caralho vocês já se deram conta de que a edição de número 100 tá vindo aí?
se é que vai vir mesmo
fica aí na mente de vocês a questão de que vai vir
ou se até lá eu não vou ter um colapso nervoso
ou quem sabe se o mundo não vai implodir e cair pra dentro de si que nem os prédios do World Trade Center no 11 de setembro
mas se nada disso acontecer, provavelmente estaremos aqui na edição 100, uma edição que com certeza será especialíssima e cheia de novidades para os amantes da sinuca e da pesca de bagre
Tem um projeto novo do Flamingosis junto com o cantor Ehiorobo, o Bliss Station. A grosso modo, é o hip-hop eletrônico chillhop ensolarado do Flamingosis só que com vocal, o que é muito massa por mais que as melodias vocais do cara não me peguem sempre
em 2016 um maluco postou no Reddit a foto de um álbum que ele achou numa lojinha em Nottingham, na Inglaterra. Uma demo com pouquíssima explicação sobre a origem da banda (só se sabia que tinha sido lançado em 200) que ninguém conhecia e que poderia muito bem ser uma TROLLADA de alguém internet afora - olha o nome do álbum e essa menininha de anime na capa. O lance é que era uma sonzeira, altamente inspirada por emo, Radiohead, Flaming Lips e grande elenco.
Por muito tempo só existia uma versão tosca desse álbum no Youtube, até que em algum momento alguém foi lá e lançou oficialmente a coisa. Aí a banda se emocionou e os caras voltaram a tocar e lançaram coisa nova em 2023 - e não é ruim, dá pra ver uma evolução interessante no som
Isso aqui também não é nem um pouco novo mas por que não compartilhar? Em 2019 o Deafkids (também conhecida como a melhor banda no Brasil hoje) se juntou com o Rakta e fizeram um show conjunto no SESC Pompeia. Barulheira, clima de horror, percussão, hipnose… coisa linda
[por algum motivo tá dando erro pra embedar então clique aqui e siga para o Spotify]
segue um vídeo registrando uma das músicas também pra vocês terem uma noção
vinis lindos da semana: esse paco de coletâneas do Numero Group
Por falar em clima de horror, comecei a ler O Rei de Amarelo, do Robert Chambers, livro de contos de horror que meio que criou uma mitologia muito próxima à do Lovecraft e que inspirou acontecimentos da primeira temporada de True Detective (quem lembra?). Comprei na época e só li agora.
larguei pouco depois da metade
fique atento para mais informações
Eu sei que vocês não vão comprar o livro. Então segue aqui, e também pra efeito de registro, o meu conto que saiu na Coletânea de Contos de Humor, da Editora Persona. Agora pelo menos eu vou ter certeza de que o troço foi publicado aqui. Desculpa qualquer coisa.
Mundo aberto
— Bem-vindo ao seu Traje De Exploração Galaxy TB 3.4! Como é a primeira vez que você está me usando, por favor diga seu nome.
— Nestor.
— Certo! Como você se identifica?
— Ele.
— Ótimo! Quantos anos você tem?
— Vinte e cinco.
— Que legal! Você já usou algum dos nossos produtos antes? Se sim, quais?
— Usei. Hã, a lavadora/secadora de roupas, o robô de limpeza e a cama especial para frio.
— Incrível! Vamos então à nossa primeira exploração juntos, Nestor?
O nome dele soou como uma versão eletrônica gravada da própria voz de Nestor, ligeiramente torta, como se fosse a voz suave e amigável do traje tentando imitar a voz dele e falhando.
— Vamos — disse ele, e deu seu primeiro passo com o traje ligado e totalmente funcional.
