Tempos atrás eu falei de OVAs (Original Video Animations) com animes que parecem exalar muito a vibe do city pop japonês dos anos 80: Nineteen19 e Bobby’s In Deep. Faltava um pra fechar o que parece ser a trilogia sagrada desse subgênero tão específico.
California Crisis tem sua estética calcada totalmente na arte do Eizin Suzuki e seus traços bem definidos, cores gritantes e pop. O lance é que tudo nesse anime é uma grande fantasia do que eram os Estados Unidos da época - o sonho do capitalismo japonês em 1986. É uma aventurona típica do cinema hollywoodiano - envolve ação e espionagem com aliens. Esse OVA se diferencia dos outros justamente por ser uma aventurona mais correria, mais fantasia.
O grande interesse no fim das contas é a vibe. Tem uma cena de ação que é entrecortada com cenas de uma banda tocando um city pop funkeado, meio que do nada mesmo. Tudo é em nome da vibe. As personalidades dos personagens, os cenários, a história. A nostalgia dos tempos da juventude. As coisas se entrelaçam pra criar uma imagem de um Estados Unidos metafórico, com suas noites neon, praias, desertos, carros, helicópteros do exército.
Os personagens passam o filme inteiro tentando levar um objeto alienígena pro Death Valley, e essa orbe a protagonista chama de “american dream”. Como se eles estivessem protegendo e buscando o sonho americano, defendendo-o de interesses escusos. O final agridoce faz uma ponte com os finais dos outros OVAs que eu citei: o sonho americano se desfaz em nada. O casal se separa. Tudo que resta são as lembranças mesmo, ainda que por eles claramente tudo bem. (Beleza: a ideia original era que esse OVA seria a primeira metade da história, mas acabar assim deixa tudo mais interessante)
Tem quarenta e poucos minutos. Aqui com legendas em inglês:
Não Sei Desenhar Comics apresenta:
Chegando atrasado em Irresistível Paixão (ou, no original, Out of Sight), do Steven Soderbergh, de 1998. É a semente do que viria a se tornar a trilogia Onze Homens e Um Segredo: tá o George Clooney como um ladrão charmoso, o elenco foda, a vibe cool e a edição do Soderbergh. Edição essa que nem sempre funciona pra narrativa como um todo, estruturalmente (tem umas jogadas que parecem estar ali só pra bonito mesmo), mas a estética já tá ali. Gosto daqueles pauses que ele dá pra destacar algumas coisas. O David Holmes, que viria a fazer a trilha sonora da trilogia Ocean, também já tá ali. Tudo é muito mais cru em relação ao que viria a ser feito depois, inclusive a própria história - adaptação de uma novela do Elmore Leonard. Então o rolê é mais violento e direto. E que timing pra comédia esses caras já tinham.
Lembra quando os filmes americanos tinham carne? Suor, tesão, etc. Então.
(de acordo com a votação na edição anterior…)
Deve ser problema de software. É claro. Lucy vê o pequeno quadrado vermelho no monitor e imagina o problema de programação. Então decide consertá-lo.
Gira sua cadeira e estica o braço para alcançar um óculos-capacete que estava pendurado em cima de outro monitor. Liga-o. Coloca-o na cabeça. Seu acolchoado velho se arrasta pelo seu cabelo preto e seus olhos são cobertos por um visor transparente que toma toda sua visão. Aos poucos, o vidro do visor deixa de ser transparente: informações começam a surgir, o logotipo da empresa que construiu o óculos. Um minuto depois, o aparelho está apto para uso.
O que ela vê diante de si é uma representação em computação gráfica em baixos polígonos da estrutura computacional da nave. Para não-iniciados, parece um organograma labiríntico, cheio de informações confusas, formas geométricas variadas ligadas por tubos coloridos, mas Lucy sabe o que precisa fazer. Com seu corpo virtual, ela flutua até um corredor cilíndrico e o atravessa até chegar num cubo cinza giratório três vezes maior que ela. É o arquivo executável do Space Invaders. Lucy toca uma das superfícies do cubo e isso fazer com que uma porta exatamente quadrada se abra para ela.
Ali dentro, como num fractal, ela se vê diante de um novo organograma em 3D. O problema está aqui, em algum lugar. Centenas de pequenos cubos se entrelaçam por cilindros de cores variadas, uma estrutura aparentemente perfeita. Lucy analisa vários dos cubos, procurando uma falha, algo que não se encaixa, uma peça fora do lugar.
Não encontra nada. E se o problema não for no arquivo do jogo, e sim algo do sistema operacional? Lucy sai do cubo do Space Invaders e flutua em direção ao programa principal: um polígono de 20 lados gigante que se liga a todos os outros por meio dos tubos. Seu voo lento se deve à capacidade de seu óculos já ultrapassado, mas a vontade de solucionar esse problema tão complicado é mais forte que a obsolescência programada.
No caminho, ela vê um pedaço de cubo se desfazendo. Algum programa crashando. Será ali o problema? Um segundo depois, outro programa se destrói. Depois outro. E mais um. Que porra é essa. Em sua frente pulula uma mensagem numa janela retangular:
– Lucy SOS
É sua chefe. Mas não, não agora, por favor. Então…