Gostas de ler uma palavra depois da outra? De maneira que essas palavras formem frases? Que formam parágrafos? Que formem páginas e páginas inteiras de, quem sabe, uma história? Uma história de ficção? Ficção, digamos, científica? Uma ópera, quem sabe? No espaço? Pois não perca tempo: adquira já sua cópia de Fronteiras Siderais, coletânea da Editora Mundo que tem um conto meu e vários outros de uma cacetada de gente do mais alto calibre do sci-fi nacional, e que tá em situação de financiamento coletivo no Catarse. Depois não diga que eu não avisei.
Jeanne Dielmann, 23, quai du Commerce, 1080 Bruxelles (da Chantal Akerman, 1975) é, de fato, um filmaço, mas eu não sei o quanto mais eu tenho a acrescentar sobre ele que todo mundo no Letterboxd já falou. Mas é incrível como ele de fato parece não ter uma história, mas ela tá ali, o tempo todo, sendo desfraldada na nossa frente. Em gestos minúsculos das situações cotidianas, na forma da protagonista ler a carta da irmã, na expressão dela enquanto corta batata, na expressão que a gente não vê quando ela lava louça. No detalhe obsessivo da forma como ela faz tudo no seu dia-a-dia. Tudo isso faz o final do filme ganhar mais força em retrospecto: o resultado do que acontece já tá ali se formando aos poucos, escondido na beleza da simplicidade.
Tem na Filmicca.
No mesmo fim de semana que eu vi esse, também tirei da minha Lista Da Vergonha™ Lawrence da Arábia (1962, do David Lean), e é curioso notar as diferenças de propostas de dois filmes tão longos. Esse aqui sim, claro, um épico. As imagens imaculadas do deserto, o poder quase mágico do que a câmera do Lean consegue extrair daquele local, ao mesmo tempo em que a busca por uma identidade e a sede pelo poder vão sendo tolhidas por poderes muito maiores e fora do escopo da ação de um homem só - e é nesse ponto que os dois filmes contrastam de forma mais ampla mesmo, ainda que óbvia.
Ambos os mundos são mundos dominados por homens. Pra Jeanne Dielmann, há o que se fazer, de certa forma. Pro Lawrence, só resta aceitar o que foi decidido pra vida dele, e largar a vida. Pra Jeanne Dielmann, uma certa esperança torta, uma ansiedade que se resolve apenas num ato momentâneo. Pro Lawrence, se matar parece a saída de uma vida confusa e complexa, onde ele parecia não se encaixar direito em lugar nenhum.
Simplesmente RIP demais David Lynch. A homenagem que eu podia fazer a ele, eu fiz quando ele ainda tava vivo: imaginei como seria um compacto de melhores momentos de Brasil x Sérvia na Copa do Mundo de 2022 pela visão dele.
Aliás: e a história da série que ele dirigiu depois de Twin Peaks mas que ninguém nem sabe da existência direito??? Uma sitcom sobre a produção de um programa de TV
Essa época ainda é de resgatar alguns álbuns de 2024 que me passaram despercebido, como por exemplo:
O do The Body junto com a Dis Fig, doom metal/noise que bebe no Merzbow como bebe no post-hardcore como na Björk e no Radiohead e por aí vai
Esse EP do Fcukers, indie eletrônico bem divertido
E 2025 já teve o álbum de estreia das Lambrini Girls, punk-rockzão sem muita firula, meio bobo mas simpático
Agora, a última parte do emocionante quadrinho de qualidade extremamente duvidosa que eu comecei a cometer lá no começo de dezembro e estou acabando bem a tempo do Natal! Tudo dentro do esperado. Pra quem não leu ou quer relembrar, prestigie a primeira parte aqui e a segunda parte aqui. Junte sua família, leia para seus filhos antes de dormir, mostre a história para sua avó, vamos ser felizes juntos.
Feliz Natal a todos!!!! Que 2025 comece com paz e calmaria, e que não vejamos a ascensão das big techs como braço direito do fascismo trumpista