Saiu de seu veículo. Pisou na grama úmida sem pressa, a sola fina da bota do traje o fez sentir as pedrinhas que surgiam às vezes e lhe dava confiança para explorar a floresta que se estendia à sua frente. O sol da manhã cobria tudo com um manto dourado e acertava diretamente Nestor nos olhos, mas ele não foi atrapalhado por ele porque o visor do capacete era de um vidro que escurecia diante de muita luz. Surgia na visão de Nestor, além das árvores enormes e antigas, uma série de números e indicações e barras de um azul brilhante. A barra de bateria estava cheia, mas o sinal de wi-fi era instável. Nestor não se importou e seguiu em frente, com a confiança de quem nunca entrou numa floresta antes, muito menos a floresta de um planeta que ele só conhecia da Wikipedia. O visor do traje indicava 13°C. Nestor não sentia. Percebeu uma fina camada de umidade sobre as folhas das árvores. Às vezes elas se juntavam em gotas e caíam. Nestor achou aquilo lindo, a luz batia na ponta azul das folhas e elas brilhavam. Tocou em uma delas. A gota escorregou para a ponta do seu indicador e ficou parada acima do tecido branco da luva do traje. Nestor sorriu. Respirou fundo o ar filtrado e começou a saltitar floresta adentro. O traje cobria seu corpo inteiro, fazendo-o parecer algum tipo de astronauta.
Encontrou um besouro colorido. Era redondo e verde, com manchas circulares amarelas e cerca de 5 centímetros. Aproximou lentamente seu rosto dele e o visor do traje fez surgir um círculo em volta do bicho. Do círculo, saiu uma linha que dizia “Besouro Do Vale”.
— Besouro Do Vale – disse o traje de forma reconfortante. — Chrysina vallis. Encontra-se em florestas altas e locais de alta umidade. Já foi encontrada em pelo menos outros três planetas deste sistema solar. É completamente inofensivo para o ser humano. Famoso por suas cores chamativas. Gostaria de mais informações?
O besouro saiu voando.
— Não — disse Nestor.
— Se precisar, é só chamar!
Nestor saltou por cima de uma enorme raiz de árvore e seu olhar acompanhou o caule. O topo da árvore ficava a pelo menos trinta metros de altura e seus galhos surgiam como braços parrudos. O visor fez um círculo em volta do caule e no canto inferior direito saltaram fotos de outras árvores parecidas com aquela.
— Sequoiadendron verumgiganteum. Estas sequoias são as maiores árvores deste sistema solar. Podem viver milhares de anos e sua madeira é ótima para fazer móveis. — a imagem de um armário marrom apareceu junto com as outras fotos. — Como os armários que estão em promoção na Magazine Jupiter, até 20% de desconto usando o cupom GALAXY20! Quer aproveitar?
— Não, hoje não.
A manhã passou mais rápido que Nestor gostaria então ele sentou próximo a um riacho e tirou barras de vitaminas da mochila que vinha acoplada ao traje. Almoçou os tijolinhos doces e crocantes com o energético geladinho sabor tutti frutti que vinha guardando na bolsa térmica do traje.
O sol ainda estava no alto quando ele seguiu caminhando e arrotando energético. Encontrou algumas flores no caminho, todas devidamente identificadas. Encontrou aves pequenas que o traje tratou como fofas e inofensivas, enquanto oferecia réplicas delas em tamanho real e com penas reais, com 20% de desconto.
Nestor estava confiante: fuçando em árvores, olhando plantas, experimentando pequenas frutinhas que encontrava no chão (que o traje asseverou que não eram venenosas). Não explorava um mundo assim desde o último The Legend of Zelda. Encontrou uma sequoia que tinha uma raiz da altura dele e meteu a cabeça por cima dela pra ver o que encontrava. As raízes grandes formavam um tipo de abrigo quase fechado, onde um amontoado de folhas secas serviam de cama para um animal que, abraçado em si mesmo, media aproximadamente um metro. O traje lançou seu círculo em volta do bicho mas demorava para entender do que se tratava. Nestor se aproximou com cuidado. Parecia um filhote de algum felino, de uma pelugem roxa escura misturada com manchas rosa, a cabeça redonda encolhida atrás das patas. Dormia, quieto, mas tremia. Nestor imaginou que ele estava com fome então sua primeira reação foi oferecer uma barra de vitamina de sua mochila. Foi abrindo a embalagem da barra enquanto entrava no abrigo a passos meticulosos, pisando nas folhas secas. Estendeu a barra para o animal no mesmo momento em que este abriu os olhos, sonolento.
