Mais uma canetada da Fabiane Guimarães em seu Substack, sobre escrita e criatividade
Um resumo mais ou menos sucinto do som da banda gaúcha Conflito é Replicantes + Wipers. Tem um lance bem punk rock, simplaço e pesado, uma tosqueira nas letras, mas ao mesmo tempo um clima esquisito e meio dark que parece vir de um pós-punk oitentista.
Ainda em sons mais pesados, tem o novo do clipping.. Aqui os caras levam o rap deles pra um instrumental que puxa bastante pra um electrofunk a la Afrika Bambaataa, e às vezes até pegando coisa de big beat, mais anos 90. Bem interessante como sempre o som deles
Sabe como antigamente, principalmente em filme gringo, as pessoas se reuniam com amigos e família pra passar slides de coisas e assistir a fotos juntos? E ficavam fazendo reacts ao vivo das fotos (pra usar termos que a galera mais nova possa entender)? É mais ou menos o que eu vou fazer a partir de agora aqui nesse post, então se tu já estiver de saco cheio antecipadamente, muito obrigado e até a próxima.
Pra quem resolveu ficar, fique sabendo que minha namorada e eu fomos pra Curitiba! Eu posso provar através de fotos.
A gente teve o privilégio de dropar um café da manhã muito assertivo no Lucca, que foi o suficiente pra nos dar energia até a hora da janta (a gente dormiu a tarde inteira). Eu pedi um croque monsieur e a Jéssica pediu um croque madame, reforçando assim estereótipos de gênero.
Impressionante que esse lugar exista venha ganhando prêmios desde pelo menos 2004, uma época em que café realmente bom nem tinha sido inventado ainda, todo café era Melitta ou no máximo Iguaçu solúvel.
Nós visitamos o Jardim Botânico, que é um lugar onde botam várias plantas juntas diferentes pra conviver e uma fica querendo aparecer mais que a outra, disputando a nossa atenção. Algumas são mais bonitas, não dá pra escapar disso.
Aqui uma foto em que eu concordo com uma planta muito bonita:
Só senti falta de ver uma drosophila melanogaster. O que é muito estranho porque eu tinha esse nome na cabeça achando que era de planta mas é o nome científico da mosca da banana. Não dá pra ter tudo.
Aqui uma foto em que eu concordo com um desenho muito bonito de uma planta, muito impressionante o que anos de treino e observação podem fazer pra habilidade de pintura de uma pessoa:
Aqui uma foto em que eu e a Jéssica fazemos carão diante da estufa por nenhum motivo em particular:
é só porque a gente é bonito mesmo
A gente também foi conhecer a Ópera de Arame que, sinto informar, não parece ser feita de arame. Ou foram muitos arames juntos. Mas não tem como. QUAL arame eles usaram? Aquele de fazer cerca ou aquele de amarrar saco de pão? Nenhum deles parece ser o suficiente. E os caras ainda querem botar uma ópera ali no meio, que arame que vai aguentar essa estrutura toda? Estão querendo enganar você, turista.
Aqui uma foto em que eu concordo com um marreco muito gente boa que vive por lá
Ali também tive a honra de realizar o sonho molhado de todo jogador de RPG de mesa: descobri como funciona um dado de 12 faces por dentro. Uma experiência psicodélica que a ciência e a linguagem não são capazes de descrever apropriadamente; uma viagem louca onde eu me senti sendo transportado pra um mundo imaginado enquanto sou arremessado pra lá e pra cá por um grupo de pessoas numa mesa de proporções titânicas.

Também tinha dois caras tocando um jazz com a preguiça que só a extrema habilidade técnica pode oferecer. Eles moram nessa pequena ilha com uma tenda e umas caixas de retorno e mais nada. E ainda precisam tocar pra um bando de turista que só tá ali pra fazer de conta que eles não existem enquanto comem um almoço superfaturado. Nesses caras o Jaime Lerner não pensou. Isso que é foda.
Na frente da ópera de arame ainda tem lojas oferecendo Licor de Merda. O que, claro, é razoavelmente engraçado e “curioso” por si só, mas a ideia de comprar isso pra dar de presente pra um amigo é a definição de humor de hétero resenha1. É o Gemidão do Zap versão souvenir.
Também fomos conhecer o Estádio Couto Pereira, onde esperávamos ver algo tipo um Coritiba x J. Malucelli (RIP) mas por algum motivo encontramos um exército de pré-adolescentes e seus pais. Elas tomavam o entorno do estádio, com faixinhas na cabeça e camisetas de um tema muito específico. Dentro do estádio, não vimos a cor da grama do campo, mas tinha um palco com três telões e caixas de som gigantescas. Achei estranho.
Eis que do nada começa a tocar a St. Vincent. Foi um show infelizmente muito curto, mas fiquei surpreso que as pré-adolescentes todas curtiram o show na medida do possível. Por mais que o som da St. (intimidade) seja pesado e tenha sua bela dose de estranhice, ainda consegue ser bem pop. O som dela é quase que um cruzamento de Nine Inch Nails com Queens of the Stone Age fase pós-Nick Olivieri e, com mais ênfase, Prince. Cheia de guitarrinhas safadas e um groove que não quer ser groove, o que parece ser bem proposital até. Ela comanda o palco, dança de seu jeito peculiar, é bem showwoman nesse sentido. Pena que quando o show acabou quando parecia estar numa ascendente. Fechou com Sugarboy (a mais I Feel Love dela) e depois essa:
E não é que depois começou, vejam só vocês, um show da Olivia Rodrigo????
Eu que nunca nem sequer tinha ouvido falar dela, me surpreendi com um show da rolando na minha frente como quem não quer nada. E pô, que show.
É claro que dentro dos parâmetros que eu já esperava: é um show puramente pop e espetaculoso. Ela usa bem os telões, interage com a câmera, arrisca uns passos de dança na medida do possível. Mas vendo o show eu percebo que a proposta dela é puxar pra algo mais anos 70, um pouco dessa estética do americana, músicas do Fleetwood Mac, macacões com brilho, até chegar no roque brega pop-punk desavergonhado. As letras falam de suas experiências adolescentes de uma maneira frontal e genuína, ainda que com um verniz poético que parece reiterar os sentimentos. Mesmo quando ela é bem-humorada e vê as coisas com as contradições que elas implicam, nunca é com ironia exatamente, é tudo muito sobre a bagunça de ser uma jovem e os exageros todos da idade. E em refrões poderosíssimos, claro.
Eu não lembro quando foi a última vez que eu fui num show deste tamanho, mas a profusão de gritos de crianças à minha volta fez o som do começo do show parecer baixo, provavelmente pra não incomodar os vizinhos - o que não poderia ser a coisa menos adolescente a se fazer. Mas tudo funciona muito direitinho. Eu tinha me esquecido de como eu gosto desses momentos de compartilhamento de experiências assim, socialmente, em grandes galeras, perceber a emoção dos outros e fazer parte daquilo. Aquelas coisas que artes coletivas proporcionam, como o cinema. Vi muitas meninas que se filmavam cantando as músicas, mas elas claramente tavam curtindo, e por mim tudo bem. Sei lá qual o interesse disso pra quem for ver, mas tá valendo. O som da Olivia parece ser muito, como diria o filósofo, sobre isso.
mais sobre o conceito de “hétero resenha” na edição 127 desta mesma newsletter