Não Sei Desenhar #16 - 14/01/22
hoje é o novo dia de um novo tempo que começou? A resposta está logo abaixo
“It ain’t a fuckin’ job. It’s a mission. It pleasantly haunts you day and night”
(“Não é uma porra de um trabalho. É uma missão. Ela prazerosamente lhe assombra dia e noite”.)
Madsaki sobre arte. Pintor contemporâneo da pop art japonesa que faz obras como essa:
E por falar em pop art japonesa, por que não um anime curtametragem em CG feito em 1995:
Na Vox, um artigo que tenta descobrir porque as séries e filmes hollywoodianos atuais andam tão escuros e com as cores tão apagadas. Ou, como dizia o nome daquela lista do Letterboxd, “filmes com cara de cimento molhado”. É uma moda horrível e muito esquisita mesmo. O artigo não chega a nenhuma conclusão, mas dá algumas possibilidades.
A minha impressão é que a galera quer aproveitar as possibilidades do DYNAMIC RANGE das câmeras atuais, que podem captar muito mais luz nas cenas escuras, e consequentemente mais cinzas… mas só isso por si só não explica. No fim parece só preguiça e falta de criatividade mesmo. Mas o que esperar de Hollywood né?
E você, o que acha? Concordas? Discordas? Aceitas pix? Clique no botão colorido abaixo e deixe sua opinião porque ela é muito importante para nós, estamos aqui para oferecer sempre o melhor a vocês.
O ano já começou com pelo menos dois sons bem interessantes. Primeiro os fogos Primeiro tem o Thom Yorke e o Johnny Greenwood do Radiohead se juntando com o baterista do Sons of Kemet Tom Skimmer pra formar o The Smile e meter um pós-punk cruzão assaz aprazível.
Depois um remix do DJ Shadow pra um som do King Gizzard & The Lizard Wizard do ano passado (de um dos trezentos e noventa álbuns que eles devem ter lançado nos últimos seis meses).
VOCÊ É UM DEFUNTO MECÂNICO é um jogo-conto gratuito na Steam feito pelo Virgula Leal. É curto, simples, direto e bem feito. Porém ainda tô pra jogar a maior OBRA dele que é o IRMÃO Grande & Brasileiro 2.
“Nossa! Essas recomendações foram tão boas que eu até vou compartilhar essa newsletter com TODOS os meus amigos” - você, indo clicar no botão de Compartilhar abaixo:
Ezequiel - parte 2
(a parte 1 se encontra na edição #14 desta newsletter)
Acordou mais cedo do que de costume, se vestiu mais de qualquer jeito do que de costume e saiu da pousada sem tomar café da manhã. No horário que imaginou que o comércio abriria, Ezequiel andou apressadamente pelo chão de paralelepípedos enquanto colocava sua jaqueta, com uma dificuldade que fazia parecer com que ele tivesse mais braços que um ser humano normal.
Chegou na rua da farmácia e encontrou o movimento vagaroso dos transeuntes, que iam pro trabalho quase no mesmo ritmo que os prédios centenários que tomavam conta da cidade. No meio desses prédios, ao lado de uma placa luminosa amarelada que dizia “Rádio Maravilha”, encontrou a farmácia do Matias. Para sua surpresa, o portão de metal de cor escura estava fechado. Olhou em volta e percebeu que era o único estabelecimento ainda fechado. Então percebeu que se aproximava dele um homem magro, completamente careca e, mais importante, usando um guarda-pó branco. O homem deu um “bom dia” de qualquer jeito, com uma voz meio rouca de quem acordou há pouco tempo, puxou um molho barulhento de chaves e com ele ergueu o portão de metal, que abriu um berreiro que parecia ser um “bom dia” dado por um animal desesperado.
