VOU TER UM CONTO PUBLICADO!
E não vai ser aqui na newsletter. Vai sair na coletânea de space opera Ecos do Espaço, da Editora Mundo. Meu nome vai estar lá encardindo a bibliografia de gente do calibre de Roberto de Sousa Causo e Gerson Lodi-Ribeiro, nomes clássicos do sci-fi nacional. É mole?
Em breve mais infos sobre como comprar o livro e etc mas fiquem com essa por enquanto
Se tem um plano que resume Retrato de Uma Jovem Em Chamas (2019, da Céline Sciamma) é aquele em que a menina usa como referência pra costura uma flor que já morreu. Na imagem que ela borda, a flor ainda é vibrante. A arte enquanto memória, enquanto busca de momentos mais felizes, mesmo quando a realidade se impõe com toda a tristeza que isso implica. Nesse filme, a arte não é uma busca pelo realismo, pelo registro da concretude do momento, ela quer algo mais. Que nem as personagens. Cada plano acaba parecendo uma pintura da época em que o filme se passa. Cenas pequenas em escopo, em movimento, mas tudo bem ajeitadinho.
A edição do filme não usa o subterfúgio de mostrar um retrato pintado de uma personagem pra em seguida cortar pro rosto dela, pedindo automaticamente por uma comparação entre as duas pessoas, o retrato e a retratada. Quando ele apresenta uma obra, ela o faz dando-nos algum tempo pra frui-la (incluindo aí também a música), e com frequência corta pra reação das personagens. Porque essa é a parte que importa pra Sciamma. As emoções das personagens perpassando a arte e vice-versa.
O trecho inicial do filme parece fazer referência a Um Corpo Que Cai, em que a protagonista fica buscando a imagem da sua obsessão mas só encontra um cabelo loiro espiralado.
Os pouquíssimos personagens homens que aparecem não só não ajudam as personagens como atrapalham. Parecem atrapalhar só pela mera presença mesmo, trazendo consigo a força da tristeza que eu citei lá em cima. O que resta pra essas personagens é aproveitar aquele momento ao máximo porque ele é o último delas juntas, porque o futuro é fantasmagórico como na imagem que a Marianne vê da Heloïse. Daí a importância da arte como memória.
e que porra é essa de passar maconha no suvaco galera
uma questão importantíssima trazida pela Maré Odomo
Essa semana eu andei ouvindo de novo Death Grips, banda essencial do rap dos anos 2010, e consequentemente me lembrei daquela que é quase que a banda mãe deles, o Dälek. Uma mistura de batidas boombap pesadíssimas com dissonância, barulheira de guitarra, eles começaram no final dos anos 90 e é como se fosse um Jurassic 5 do mal. O álbum clássico deles é esse de 2002:
mas qual não é a minha surpresa ao descobrir que eles lançaram um álbum agora em maio? E seguem brabíssimos:
recentemente caiu no meu colo um som recente do Death’s Dynamic Shroud e o álbum mais recente (com o Galen Tipton) é meio que um hyperpop, hardstyle, eletrônico correria, lotado de samples curtíssimos e tortos, mas com batidas bem variadas
aí fui ouvir um álbum anterior deles e lembra um pouco isso tudo, mas eles dobram a aposta (retroativamente) na melodia, soa às vezes como musical da Broadway, além de Electric Light Orchestra. Por mim tudo bem
agora pra quem tá atrás de algo mais calminho, tem esse álbum do Batsumi, afro jazz dos anos 70
A única coisa a se fazer, na situação atual, é jogar Space Invaders. Lucy fez tudo que precisava pela manhã. Sua chefe provavelmente está analisando todos os cantos possíveis da nave, procurando problemas, ocupando o tempo. Lucy já não se pergunta mais sobre a necessidade de fazer isso todo dia. Mas ela que brinque à vontade. Tudo bem que alguém tem que fazer o trabalho sujo: só Lucy e sua chefe habitam a nave. E Lucy sabe o quanto sua chefe pode ser detalhista e controladora. O que resta para ela agora, além de jogar Space Invaders?
A nave de carga está em órbita de um planeta abandonado por mais de um ano agora, e Lucy prefere focar em bater seu próprio recorde no videogame a ficar desesperada por aí procurando afazeres. Ela sabe que está tudo certo com a nave. Ela sabe. As provisões estão em dia, o oxigênio é o suficiente, nada está quebrado.
O Space Invaders desaparece da tela do monitor. As luzes da cabine inteira se apagam. A nave inteira parece se desligar. O ruído branco insistente do maquinário some. Cinco segundos depois, tudo liga de volta. Foi como se a nave precisasse recuperar o fôlego. Lucy sabe que está tudo certo com a nave. Mas levou um susto: isso nunca tinha acontecido antes.
Agora fica a questão: