E agora: como seria o Casimiro fazendo um review de Todo Incal
Mermão… olha esse quadrinho aqui. Esse gibi. É gibi ou quadrinho? Graphic novel. Tanto faz, foda-se. Olha isso aqui. “Ah gibi é coisa de nerdola” foda-se.
Isso aqui é O Incal. Sem rima. Quem escreveu isso aqui foi o (fazendo sotaque espanhol) Alejandro Jodorowsky, e quem desenhou a história principal foi o Moebius, o (fazendo sotaque francês) Jean Giraud. Os caras são tipo, simplesmente, pica das galáxias, o top do top assim, do quadrinho europeu. Dos gibis.
Olha isso aqui. Olha isso, olha esses desenhos. Mano. Esse Moebius era MUITO pica. (virando as páginas) Olha isso, mané. Olha esse desenho. Olha essa construção aqui, essa cidade. Olha que loucura. Tem altas cenas de ação aqui. Uns robôs atirando, uns mutanes, galera metendo o zaralho alucinadamente.
Ah. Isso aqui foi feito nos anos OITENTA, tá? Não tinha nada de computador. O irmão fazia tudo no braço. Tinha gente aqui que nem os pais tinham nascido ainda.
E essa caixa também, bonitona. Pesada pra caralho isso aqui. Mas fica na tua mesinha de centro. Sabe mesinha de centro? Bota ali a caixa. Galera vai ver e dizer “porra, gibi europeu hein”. Vão achar que tu é… culto. Saca?
Enfim, forte. Forte demais isso aqui.
“Oito coisas maravilhosas e melancólicas que eu aprendi sobre criatividade”, pelo cara do Oatmeal, aquela webcomic que tá aí na cena faz trocentos anos.
A carapuça serviu.
Não tem jeito: a onda nos games agora é Elden Ring. Só se fala em outra coisa. Aqui também. Aqui é engajamento.
Eu mesmo tive a oportunidade de jogar meia hora num PS5 de um amigo e o troço é promissor mesmo. Parece ser 10% menos punitivo do que os outros Souls, e tem o lance da exploração. Agora vou ter que roubar um PS5 pra jogar ou então ser roubado pelo valor que tão cobrando ele na Steam. Ou então…
Nessa mesma onda, joguei o começo de dois jogos que tem combates com o pé enterrado em jogos como Dark Souls (a mesma galera que fez Elden Ring), esse lance mais estratégico que não é só sobre ficar apertando o mesmo botão sem pensar.
O primeiro é Young Souls (tu vejas), que é muito mais um beat’em’up com mecânicas de RPGs. Dá pra catar arma, armadura, evoluir as coisinhas, subir de nível… e visualmente é bem legal. O universo que eles criaram é bem interessante, me pega bastante.
Do outro lado, saiu do nada o Tunic, que é tipo um Zelda de SNES ou Game Boy só que com gráficos isométricos. Foca bastante em exploração, tem muita coisa escondida atrás de árvore e morro, que tu só consegue pegar se ficar fuçando pelo cenário. E uma coisa divertida é que tu vai pegando páginas do manual de instruções do jogo. Não sei se vocês sabem mas jogos antigamente vinham com manuais de instruções, que muitas vezes realmente complementavam o jogo. E o Tunic tem um idioma próprio com algumas palavras inteligíveis soltas. Então é como se tu comprasse um jogo japonês e tentasse entender, tendo que se guiar só pelas imagens e pelas palavras que eles resolveram colocar em inglês. Bem bolado, bem bolado.
E tu? Jogastes Elden Ring? Jogastes Dark Souls? Jogastes Fifa Soccer 94? Qual o teu jogo de espadinha preferido? Comente:
Trailer novo do próximo filme do Masaki Yuaasa (diretor de animes como Devilman Crybaby, Ping Pong, Keep Your Hands Off Eizouken! e por aí afora) e do Tayio Matsumoto (autor de mangás como Ping Pong, Tekkonkinkreet, Sunny e por aí afora)
veio aí demais
E esse Red, hein? O Filme Do Momento. Ou melhor: Red - Crescer É Uma Fera. Quem é que fala “é uma fera” meu amigo
De qualquer maneira: melhor filme da Pixar em muito tempo. A despeito de ter muito em comum com Encanto (principalmente no que tange à representação de culturas não-americanas), como alguém apontou no Twitter, o que me pegou mesmo foi a estética que tem muito de anime. Bom, a própria história remete inescapavelmente a Ranma ½. Os cenários parecem ter saído de algum episódio da Sailor Moon dos anos 90 (e de fotos da Akine Coco), as versões 3D de piadas visuais que até então eram comuns só no acetato. Tudo acaba contribuindo pro carisma do filme. Obviamente em algumas coisas ele se esforça demais, como nas personalidades das amigas, mas tá valendo.