O homem entrou e rapidamente acendeu as luzes azul-tristeza da farmácia. Ezequiel entrou lentamente pelo local, observando a vitrine de remédios sem ver nada em específico, notando os armários de madeira antigos e empoeirados e a balança de ponteiro, amarelada, num canto ao lado da entrada. Como toda pessoa que entra numa farmácia sem muito assunto a tratar, Ezequiel subiu na balança. Viu seu peso, não gostou do resultado, mas o que começou a se tornar um pensamento sobre essa questão sumiu quando o homem careca surgiu ao seu lado e respirou fundo.
- Pois não. – disse o homem, secando as mãos no guarda-pó.
- Oi! Você é o Matias, por acaso?
- Sim.
- Oh!
Ezequiel olhou pra ele, procurando traços de si mesmo no rosto do homem. Ele era muito magro, os olhos eram muito azuis e a ausência de pelos chamava a atenção. Era o oposto de Ezequiel.
- Meu nome é Ezequiel.
- Certo.
Matias olhava pra ele com um olhar de alguma curiosidade. Houve um momento de silêncio.
- Quer alguma coisa pra emagrecer?
- O quê? Não! – Ezequiel desceu da balança. – Então, eu, hum, eu ouvi dizer que o senhor perdeu um filho.
Matias fechou a cara completamente. No rosto dele surgiram rugas até então impossíveis de serem descobertas. Só então Ezequiel se deu conta de que não era um assunto fácil.
- Sim. Perdi. Por quê?
- Então... – Ezequiel se contorceu. – Eu... acho que posso ser... seu filho?
Matias ficou olhando pra ele. Apertou mais um pouco os olhos. As rugas criavam um desenho pesado sobre o rosto do homem. Então fechou os olhos.
As rugas todas sumiram, e Matias respirou fundo.
- De onde você tirou isso? – perguntou, por fim.
- Bom, é que eu vim aqui pra Maravilha do Sul procurar o meu pai. E me disseram que o senhor perdeu um filho. – Ezequiel disse com um sorriso amarelo.
- É, eu perdi, sim. Mas...
Matias parou.
- Olha só, quer um café? Ainda não tive tempo de passar.
Ezequiel fez que sim com a cabeça. Matias o levou para a copa e lá começou o processo do café na cafeteira elétrica.
- Você é de fora, né? – perguntou Matias enquanto pegava o pacote de café. Abriu-o e dele subiu um cheiro de café velho, o cheiro da ausência de sabor.
- Sim. Eu vim da capital procurar meu pai.
- Você nunca esteve em Maravilha do Sul antes?
- Nunca. Quero dizer, só quando criança, mas não me lembro de nada. A minha mãe me criou na capital.
- Quem é a tua mãe?
- Marta. Marta Boaventura.
Matias olhou pra cima, tentando se lembrar. As rugas voltaram.
- Não lembro desse nome.
- Oh.
Matias sentou-se numa banqueta. Pareceu criar coragem para falar:
- Então. Você sabe guardar segredo?
- Se tem uma coisa que eu sei é guardar segredo. – disse Ezequiel com a confiança dos equivocados.
- Ótimo. Eu preciso te contar que... bom, meu filho não desapareceu.
- Não?
- Eu contei pras pessoas que ele desapareceu. Todos acreditaram que ele desapareceu. Até que eu pedi pras pessoas e pra polícia pararem de procurar. A verdade é que eu vi ele morrendo.
- Meu deus!
- Sim.
Matias falou aquilo com um ligeiro sorriso no rosto. Um sorriso de alívio, de alguém que podia falar minimamente sobre um assunto que não podia falar abertamente por aí.
- E como ele morreu?
Matias olhou para Ezequiel. O pouco sorriso que havia surgido sumiu do rosto dele. Haveria silêncio se não fosse pelo ronco da cafeteira terminando o café. E também por um outro estrondo vindo da entrada da farmácia. Um som grave, quase um trovão que ecoou pelo estabelecimento inteiro e possivelmente pelo resto da rua. Uma voz que disse:
- Hoje é dia de aluguel, Matias!
Matias levou um susto e se levantou da banqueta, se dirigindo à frente da farmácia. Ezequiel o seguiu e percebeu de onde veio a voz. Um homem de quase dois metros de altura, largo, com um bigode portentoso e um cabelo grisalho cuja franja era dividida ao meio. Trazia consigo um caderno meio torto com capa de surfe debaixo do braço suado de sua camisa.
