Não Sei Desenhar #48 - 26/08/22
o seu informe semanal sobre pizzas de caixinha! Hoje: que fim levou a pizza de provolone da Sadia? Por que ela sumiu do mercado? Até isso nos tiraram
estamos nos aproximando da edição de número 50!!!! Vocês mal podem esperar pela surpresa que tá vindo aí, vamos fazer uma comemoração à altura
aguarde e confie
Depois de 25 anos de ter jogado ele basicamente apenas em locadoras de videogames, daquelas em que tu pagava uns pilas pra jogar por uma hora, peguei pra terminar Final Fantasy VII. O original mesmo, na versão do Steam.
Ainda não terminei ele (devo estar com umas 18 horas), acabei de terminar o trecho que conta a história do Red XIII. De fato, colocando em perspectiva, dá pra ver como era um RPG japonês muito mais ESPETACULOSO, em comparação com os outros da época, mesmo o Final Fantasy anterior. As batalhas são mais dinâmicas, a história já começa in media res, já rola uma pancadaria logo de cara e o personagem principal já tá no nível 7. Depois tu já tem que fugir de um local que tá pra explodir, com direito a contagem regressiva aparecendo na tela. Ele é mais grandioso e a sensação de poder no combate é mais palpável. E aí não dá pra escapar: a principal mecânica do jogo é o combate e ele flui muito melhor do que eu esperava, justamente por causa desse dinamismo todo devido a mecânicas como o Limit Break e à barrinha de tempo. Sem contar que ele é relativamente fácil no começo, o que me parece uma tática justamente pra fisgar o jogador. Por mim, tudo bem.
A história tá bem interessante até agora e, não tem jeito: o mundo desse jogo é foda. O design de tudo é muito bom e tem essa vibe quase cyberpunk inclusive na temática, onde uma megaempresa gigante controla tudo e suga a energia vital do planeta e os personagens principais são um pequeno grupo de resistência (inclusive com medidas que dá pra chamar de terroristas). + magia
Na edição da semana que vem eu comento mais alguma coisa aí, provavelmente.
Muito bom este outdoor! Realmente me fez pensar que o ução a dos bebês precisa ed mais de no. Parabéns publicidade e propaganda
álbum de 2021 do MNTH, um dos trocentos projetos que tem o envolvimento do Maurício Takara, do Fernando Sanches e do Psilosamples, e que é encabeçado pelo Luciano Valério. É um lance meio jazzístico eletrônico percussivo
a propósito de sons brasileiros: o primeiro EP do Eiras E Beiras tá bem interessante também, aí mais puxando pra psicodelia MPBística
O conto a seguir foi mandado pra um concurso com o tema “cyberpunk brasileiro” e foi sumariamente rejeitado. Siga por sua conta e risco.
Turbofunk
Mais um acidente. Mais um hovercarro pifando no meio de São Paulo e provocando um engavetamento, parando o trânsito da megalópole. As luzes do helidrone da polícia iluminam a bagunça de metal retorcido, as hélices berram no meio dos prédios quilométricos. “Graças a Deus que não é aqui”, pensa Agenor, enquanto vê a notícia na sua antiga TV de led Loggo Diamond. Encaixa seu velho e barulhento braço mecânico Loggo Y-87 onde antes havia seu braço direito, à época trocado em favor de mais força física para o trabalho. Depois coloca sua jaqueta laranja de poliéster reforçado – novinha – e vai dar uma última checada no topete castanho-claro. É uma noite especial, afinal de contas. Carrega seu corpo em formato de batata até sua caminhonete F-3000, encaixa seu traseiro avantajado no banco e dirige até o centro da cidade, a dez minutos do sítio onde mora.
É uma noite fria no Sul do Brasil mas nada impede os correligionários do prefeito de lotarem a praça da cidade. Não só eles: alguns curiosos também, os poucos jornalistas da cidade, algumas famílias que vieram pela pipoca grátis, alguns carros rebaixados rodeados de jovens sem nada melhor para fazer numa noite de sexta-feira em uma cidade de trinta mil habitantes. Agenor passa por eles e faz questão de observá-los com uma expressão de desprezo, do alto de sua caminhonete, protegido por uma carcaça de metal e de vidro blindado. Dali de dentro ele não consegue ouvir o turbofunk tocando em volumes que beiram o ensurdecedor — mas ele sente o grave. Criançada do caralho. Alguns adolescentes olham de volta, desafiando-o e rindo dele. O conflito acaba ali. Agenor tem mais o que fazer.
