Não Sei Desenhar #63 - 09/12/22
saindo no mesmo dia em que o Brasil joga nas quartas-de-final. Quero ver quem vai ler
pra quem quer se aventurar nuns vídeos longos de Youtube, segue aqui um muito bom de três horas e pouco sobre a carreira do Hideaki Anno, criador de Evangelion e outras cositas más
e outro, de só meia horinha, contando a história da Disco Music e dando todo o contexto e falando da influência dela como um todo, dos perrengues homofóbicos e daquela palhaçada do movimento Disco Sucks… esse vale a pena demais
Semana passada eu trouxe aqui a resenha de um chocolate alemão com creme de pistache que foi um grande insucesso de vendas aqui na newsletter. Só que a gente não desiste fácil. O caminho para o fracasso é curto e ele continua só que agora num outro país. Da Suíça pra Itália, terra do chocolate ao leite com pistache Doma Deli.
(a embalagem diz que é fabricado na Itália, pelo menos)
Bom, a embalagem por si só já é muito mais bonita e moderna e FANCY. É de um papelão mais grosso e tal. Esse chocolas faz exatamente o que eu pedi na última resenha: coloca o pistache no meio da barra. Não tem creme pra enganar o freguês, é tudo misturado na massa. É nessas que tu vê a diferença entre alguém que sabe fazer chocolate de alguém que embala qualquer coisa e bota um nome qualquer em alemão só pra dizer. Ele ainda não é tão crocante ou com um saborzaço de pistache como eu esperava, mas está anos à frente do Chocolate Aipim. Acho que eu tava esperando algo mais próximo do nosso Shot ou algo assim, que tem aqueles pedações de amendoim e tal. Essa barra é muito fininha pra caber pedaços graúdos de pistache, mas tem um sabor e retrogosto ali e a sensação geral é muito mais satisfatória. O chocolate em si também é menos enjoento, mesmo que ainda sendo ao leite e não amargo/meio amargo.
Na briga dos chocolates importados que afirmam trazer pistache, o Doma Deli vence com larga vantagem. Nota: 8/10.
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o grande hit da coleção verão 2022/2023 já saiu
e foi em 2005, no primeiro álbum da Rihanna
graças à minha namorada, descobri essa semana essa sonzeira: belíssimo reggae/dancehall que ela canta junto com o Vybz Kartel (nome forte da cena jamaicana) em cima de um riddim clássico
bota essa pra estourar na caixa de som debaixo de um solão de 35 graus pra ver
Andou saindo de novo por aqui SandLand, que é um mangá mais curto do Akira Toriyama que saiu originalmente em 1994. Um voluminho só, simples e direto. Eu tinha lido há miliano já, em scan, e nem sonhava que já tinha saído pela Conrad também no meio dos anos 2000. E é bem legal, tá? Mais uma aventurona clássica bem no estilo do Toriyama. Os desenhos pra variar são de chorar. Só faltou umas páginas coloridas que nem no original.
Inclusive vale ler um artigo do Ilha Kaijuu sobre questões que atravessam o mangá e que contém spoilers, algo muito mais interessante do que eu seria capaz de desenrolar aqui.
e qual não é a minha surpresa quando descubro que ONTEM MESMO saiu um teaser do que parece ser um jogo baseado no mangá, pela Bandai Namco
aqui é zeigeist porra
NO EPISÓDIO ANTERIOR: Valdir e Herivelto se brigam. Esse Herivelto é bem babaca né, vamo combinar. Foi lá e se enfiou em alguma coisa no mínimo suspeita. E o Iussuque agora perdeu as mãos. Quero ver como ele vai se masturbar pros mangás hentai que ele tem no armário de casa. Valdir segue sozinho porque pelo visto é o que restou.
Chegou a hora do final de temporada mais aguardado desde as histórias seriadas foram inventadas por alguém muito malandro.
s01e06: sangue cor de vinho
Uma memória que Valdir julga ser aleatória vem à sua mente enquanto ele bate os pés entre as palmeiras da mansão Khepresh.
Ele está no quarto da House of Scorpio, sentado na cama, à luz de um pequeno abajur preso à parede. Tinha percebido que Rosemeire, na cama ao lado, já tinha caído no sono, então pega sua mochila e de lá tira o caderno. Anota a data no canto superior esquerdo de uma página e começa escrever sobre o maravilhoso banho que tomou, sobre como fez novas amigas. Escreve como é estranho não dormir ao lado de Herivelto pela primeira vez em muito tempo. Tinha ficado muito próximo dele. Então vai para o outro canto da página e sua mente vaga para outro lugar:
“Com Herivelto eu não me importo
Estou dormindo um pouco sozinho
Mas por você, Brenda, eu tudo suporto
Pois com você eu nunca estarei sozinho”
— Você rimou “sozinho” com “sozinho”?!
Valdir leva um cagaço e fecha o caderno. Seu rosto com cor de tomate olha pro lado e vê Rosemeire, com um copo na mão.
— Você não tava dormindo?!
— Eu só levantei pra pegar uma água. Você não…
— Que bom, boa noite. — Valdir enfia o caderno embaixo do travesseiro, vira pro lado e fecha os olhos com força.