E tal qual um velho do século dezenove que acha que fotografia vai roubar sua alma, eu não canso de me surpreender com a qualidade das texturas das animações 3D recentes, em particular nos cenários e naquela cena em que o pai faz comida. Os detalhezinhos todos dos alimentos, um estilo quase b-roll.
O triste mesmo é pensar que a Disney relegou todos os filmes da Pixar ao Disney Plus. Me ajuda aí né Mickey. Assistir filmes da Pixar só no Disney Plus é uma fera
semana de 23
e o clipe novo do The Smile que foi filmado na Mina de Visitação em Criciúma/SC
Sabrina - parte 1
(outras histórias passadas na cidade de Maravilha do Sul você pode encontrar nas seguintes edições anteriores desta newsletter: #14, #16, #17, #18, #19, #21, #22 e #24)
O Calculadora já estava em seu segundo ciclo de sono quando Sabrina passou pelo seu quarto. As meias nos pés dela tocaram o chão de madeira sem fazer nenhum som. Ela atravessou a sala com cuidado e foi até a janela, a qual ela abriu depois de fazer algum esforço para que fizesse o mínimo possível de rangido. Travou a janela e saltou pelo vão, indo parar na frente da garagem. Sua bicicleta tinha sido sequestrada, trancafiada por seu pai na garagem, então saiu de casa a pé mesmo, dando pulinhos para colocar seus tênis enquanto caminhava. Na esquina, encontrou seus três amigos, as únicas pessoas em quem confiava realmente em toda a cidade de Maravilha do Sul.
Nem se cumprimentaram direito: já tinham conversado a manhã inteira na escola. Sabrina pegou carona na bicicleta de Pedro Júnior e as três bicicletas seguiram pela estrada de ladrilhos.
- Viram que o Lobisomem Azul voltou? – disse Alaor, na bicicleta ao lado de Sabrina.
- De novo? – Pedro Júnior fez uma careta. – Ninguém aguenta mais esse cara, pelo amor de deus.
- Eu que não te aguento mais. – brincou Sabrina, embora soasse séria. – A gente podia tentar capturar ele, né. Ele tá sempre nos matagais por aí.
- Eu sou parceiro. – disse Alaor. – Bora procurar ele hoje à noite.
- Eu sou parceiro é de a gente ficar de boa só bebendo como sempre. – sugeriu Pedro Júnior.
- E fumando. – disse Gioconda, na outra bicicleta, o fone de ouvido apoiado no pescoço.
- Isso. Pra que se dar ao trabalho, sabe?
- Só pra ver a tua cara quando a gente encontrasse ele – disse Sabrina.
Quando chegaram ao seu esconderijo de sempre, o assunto já tinha se transformado três vezes. O esconderijo em questão era uma clareira que surgia depois de uma rápida trilha, não muito afastada da estrada principal, mas o suficiente para que ninguém da cidade os encontrasse. Pequenas plantas amassadas e uma fogueira já queimada eram sinais do uso constante do local. O som do riacho que ladeava a clareira por uns quinze metros era um tipo de campo de força que lhes dava a segurança para passarem as noites ali. Largaram as bicicletas apoiando-as em árvores num canto e sentaram-se na terra úmida apoiados em outras árvores no canto oposto. Eram iluminados apenas pelo azul da lua. Alaor distribuiu as latas de Antarctica.
- Se a minha mãe sonha que eu venho aqui todo dia beber com vocês, ela manda cancelar a crisma. – disse Pedro Júnior, tirando a franja da frente de seu rosto magro.
- É só tu não chegar bêbado na igreja no sábado. – disse Alaor.