Estaciona atrás do palco, montado logo à frente do Monumento aos Colonizadores. A estrela principal está ao lado, coberta, iluminada por drones-canhões de luz, vinte e cinco metros de mistério que não é mistério. Todos sabem o que está ali, mas o impacto é importante pro governo. Fica bonito no vídeo.
— Nervoso, Agenor? — pergunta o prefeito, sorridente.
Agenor responde que não com a cabeça, sorrindo de volta. Prefere não mentir. O prefeito lhe dá dois tapinhas de boa sorte no ombro e sobe no palco, seguido pelo vice, por uma turba de secretários e por um representante da Loggo Mechanics. Agenor sobe um pequeno elevador até o lugar que lhe pertence enquanto limpa o suor da testa com um pano. Junto com ele, o mecânico-chefe e sua jovem assistente.
No palco, o prefeito começa o discurso de apresentação do mais novo equipamento adquirido pela prefeitura. Uma verdadeira revolução para a Secretaria de Obras da cidade, um avanço importantíssimo para a mineração local. Agenor tenta secar as mãos suadas na calça enquanto entra no cockpit. Senta no banco de couro sintético, ajeita sua bunda, coloca os cintos. As telas à sua frente indicam que tudo está pronto e funcional. O mecânico-chefe lhe dá algumas instruções, faz ele lembrar do treinamento dos dias anteriores, tenta tranquilizá-lo. Agenor apenas concorda com a cabeça, solta uns “sim”, “ahã”, “tudo certo”, “beleza”. A assistente lhe entrega o pendrive-chave e Agenor o segura com força para não derrubá-lo ou perdê-lo, coisa que ele costuma fazer com mais frequência do que gostaria.
O mecânico-chefe e a assistente descem enquanto um figurão da mineração local discursa sobre as riquezas da nossa terra, agradece a parceria da prefeitura e da Loggo Mechanics.
— Eu lembro do quanto o meu pai reclamava dos “ecochatos”... — diz o figurão, fazendo uma pausa para risada geral quando ele fala essa última palavra — ... que diziam que a mineração era errada, que trazia doenças e não sei quê mais... mas agora é tudo mais seguro, mais correto. É mais um avanço pra nossa cidade. Podem ter certeza.
A assistente observa do chão os movimentos de Agenor. Suas lentes de contato eletrônicas dão um zoom para dentro do cockpit. Ele ainda está com o pendrive-chave na mão.
Agenor, o prefeito, o figurão e a Loggo Mechanics ignoram completamente que o nome dela é Patrícia, que ela trabalha de empacotadora de supermercado e que, nas madrugadas insones, brinca de criar códigos de computador. Já usou os códigos para trocar a música do supermercado sem que ninguém percebesse, para transferir para si mesma uma graninha para comprar uns tênis, para dizer para o sistema de uma balada que tinha mais de dezoito anos, para fazer o site da prefeitura tocar um turbofunk proibidão nos alto-falantes de quem entrasse nele. Nunca foi descoberta.
Seu rosto sério esconde o turbilhão de pensamentos no momento em que ela olha para dentro do cockpit, esperando Agenor enfiar a porra do pendrive-chave na merda da entrada. Não é difícil, é só colocar. Colono filho da puta, para com a enrolação. Agora. Isso, vai lá. Agenor seca as mãos mais uma vez e deixa cair o pendrive.
Patrícia revira os olhos.
— ... E é por isso que nós da Loggo Mechanics — diz a voz nas caixas de som — temos o prazer de apresentar a vocês o GX-79!