- Esse aí é alguém que pode te ajudar. – disse Matias a Ezequiel. Depois se voltou para o homem. – Bom dia, Cláudio.
- Bom dia, meu querido Matias! – disse Cláudio, sorridente, dando um tapaço no ombro de Matias e fazendo-o se desequilibrar. Matias respondeu com um sorriso amarelo. Ezequiel imaginou que eram velhos amigos, ou algo nesse sentido. Do mesmo modo, a voz de Cláudio entrou na cabeça de Ezequiel como se balançando ela e a obrigando a acordar. – E esse rapaz, quem é?
- Ah, o meu nome é Ezequiel. Eu vim pra cá à procura do meu pai.
- Ah é? Mas que beleza. Que informações tu tem sobre ele, meninão?
Matias foi ao caixa, retirou um bolo de cédulas e o entregou a Cláudio.
- Bom, nenhuma. Achei que poderia ser o Matias, mas o filho dele...
- Aqui o dinheiro, Cláudio. – interrompeu Matias. Depois fuzilou Ezequiel com um olhar. Ezequiel não percebeu.
- Brigado, meu anjo. Ô rapaz, sabe a rádio aqui em cima? Eu sou o dono dela. Vamos te botar no meu programa, a gente faz um auê em cima disso, com certeza a gente acha o teu pai. Que tal?
Os olhos de Ezequiel brilharam e um sorriso surgiu em seu rosto, deformando-o.
- Emoção! Diversão! Informação! – falava um coral de vozes gravadas liderado por uma voz feminina, enquanto ao fundo tocava uma animada música feita somente em teclado e que parecia ter sido criada nos anos 90. – Programa... Cláudio Bandeirante!
- Muito bom dia, Maravilha do Sul! Maravilha é estar com você todo dia. – a voz de Cláudio tomou conta do estúdio e, indiretamente, de toda a cidade.
Ezequiel nunca tinha estado numa rádio antes, e se balançava na cadeira de um lado pro outro, empolgado com a música e com a situação. Ele e Cláudio estavam numa sala com uma mesa circular cheia de microfones, que parecia pequena demais mesmo com apenas duas pessoas ali. Do outro lado, através de uma janela espessa, viam uma menina com o rosto cravejado de espinhas e um fone de ouvido que parecia maior que sua cabeça mexendo em botões numa mesa de som. Ela bocejou.
- Especialmente para Velas Essencial, a loja da Laila! E também para Doutora Micaela O’Hara, clínica geral e esteticista, estamos começando mais um Programa Cláudio Bandeirante. E hoje nós temos aqui uma participação muito especial no nosso programa...
Cláudio fez uma pausa e a música de fundo mudou rapidamente, mudando pra uma vinheta ainda mais animada com o coral cantando:
- Participaçãããooo... especial!
- Estou aqui com o meu amigo...
- Ezequiel. – ele respondeu apesar de seu microfone estar desligado. – Boaventura.
- Ezequiel Boaventura! Esse rapaz bonito veio de muito longe aqui pra nossa cidade, porque ele está vivendo um drama.
A música mudou novamente. Entrou um piano melancólico. Ezequiel olhou pra menina espinhenta e se perguntou como ela conseguia trocar de música sendo que ela parecia estar dormindo de olho aberto.
- O Ezequiel... – pausa dramática. – O Ezequiel veio da capital para Maravilha do Sul à procura de seu pai. – violino dramático. – O nome da mãe dele é Marta. Ele não sabe quem é seu pai. Ele e eu temos a mais absoluta certeza de que seu pai está aqui, entre nós. Ele pode ser um de vocês. Se você por acaso vive uma história semelhante, o outro lado desta história, venha até a rádio. O Ezequiel estará aqui na rádio todos os dias à tarde esperando por você.
Ezequiel não tinha concordado com aquilo. O violino subiu e ficou mais dramático.
