do Ano™, confirmado. Não tem outros jogos pra votar, só tem esse mesmo. Campeão absoluto.
Maravilha do Sul - parte 1
(outras histórias passadas na cidade de Maravilha do Sul você pode encontrar nas seguintes edições desta newsletter: #14, #16, #17, #18, #19, #21, #22, #24, #25, #26 e #34. A hora pra ler ou reler é agora: esse é o começo do fim do rolê todo.)
Maria Odete bateu o carimbo, fazendo barulho, e assinou a certidão de casamento com tanta força que quase conseguiu rasgar o papel.
Encerrou a cerimônia após os noivos assinarem a certidão.
- Espero que sejam felizes. – disse, enquanto pensava o exato oposto.
O noivo deu um sorriso amarelo pra ela. Era o dia 14 de julho de 1998 e o Coronel Boaventura estava se casando pela segunda vez na vida. Sua agora esposa, Marta, trazia um sorriso apenas um pouco mais verdadeiro, um sorriso que guardava a esperança de uma vida boa para o filho que trazia na barriga e que ainda não tinha nome.
Não houve festa, nem cerimônia na igreja, nem fotos ou vídeo. Quanto menos pessoas soubessem do casamento, melhor para Boaventura. Ele mesmo queria esquecer. Marta e ele saíram do cartório de Maravilha do Sul de braços dados e receberam cumprimentos de algumas velhinhas, para as quais armaram mais alguns sorrisos falsos.
Quando chegaram diante do carro do Coronel, ele abriu a porta do carona para ela e disse:
- Vamos comemorar, então.
O Coronel deixou-a em casa sozinha e foi pra uma festinha com os amigos.
O sítio do prefeito O’Hara ficava afastado do centro da cidade e a enorme casa, que era da família dele desde muito tempo antes de ele mudar de sobrenome, ficava próxima ao portão, deixando espaço apenas para que alguns carros ficassem estacionados. O Coronel colocou o seu mais à direita, bem próximo da churrasqueira. Ali, seus amigos lhe receberam estendendo copos de cerveja.
- Chegou o noivo! – disse Cláudio Bandeirante.
- Perdemos um guerreiro? – riu o prefeito O’Hara.
- Acho que ele só perdeu a batalha, mas a guerra continua. – disse o padre Valter, limpando a boca depois de beber um gole.
- Até parece, seus babacas. – disse o Coronel se aproximando e cumprimentando a todos. – Cadê o Borba?
- Deve estar chegando daqui a pouco, ele disse que tinha um compromisso mas não deve demorar. – disse O’Hara enquanto enchia um copo pro Coronel. Depois, entregou o copo e o ergueu – Ao teu casamento!
- Cala a boca. – sorriu o Coronel, então brindou e bebeu.
A conversa foi interrompida pelo som de uma buzina insistente, repetitiva. Mais um carro estacionou, mas a buzina não chegou a parar.
- Falando nele... – disse o padre Valter.
- Cadê o noivo? – berrou Borba enquanto saía pela porta do motorista.
Junto com ele, saíram do carro gritando e comemorando quatro mulheres, todas usando roupas decotadas ou minissaias e muita maquiagem. Os outros homens gritaram junto.
Alheia a tudo isso, uma criança se perdia em sua bicicleta, longe de casa.
*
Ezequiel lembrou-se de ter ouvido a história da origem da festa, mas não estava em condições de detalhá-la naquele momento. Suas botinas estavam sujas, sua camisa estava amarrotada e suada, seu cabelo e sua barba estavam mais longos do que deveriam e seu bafo estava mais alcoólico do que nunca esteve. E a disputa era acirrada: nos últimos tempos vinha bebendo diariamente, sem saber o que fazer ou pra onde ir.
Mas naquela noite em específico ele tinha pra onde ir: a Grandiosa Festa em Honra a São Drogo, padroeiro de Maravilha do Sul. Era uma tenda de lona que tinha sido armada ao lado da igreja, recheada com mesas e cadeiras de plástico, um balcão que vendia bebidas, outros balcões que vendiam comida, e mais ao fundo um palco de madeira ladeado por caixas de som. Um paredão de pedra à direita de quem entrava formava um limite natural ao espaço da festa. Várias pessoas circulavam pela tenda como formigas atarefadas e ansiosas, e todas olhavam pra ele com um indisfarçado desdém – da mesma forma que o fedor dele desdenhava delas.
- Meu filho. – disse alguém atrás dele.
Ezequiel levou um susto. Era seu pai? Tinha encontrado seu pai?
Deu meia-volta e deu de cara uma mulher mais baixa que ele usando uma camisa floral e luvas de borracha.
- Você não é meu pai. – disse ele, tentando entender o que acontecia.
- Olha, tomara que não. – disse Arlete. – Pode ficar um pouco longe da entrada, por favor? A gente precisa que as pessoas entrem aqui na festa.