O pano cai e a música sobe. Aplausos, gritos e sorrisos para receber a máquina amarela e preta cujo formato lembra muito o de um corpo humano: dois braços, duas pernas, um tronco e uma cabeça. O antebraço direito termina em uma pá para escavação. Sobre a cabeça, três antenas. Nos ombros, canhões de luz. No meio do tórax de metal, o cockpit, onde Agenor rapidamente se levanta enquanto enfia o pendrive na entrada. O GX-79 seria de fato uma maravilha da tecnologia se a maioria dos presentes ignorassem o fato de que é um modelo já defasado, que a prefeitura adquiriu por conta do preço baixo e pela facilidade na operação: está mais para um trator do que para os mechas esguios e estilosos que a Loggo oferece mundo afora. Patrícia sabe disso.
Quando vê que Agenor encaixou o pendrive, Patrícia acelera o passo para longe do palco, na direção de seus amigos. Numa esquina próxima, tira a jaqueta verde da Loggo e coloca seus óculos quadrados de lentes furta-cor. Valentina a espera dentro do SUV emprestado do irmão que voltou mês passado da Alemanha, onde trabalha fazendo sorvete, e joga no colo dela o notebook. No banco do carona, Patrícia ergue o monitor do aparelho e é recebida pelo sistema operacional Loggo 12. Abre o prompt de comando e ataca o teclado com uma rapidez rara para pessoas da sua idade, mais acostumadas com telas holográficas de celulares. Valentina batuca com os dedos no volante ao som do turbofunk de 280 batidas por minuto que toca nas caixas de som que se agigantam no porta-malas do carro, envoltas por fios de iluminação colorida.
— Já entrou?
— Quase — diz Patrícia.
Do lado de fora do carro, um de seus amigos oferece-lhe um baseado, para o qual ela só diz um “depois”, concentrada na tela. Um litro de cerveja passa de mão em mão entre os jovens que apoiam seus corpos no SUV Loggo Bozcaada.
— Foi.
Uma rápida comemoração em volta dela. Patrícia sorri e olha para o monstro de metal que paira ao lado do palco na praça, o braço direito erguido acenando para o público.
Por um momento, Agenor acha que há algum problema na operação do GX-79. Ele move uma manopla mas o braço não abaixa. Em vez disso, o braço esquerdo se ergue. Agenor se dá conta de que os comandos não são mais dele. Arregala os olhos rapidamente mas tenta esconder – está saindo nas fotos. Dá um sorriso doído enquanto finge que opera a máquina. Esta, por sua vez, coloca as duas “mãos” na cintura, para a diversão do público. O antebraço com a pá move-se para uma posição horizontal. A cintura então gira para o lado do palco e leva consigo o tronco.
A pá do GX-79 acerta o teto da estrutura, fazendo pedaços dela voarem para longe. A diversão se transforma em assombro para quem está em volta, mas ela só começa de fato agora para Patrícia e seus amigos. Os transeuntes fogem enquanto o GX-79 começa a caminhar pela praça. Seus passos são lentos, seus movimentos são angulares. A pá mira no Monumento aos Colonizadores, até então um pedaço de pedra retangular de três metros de altura com os nomes dos vários imigrantes italianos que fundaram a cidade. Agora, apenas um amontoado de pedregulhos. Patrícia, descendente de indígenas, faz o GX-79 voltar-se para o palco. Abaixa de leve as pernas do robô, em seguida faz as pás dele se apoiarem no que seria o equivalente aos joelhos e leva o tronco pra frente. Ela faz o Loggo GX-79 rebolar ao som do turbofunk.
E então ele para repentinamente, para o alívio de Agenor.
— Pegaram de volta — avisa Patrícia, sabendo que aconteceria mais cedo ou mais tarde.
Seus amigos enxugam as lágrimas enquanto se recuperam das risadas.
O GX-79 volta à sua posição original. Em pé, reto, de prontidão. Agenor limpa o suor na testa, mas não limpa o vômito que deixou esparramado pelo cockpit. Patrícia apressa-se para desconectar tudo que precisa, inicia a formatação do notebook e o guarda embaixo do banco. Agora sim, aceita uma cerveja para comemorar. O baseado fica pra depois, porque naquele exato instante o hovercarro Loggo Wolf Sedan da polícia passa por eles, iluminando-os com a luz vermelha intermitente do giroflex. O olhar de Patrícia cruza com os olhares sempre acusatórios dos policiais. Ela sorri e amigavelmente oferece uma cerveja para eles.