- Sabemos que é uma situação complicada. Sabemos que você pode estar sentindo culpa, remorso, o que quer que seja. Mas o Ezequiel está aqui, pronto pra te perdoar.
Ezequiel fez que sim com a cabeça, muito atento.
- São águas passadas. O que importa é que uma família vai se reunir novamente. Eu tenho uma família, sei como é sentir saudade. O que importa é que uma família vai se reunir depois de... – Cláudio olhou para Ezequiel.
- Vinte e cinco anos. – disse Ezequiel com o microfone desligado.
- ... trinta anos de tristeza e melancolia! – o violino subiu, ainda mais dramático. A menina bocejou de novo. – Que história, meus amigos e minhas amigas. Como eu disse, então, meu querido pai... – Cláudio colocou a mão no ombro de Ezequiel e apertou com uma força que fez Ezequiel se contorcer e quase cair da cadeira. - ... se você perdeu um filho, ele estará aqui na rádio, na seção de Achados E Perdidos, todos os dias à tarde, esperando pela visita que vai mudar tanto a sua vida como a dele.
O violino subiu mais um pouco e aos poucos foi diminuindo. Cláudio baixou a cabeça e fechou os olhos.
- Drama pessooaaal! – cantou o coral ao som de uma música animada numa nova vinheta.
- Oferecimento: Mercado Maravilha! Quarta-feira dos legumes com as melhores promoções para sua família! Confira... – dizia um locutor numa outra gravação.
E então Ezequiel deu uns pulinhos quase imperceptíveis de ansiedade e passou a tarde na rádio.
Primeiro, veio o padre. Não era bem o tipo de “pai” que ele estava procurando, mas o homem de mullets ofereceu preocupação, ajuda e alento na igreja. Ofereceu também um CD da sua banda. Depois, veio um policial de respiração pesada, que anotou algumas informações vagas que Ezequiel passou, meio que de saco cheio, terminou falando que “qualquer coisa é só chamar” e saiu pra conversar com Cláudio sem se despedir de Ezequiel. Depois, veio uma mulher. Ezequiel de início ficou imaginando que ela poderia ter feito a transição de gênero mas na verdade era apenas uma senhora preocupada com ele, que lhe ofereceu um cartão de 50 reais de brinde em seu mercado. Logo depois que ela saiu, escorregou para dentro da porta fechada do estúdio um cartão de visitas. Dizia “Pedro Reis – Detetive Particular”. Ezequiel olhou rapidamente pra janela que dava pro corredor e viu deslizando pra fora um homem cujo chapéu deixava uma sombra sobre seu rosto. Depois, veio um homem que usava um blazer azul amassado, sem camisa. Com ele, o seguinte diálogo ocorreu:
- Você é meu pai?
- O quê? Não, eu que tô procurando o meu pai. – disse Ezequiel.
- Ah é? Então você é meu filho?
- Não sei, sou?
- Eu não tenho filhos.
- É, então... – disse Ezequiel, já cansado.
- Eu tenho uma filha.
- Ah.
- Na verdade, é um bicho de estimação. Uma cacatua.
- Que legal.
- O nome dela é Leonor. Ela tinha um armazém de secos e molhados.
- Sei.
- Vamos fazer o seguinte. – o homem se ajeitou na cadeira. – Eu vou usar o meu poder pra te ajudar a encontrar o teu pai, beleza?
- OK...? – Ezequiel franziu o cenho.
- Certo. – O homem ergueu a cabeça e fechou os olhos. – Preciso que você feche os olhos.
Ezequiel fechou os olhos. Ficou assim por alguns segundos até que levou um tapa na cara que quase o derrubou da cadeira.
- Feito! Não precisa me pagar, não uso meus poderes pelo lucro. Daqui a pouco teu pai vai aparecer. - se levantou e saiu.
O sol estava se ponto quando Ezequiel saiu cabisbaixo da rádio e seguiu para a pousada. Com o céu mais escuro, viu no céu o que parecia ser uma estrela cadente verde – um verde como o de um vagalume, muito forte. Durou pouco tempo, só o bastante para chamar sua atenção e depois fazê-lo voltar à frustração do dia.
Com o corpo arqueado sobre o prato, Ezequel jantava com Calculadora e Sabrina, sua filha pré-adolescente, na pousada. Houve mais tempo de silêncio do que era considerado confortável para um jantar, até que Calculadora olhou para Ezequiel com seus óculos enormes e sua monocelha retangular arqueada.
- Eu ouvi o programa do Cláudio hoje. – disse, por fim. – Daqui a pouco teu pai aparece, rapaz. Não tem muita gente na cidade. Com certeza ele ouviu.
Ezequiel deu um sorriso amarelo de agradecimento e fez que sim com a cabeça.
- Não vai ser fácil. – disse Ezequiel.
- Nada é fácil nessa cidade. – resmungou Sabrina.
- Nada é fácil. – disse Calculadora. – Come a cenoura.
- Não tô a fim. – disse a menina, a cabeça abaixada como se quisesse ser sugada pra dentro do prato de maneira que isso a levasse pra qualquer lugar que não fosse aquela casa.
- A tua mãe fez a cenoura pra tu comer. Tu precisa comer a cenoura.
- Não tô a fim. – levantou a voz um pouco.
- Sabrina... – alertou Calculadora. – Come a cenoura senão eu desmonto a tua bicicleta.
- Foda-se.
- O quê?!
- Ah, bicicleta! – disse Ezequiel, olhando para Sabrina. – Foi você então que eu vi saindo de bicicleta ontem à noite assim que eu cheguei aqui, né?
Sabrina franziu a boca, arregalou seus olhos verdes, mirou em Ezequiel e lançou um tiro de bazuca invisível que faria ele explodir em vários pedaços minúsculos e consequentemente nunca mais olhar pra cara dela, se ela pudesse. Calculadora bateu os talheres no prato.
- Como é que é? Tu saiu de bicicleta ontem?! Tu tava de castigo, Sabrina!
- Foda-se! Eu não aguento mais ficar presa nessa casa!
- Pois agora mesmo é que tu vai ficar presa! – Ele se levantou e apontou pra fora do cômodo, berrando. - Vai já pro teu quarto e não sai de lá tão cedo!
- Tu não manda em mim!
Sabrina jogou seus talheres sobre a mesa e desapareceu dentro de casa. Calculadora ficou de pé, olhando pra ela.
- Enquanto tu morar na minha casa, mando sim!
Ezequiel ficou observando a cena de olhos arregalados e comendo. Às vezes olhava pra outros lugares que repentinamente lhe chamavam mais atenção mas eventualmente voltava. Quando o turbilhão passou, apontou para o prato de Sabrina.
- Hã... posso comer o resto dela?
- Ah, quer saber? Foda-se tu também. Sai da minha casa.
- O quê?
- Sai daqui, não quero saber de gente de fora na minha casa.
- Mas você é dono de uma pousada!
- Tu sabe onde é o teu quarto, pega a tua mala e boa noite. E nunca mais dê pitaco na vida da minha família.
Disse isso e saiu também. Ezequiel ficou se perguntando se poderia continuar jantando. Supôs que sim. Terminou seu prato, comeu as sobras de Sabrina e depois foi juntar as suas coisas.
Às oito da noite, se viu sozinho diante da pousada de Calculadora, olhando pra todos os lados da rua como quem abre o capô de um carro e espera que isso vai consertar o problema do veículo. Tinha que ir pra algum lugar, mas não sabia pra onde. E todas aquelas pessoas que ofereceram ajuda? Será que ajudariam mesmo, naquele momento? Ou em qualquer momento que fosse?
Saiu andando a esmo por Maravilha do Sul. A cidade de repente pareceu grande demais para ele.
* * *
Zélio olhava a TV mas não assistia. Olhava para o nada.
- Sabe quem era Boaventura? – disse, quebrando seu silêncio. Márcia olhou para ele. – O general.