Ezequiel meio que deu uma cambaleada e se deu conta de que estava na entrada da tenda. Então começou a dar uns passos lentos e tortos para um canto, enquanto Arlete o empurrava discretamente para um banco afastado.
As pessoas estavam começando a chegar. O sol se punha há pouco. Maria Antônia dava uma última limpada em algumas cadeiras enquanto dava as boas-vindas aos recém-chegados e no palco o Calculadora tocava a primeira música em seu teclado (“Fogo e Paixão”, do Wando), cantando-a com sua voz forçadamente grave. Ao lado do palco, sentada numa cadeira de plástico e completamente emburrada, quedava sua filha, de braços cruzados. O padre Saulo passou por ela, passou por ele, fez um joinha indicando que estava tudo certo e atravessou a tenda dando passos rápidos, analisando tudo para se certificar de que estava tudo nos conformes. Chegou na entrada da tenda, ajeitou sua batina nova, ajeitou o cabelo e armou um sorriso que pretendia manter até o fim da festa.
O General Boaventura não conseguia tirar a cara de preocupação do rosto. Seus olhos se moviam rapidamente, seguindo o facho de luz de sua lanterna, mas nem ele nem seus subalternos encontravam o que procuravam no meio do matagal.
- Nada por aqui, senhor. – disse um cabo enquanto se aproximava dele.
- Tudo bem. – resignou-se o General, e respirou fundo. – Vamos voltar. – berrou ele, sem fazer força. – Não é como se um maluco fantasiado com uma roupa de cachorro azul fosse ser grande problema pra gente.
Outros soldados se aproximaram e aos poucos todos foram voltando para o laboratório.
- Procurem de novo daqui a uma hora. Eu vou ter que me ausentar por um tempo mas volto mais tarde.
- Sim, senhor. – latiram os homens em uníssono.
*
Raul era uma criança que gostava muito de se embrenhar na mata, conhecer lugares novos, explorar as possibilidades dos campos em volta da cidade. Não por acaso, tinha no cenho uma cicatriz que tinha ganho de presente de uma árvore em uma de suas empreitadas. Sempre saía de bicicleta, sozinho, mas sempre voltava pra casa no final da tarde. Naquele dia, não tinha voltado. Seu pai, Matias, preocupou-se de verdade pela primeira vez com o filho.
Saiu da farmácia quando o sol de pôs e foi pro mato procurar Raul. Já conhecia os arredores de Maravilha do Sul: ele saía semanalmente pra andar no matagal usando uma roupa de lobo com os pelos azuis e os olhos grandes e caricatos como de um desenho animado, que era na verdade o seu verdadeiro eu mas que ele tinha vergonha de mostrar pras pessoas. A lanterna em sua mão procurava incessantemente por Raul mas Matias só encontrou marcas de pneu de bicicleta no chão. As marcas se cruzavam frequentemente, dando a entender que ele passou pelos mesmos lugares várias vezes. Seguiu uma das trilhas até dar de cara com uma cerca de arame farpado. Conhecia aquele sítio: era do pai de sua amiga Arlete. Deu a volta pela cerca, encontrando algumas vacas do lado de dentro com sua lanterna, até que no ponto em que a cerca acabava e virava, ele viu a bicicleta de Raul. Estava suja e largada no chão, mas ele tinha certeza que era bicicleta de seu filho. O mesmo tom azul metálico, meio roxo. Matias ergueu o rosto com rapidez, jogou a luz da lanterna pra todos os lados e começou a gritar o nome do filho.
Voltou para o meio do mato, se afastando cada vez mais do sítio. O desespero fez sua mente trabalhar de uma forma torta, mal ele sabia o que estava fazendo. A luz de sua lanterna tentava cobrir o máximo de lugares possíveis ao mesmo tempo mas nada parecia adiantar. Então algo chamou sua atenção: a luz amarelada da lanterna começou a dividir espaço com uma iluminação verde. Vinha de trás dele, do céu. Deu um giro de cento e oitenta graus e sua atenção se voltou para uma bola branco-esverdeada que parecia cair do céu. A boca de Matias se abriu e a lanterna escorregou de sua mão, como se quisesse fugir.
O dia e a noite tinham sido de trabalho duro para Melquíades. Depois de plantar quadrado por quadrado de grama naquele que ele esperava que viria a ser o campo do Maravilha Futebol Clube, ele estava sentado numa futura marca de escanteio tomando uma merecida cerveja. Observava o céu sem estrelas sem pressa para ir pra casa, quando a mesma bola branco-esverdeada surgiu do nada no céu. Achou que poderia ser uma daquelas tais de estrelas-cadentes que ele já tinha ouvido falar em filmes, e notou que ela estava se aproximando cada vez mais. Não imaginava que ela realmente pudesse cair.
continua…
que ódio, eu acreditei por um instante no Cheetos de limão