— Ei — sussurrou Nestor, fazendo uma voz aguda. — Aqui, comida.
O filhote afastou-se de Nestor devagar. Foi se encostando na árvore.
— Tá tudo bem — sorriu Nestor dentro do traje.
Os pelos do filhote se eriçaram. Nestor não ouviu um farfalhar à sua direita, atrás das raízes. Mas levou um susto quando virou o rosto e viu um par de olhos felinos definitivamente adultos. Seu sangue gelou.
Ultrapassava os dois metros de altura e parecia ser uma versão maior, mais forte e mais feroz do filhote e o olhava com olhos de caçador. O círculo do visor do traje não conseguiu determinar sua espécie. O felino apoiou-se na raiz que tinha quase a sua altura e saltou na direção de Nestor. A essa altura, Nestor já tinha dado uns três passos na direção contrária do felino, e já estava se virando pra correr. Disparou floresta adentro enquanto o animal vinha em sua direção como uma bala com quatro patas. Nestor jogou sua barra de vitaminas pra trás, na esperança de desviar a atenção do bicho, mas foi ignorado. Precisou correr como nunca tinha corrido antes na vida. Lembrou-se das aulas de educação física da escola mas lembrou-se também que sempre ficava em último. Procurou por uma saída no meio das árvores gigantes e se enfiou numa trilha à esquerda.
Traje! Me ajuda! — berrou ele.
O felino rugiu em resposta. O visor do traje mostrava um símbolo de “carregando” no centro da imagem.
Nestor saltou por um riacho e pensou em correr ladeando-o. Olhou para trás e continuou vendo o felino, que pisava pelo riacho soltando água. Achou outra trilha à sua direita e então freou pra fazer a curva mas a terra enlameada do lado do riacho fez seu pé seguir em frente em vez de apoiar o corpo pra fazer a curva. Seu corpo caiu sobre a lama enquanto o felino roxo vinha em sua direção.
— Infelizmente não encontrei nenhuma informação sobre o tema que você me pediu — disse o traje. Um emoji triste surgiu no visor.
Nestor arfava. Seu pé começou a doer. Pensou se seria melhor levantar-se e voltar a correr ou ficar por ali mesmo. O felino chegou perto dele. Deu alguns passos lentos à sua volta. Sentiu o cheiro plástico de Nestor e do traje. O círculo no visor buscava informações sobre o animal, mas sua visão estava turva: o ar que ele soltava pela boca fez o visor ficar embaçado.
Respirava com rapidez, quase soltando gemidos pela boca. Seus olhos estavam presos no felino, que o observava de volta, analisando seu corpo.
— Seu batimento cardíaco está muito acelerado de repente. Você precisa de ajuda? — disse o traje.
O animal soltou um rugido que fez Nestor se desesperar, um rugido grave que fez seu peito tremer dentro do traje, um rugido que arrepiou sua espinha, um rugido que mostrou os dentes gigantes e afiados do bicho mas que Nestor não viu porque estava com os olhos fechados de medo aguardando a morte certa.
Por alguns segundos, não houve mais barulho nenhum além do som do riacho passando.
Nestor abriu primeiro o olho direito, depois abriu o esquerdo. O felino olhou pra ele, então deu meia volta e entrou na floresta escura a passos lânguidos e tranquilos. Nestor se deixou cair no chão e respirou aliviado. Levou as mãos ao rosto enquanto tentava voltar ao normal, percebendo que estava vivo e inteiro e agradecendo a deus por isso.
— Tigre-lilás. Panthera lilac. Um felino perigoso, territorialista, inteligente e cuja mordida pode arrancar a cabeça de um ser humano.
Nestor pediu o mapa local ao traje e correu de volta para seu veículo. Enquanto isso, o traje lhe oferecia tigres-lilases de pelúcia com 20% de desconto usando o cupom GALAXY20 mas só até a meia-noite.