Não Sei Desenhar ɷ103 - 15/09/23
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Não sei se eu já falei aqui o quanto eu gosto do Rumours, do Fleetwood Mac, mas o fato é que é uma obra-prima do pop dos anos 70. Vindos de um grande álbum anterior, esse de 77 é uma sucessão imparável de hits, várias pérolas cheias de ganchos e de energia e criatividade e sensibilidade. A banda tava em ebulição, em vários sentidos, até por que nessa fase tava todo mundo se brigando ali dentro e isso deve ter retroalimentado a criatividade geral de alguma maneira. Ou não. O fato é que a desinteligência estava alta assim como o nível de qualidade musical. Daí que tem coisas como Dreams, que foi ressuscitada um tempo atrás via TikTok; a épica The Chain que chegou a virar abertura de novela aqui (e abertura de transmissão de Fórmula 1 na BBC); e a música que me fez conhecer a banda, Go Your Own Way, que tinha em algum Guitar Hero, e que uma vez uma descrição do Youtube chamou de “the ultimate breakup song”, mas acho que ele só falou isso porque não conhecia Eu e Você Sempre do Jorge Aragão1. De qualquer forma, é muito foda. Sem contar Songbird, Oh Daddy… e por aí vai, vou parar por aí por que não quero esquecer ninguém e não quero que as outras músicas fiquem brabas.
(o álbum seguinte, Tusk, também é muito bom e parece ser ligeiramente mais experimental, um passo um pouco além numa esquisitice que nem sempre acerta mas ainda vale demais conhecer)
Tendo dito tudo isso, saiu recentemente o Rumours Live, que é uma versão ao vivo do álbum (ah vá) e que ainda tem outros clássicos anteriores ali no meio. É a banda ainda mais crua, e entregando pra caralho. Versões ótimas de Rhiannon e You Make Loving Fun e Landslide e… vocês entenderam.
Pra além desses, vale lembrar também do único álbum do Buckinham Nicks, que era o projeto anterior do casal Lindsey Buckinham e Stevie Nicks (quem diria) antes de eles entrarem pro Fleetwood Mac e ajudarem a armar os melhores álbuns da banda. É quase que um protótipo do que eles viriam a fazer, mas já tem muita coisa boa e pelo menos um hit foda que é Don’t Let Me Down Again. Por algum motivo não tem no Spotify ainda.
Do outro lado do som, saiu novo do Chemical Brothers, que tá um pouco mais minimalista em relação ao anterior que no geral eu gosto mais, mas vale a pena como sempre
e também tem um novo do James Blake, cara que já tem muita coisa boa lançada e que faz meio que um soul eletrônico cheio de grooves tortos, parte Radiohead, parte Björk, parte techno… ou algo assim.
A minha saúde anda tão mental que eu falei aqui que o console que eu arranjei foi um Xbox Series S, quando na verdade é um Xbox One S. E não foi por que eu escrevi errado aqui, eu apenas não tinha me dado conta. Assim, na prática muda muito pouco porque ainda tem muito jogo saindo pra ele e o catálogo é bem considerável, ainda mais com o Game Pass e etc. Mas quando eu me dei conta disso, levei um baque. Em parte por causa da minha capacidade de atenção altamente debilitada, em parte por que como assim eu não tenho mais um console de ÚLTIMA geração? (é um de penúltima) Não é como se aparecesse bem grande o nome do console assim que tu liga ele. Isso é um outro nível de não ligar o nome à pessoa. Simplesmente.
Depois de ter visto Election, do Johnnie To, e quase que decepcionado com a falta de ação, agora eu vi o seguinte dele e não tenho do que reclamar - pelo contrário.
Exiled, de 2006, bebe muito no western spaghetti, referenciando frequentemente Sergio Leone não só na trilha sonora como também nos enquadramentos. É cheio de composições escolhidas a dedo, uma fotografia numa lente anamórfica que é coisa finíssima, de um tempo em que os filmes tinham contraste (não sei se vocês lembram). Em um dado momento eu me dei conta que ele também parte pra pegar coisas do Sam Peckinpah, de outros jeitos, mas o mais óbvio além das câmeras lentas são os estouros de sangue em cada tiro. E aqui, como eu falei, o que não falta é tiro. É quase como se o filme fosse o contrário de Election: onde esse é cheio de diálogo e a maioria das coisas parece se resolver na conversa, aqui as questões são resolvidas na bala mas também nos olhares, nos silêncios. E isso parece ser algo que vem dos filmes do Leone também, principalmente Era Uma Vez No Oeste, que tem esse tempo todo próprio, essa tensão que vai crescendo em cada cena como se o filme fosse quase um experimento em como criar suspense pra preparação desses tiroteios.
Vários dos temas de Election acabam caindo de novo aqui: a questão da honra entre os caras das gangues mafiosas e tal, e o filme é cheio de traições pra lá e pra cá, mas de um jeito quase mais “fofo” porque o foco aqui é a amizade dos personagens principais e como a violência se perpetua ou não ao longo do tempo. Ainda comparando com Election, aqui as informações da trama são salpicadas muito parcamente, é tudo no detalhe, em falas muito breves. E, do mesmo modo, os tiroteios são todos às escuras, em lugares fechados, naquele mundinho muito específico da máfia onde a polícia só entra se for meio mafiosa também.
Gostei demais. Foda que a legenda que eu arranjei ficava fugindo do tempo frequentemente mas nem isso tirou o brilho do filme dessa vez. E também é engraçado notar como a arquitetura aportuguesada dos cenários externos acaba remetendo a coisas muito próximas do Brasil, já que o filme se passa em Macau e de vez em quando tem umas palavras em português rolando.
Por hoje tá bom né? Ou vocês querem mais alguma coisa? Umas fritas pra acompanhar? Uma recomendação de psicanalista pra passar? Avisem aí nos comentários que semana que vem entra. Vamo combinando. Peça sua música pelo pix danilodoclee@gmail.com
ok, pensando bem, cada música tem uma perspectiva diferente da questão