Talvez tenha saído vapor do rosto dele. Rosemeire olha para Valdir em silêncio por alguns segundos.
— Você não tem cara de quem escreve poemas.
— Eu não… eu não escrevo, é só umas coisas aí. Boa noite.
— Ei! Isso é muito legal! Não precisa se envergonhar. Não é por que você é um bárbaro que tem que ser um brucutu, sabe.
— Sim sim não não. Claro — pigarreia. — Boa noite.
Valdir apaga a luz do abajur sem olhar. Rosemeire sorri, dá um gole na água e vai pra sua cama. Deita-se e vira de costas para Valdir.
— “Vizinho”.
Um minuto se passa e Rosemeire ouve um farfalhar de tecido. Valdir puxa o caderno do travesseiro e, quase sem ver direito, risca “estou dormindo um pouco sozinho” e, com um garrancho ainda pior do que de costume, coloca no lugar “estou dormindo com um novo vizinho”.
* * *
Valdir está sujo com o sangue de pelo menos uma dezena de monstros — ele não chegou a contar. A lâmina da espada em sua mão direita está igualmente banhada de um sangue cor de vinho, pingando. Ele dá passos decididos castelo adentro, o olhar fixo no horizonte. O horizonte, no caso, é encoberto pelo prédio principal, feito de pedras úmidas, cobrindo toda a visão de Valdir. Ele mira a porta redonda de metal à sua frente e percebe o desenho simples de um polvo entalhado nela. Sua respiração tem um ritmo reto, que parece carregar seu corpo num fluxo contínuo de concentração. O polvo se aproxima dele. Talvez fosse o momento de sentir medo ou qualquer outro tipo de expectativa. Afinal, tudo indica que se aproxima a batalha com Cris, A Mãe dos Tentáculos, a Guardiã desta área da Dungeon. Mas na verdade Valdir sequer consegue pensar em outra coisa além do que vê à sua frente.
Chega diante da porta e ergue a perna direita para chutar a porta. A porta se abre no meio do movimento, o que faz ele segurar a perna e se desequilibrar um pouco.
— Seja bem-vindo, bárbaro.
A dona da voz é uma mulher de rosto redondo e pele roxa. Ela usa um dos seus tentáculos para abrir a porta, outro para segurar uma caneca, e os outros para lhe dar as boas-vindas à sua casa.
* * *
Enquanto isso, Herivelto começa os trabalhos em sua exploração solitária da Dungeon Espiral, tendo que lidar com um kit de equipamentos que são muito vistosos e bonitos mas, ele percebe, muito menos bem-feitos para o uso prático. Ainda assim, é apenas um ligeiro empecilho, nada que vá impedir sua ascensão para o topo do Khepresh.
Enquanto isso, Iussuque lida com a ausência das mãos do único jeito que sabe: instala um par de mãos mecânicas no lugar das antigas. Essas são as mãos que vão matar Valdir.
* * *
Para além de Cris, apenas mais um elemento da casa de fato dá as boas-vindas a Valdir.
Ela vê ele entrar, com as duas mãos no cabo da espada, olhando pra todos os lados, procurando por algum monstro que possa lhe atacar, por alguma armadilha que possa surgir da parede e tentar lhe arrancar o pescoço. Encontra uma coleção de espadas, machados, lanças, revólveres, escopetas, armaduras, tudo apoiado na parede de pedra por ganchos. Depois começa a prestar atenção no resto do cômodo. Tem um pé-direito baixo e é iluminado apenas por algumas tochas, favorecendo um tom soturno e potencialmente ameaçador. O que contrasta com isso é a mesa redonda que encontra logo ao entrar, e logo atrás dela uma cozinha pequena, com uma geladeira vermelha e o outro elemento que dá as boas-vindas a Valdir: o fogão de quatro bocas, cujo forno exala o aroma de pão caseiro assando. À direita da entrada, os olhos de Valdir passam pelas armas na parede e chegam em uma sala com uma poltrona e um sofá feitos de algum tecido emborrachado, ambos virados de frente para uma lareira apagada. Ao lado esquerdo da lareira, uma porta entreaberta oferece a luz parca da rua.
— Gosta de pão caseiro?
— Sim — responde Valdir, como se tivesse sido atacado pela pergunta.
— Que bom. Já tá quase pronto. — Ela vai até a poltrona, roda-a em seu eixo e senta nela, ficando de frente para Valdir, cruzando as pernas grossas.
— Como sabia que eu viria?
— Eu tenho olhos por toda a Dungeon, bárbaro. Sem contar que semanalmente vem algum idiota querer me derrotar. Você é um desses idiotas?
— Sim.
— Hmm. — Ela bebe um gole da caneca. — Aceita vinho? Eu só não ofereço taça por que pra quem tem tentáculos, canecas são muito mais práticas. Tem ali na estantezinha perto do…
— Não. Obrigado.
— Qual o seu nome? Gosto de conhecer um pouco sobre as pessoas que eu derroto.
Valdir não responde. Segue alerta como um animal ameaçado. Procura por armadilhas. Analisa as armas, imaginando se elas podem de alguma forma voar em sua direção meu deus o perfume do pão caseiro. Valdir coça o nariz, tentando expulsar o cheiro de alguma forma. Seu corpo se aproxima da salinha. Cris tenta olhar nos olhos de Valdir mas eles não param de rastrear o cômodo.
— Bom, você não parece muito afim de conversar. Então, como funciona aqui: a gente duela, ali na arena. Perde aquele que pedir para parar. Se você perder, você deixa sua arma aqui comigo. Se você ganhar, eu te deixo passar. De acordo?
Valdir pensa na proposição mas não é como se tivesse uma possibilidade diferente:
— OK.
— Ótimo — sorri Cris, e bebe mais um gole de vinho. — Vamos indo, então. Eu só preciso trocar de roupa — diz, enquanto se levanta. Ela está vestindo uma blusa e uma calça de moletom.
A Guardiã sai pela porta ao lado da lareira e Valdir a segue, em passos calculados. Chegam em uma arena redonda, de chão batido, envolta por um muro de pedras com cinco metros de altura, iluminada por algumas tochas altas e a luz da lua. Ocupando um terço do espaço da arena há um poço, com água até a boca.
— Eu não demoro — diz Cris, usando seus tentáculos para subir a mureta do poço. — Mas tem mais vinho ali, se quiser tomar enquanto me espera.
Ela se joga na água sem cerimônias. Valdir aproveita o momento sozinho para continuar fazendo o que estava fazendo. Analisa todos os cantos da arena, passa o pé pelo chão, arrasta as mãos pelas pedras da parede. Não há nada. Se dá ao luxo de embainhar sua espada e ir até uma mesinha posta ao lado da entrada, onde há uma garrafa de vinho aberta e duas canecas. Ele apoia as costas na parede e cruza os braços, esperando por Cris. Alguns minutos de nada se passam até que Valdir resolve tomar um pouco de vinho, por que não?
O vinho é doce e brilha num roxo escuro, estranhamente combinando com o sangue dos lacaios da Mãe dos Tentáculos. Valdir não costuma tomar vinho. Em tavernas, prefere beber as cervejas locais ou hidromel, quando possível. Talvez Brenda gostasse desse vinho. Parece ter a cara dela. Ela gostava de beber alguma bebida, Valdir não se lembra qual. Provavelmente tequila, ou saquê. Ou uma daquelas misturas de bebidas com frutas. Talvez ele devesse tomar vinho mais vezes. Bebe mais um gole longo.
Um som atrapalha o gole, quase fazendo Valdir cuspir tudo. Cris surge na mureta, num pulo, apoiando perfeitamente os pés e trajando uma armadura brilhante de escamas azuis-esverdeadas. A armadura cobre seu tronco e forma um conjunto com as ombreiras, com as botas que vão até o joelho e com um elmo fino que cobre sua testa e suas bochechas. Na ponta de cada um dos seus oito tentáculos de quase dois metros de comprimento há uma adaga com uma lâmina de marfim reluzente.
Valdir puxa sua espada da bainha e põe-se em posição de luta. Cris, a Mãe dos Tentáculos, desce da mureta economizando movimentos. Os dois analisam o adversário, cada um ao mesmo tempo esperando um primeiro ataque e se preparando para atacar pela primeira vez. As lâminas dançam no ar.
Um plimm anuncia: o pão no forno está pronto.
Corta para a manhã seguinte.
Valdir acorda com a luz do sol dissolvida pela janela amarelada. O silêncio é recortado apenas por uns poucos silvos aleatórios de passarinhos. Onde ele está? Não lembra o que aconteceu. Seu corpo tenta se acostumar à situação nova. Está coberto pelo toque suave de um lençol branco muito fino. Está completamente nu. O silêncio agora é destruído por um ronco vindo de seu lado esquerdo. Vira a cabeça e encontra Cris, com seus oito tentáculos estarrados pela cama — um deles por baixo do seu pescoço. Ela está completamente nua. Há uma mancha de suor na cama embaixo deles.
Um grito de desespero vem do âmago de Valdir e toma conta de seu corpo inteiro.
* * *
A água ferve e um vapor brilhante sai da chaleira. Dois saquinhos de chá-verde com hibisco e raspas de tangerina aguardam o líquido em duas canecas. Uma delas tem uma estampa cheia de corações. Sobre uma mesinha de madeira, e ao lado de fatias perfeitas de um pão feito artesanalmente, as canecas são preenchidas.
Ela coloca a mesinha entre duas cadeiras de alumínio e tecido e se prepara para sentar, quando seu parceiro sai de dentro da tenda que eles dividem. Ele ergue os braços, espreguiçando-se.
— Bom dia, querida.
— Bom dia, Momô.
Eles se beijam calmamente. Ele se dirige até o riacho próximo, enquanto ela se senta na cadeira e estica as pernas. Dá uma mexida no chá, e bebe um gole assim mesmo. Perfeito. Brenda observa o cenário iluminado pelo sol amarelado no horizonte. As montanhas azuladas mais ao fundo, os morros verdes que envolvem a vista. Ela sorri. Não precisa de mais nada.
つづく…?