- Ou chegar muito bêbado e dizer que tem a culpa é do capeta. – sugeriu Sabrina depois de tomar um gole. – Toma água pra evitar ressaca.
Pedro Júnior deu uma risada.
- Até parece que eu vou lembrar de tomar água. Quem que toma água enquanto bebe, gente? Isso é coisa de velho.
- Coca-Cola. – disse Gioconda, ocupada em fechar um baseado. – É bom pra ressaca.
- Arrotar Coca na cara do padre. – disse Sabrina.
- Melhor que arrotar Antarctica. – disse Pedro Júnior.
- Ei, era a cerveja mais barata, beleza? – disse Alaor. – Tua mãe é dona do mercado, arranja um desconto na Heineken aí pra gente.
- Ela vai adorar que eu peça desconto na cerveja. Se fosse no Nescau...
- Teu cu no meu pau. – riu Alaor.
- Ah não, mano. – revoltou-se Sabrina. – Vocês são muito infantis.
- Ah! – Alaor interrompeu um gole no meio. – Por falar em infantil, vocês viram que tem um circo vindo aí?
- O palhaço já chegou. – disse Gioconda, seguida pelas risadas dos outros. Ela terminou de fechar o baseado e o acendeu. A luz do isqueiro tornou evidente seu rosto, um terreno pedregoso e vermelho.
- Não, porra! É sério. – disse Alaor. – Mas é no meio do mato, perto de um sítio. Não na cidade.
- Mas como é que não teve propaganda nenhuma ainda? – disse Sabrina. – Aqueles carros com músicas e tal.
- Lá na rádio não chegou nenhuma propaganda de circo. – disse Gioconda, segurando a fumaça.
- Eu sei lá. – disse Alaor. – Se a gente seguir um pouco a trilha, dá pra ver. Mas parece ser um circo meio moderno, não é nada muito colorido.
- Duvido que seja um circo. – disse Pedro Júnior. – Deve ser só uma tenda qualquer.
- Vamos até ali ver, então. – disse Alaor, já se levantando.
- Calma aí, apressadinho. – disse Sabrina, recebendo o baseado e mostrando-o a Alaor. – Primeiro...
Fumaram metade do cigarro de qualidade duvidosa e seguiram a trilha em suas bicicletas. Embrenharam-se no mato e subiram um morro ao som das reclamações de Pedro Júnior e pararam quando chegaram no topo. De lá, puderam ver várias tendas brancas e quadradas armadas uma ao lado da outra, dando a volta em uma tenda maior ao centro. Havia alguns carros estacionados ao redor, alguns jipes, e muita movimentação. Homens e mulheres em sua maioria vestindo jalecos brancos ou uniformes do exército levavam equipamentos para dentro das tendas enquanto um ou outro supervisionava as ações.
- Nossa, gente. – disse Pedro Júnior. – De onde que isso aí é um circo? Pelo amor de deus, Alaor.
- Se for um circo, parece bem sem graça. – disse Sabrina. – Cadê os animais?
- Aqui do lado, dizendo pra gente que isso é um circo. – disse Pedro Júnior.
- Mas se não é um circo, o que é então? – disse Alaor. Houve um silêncio enquanto suas mentes aturdidas pelo baseado trabalhavam, as engrenagens dos cérebros se movendo sem nenhuma pressa.
- Um laboratório. – disse Gioconda.
- Aaaaahhh! – fizeram todos os outros em uníssono.
- Olha, tem até um maluco com uma arma. – apontou Alaor.
Todos apertaram os olhos para tentar ver melhor o que acontecia.
- Tem dois malucos com armas. – disse Sabrina.
- E aquele carecão ali? – Pedro Júnior apontou para um homem grande de braços cruzados que não parava de dar instruções aos outros. – Parece o chefe deles. Queria ver mais de perto pra ver se eu reconheço alguém.
- Vamos entrar. – Sabrina se levantou e já ameaçou descer o morro.
- O quê? Não! – disse Pedro Júnior afinando sua voz. – Tem gente armada lá, Sabrina! É muito perigoso!
- A gente vai pelo cantinho. Eles vão fazer o quê, matar a gente?
- A gente diz que chegou ali sem querer. – disse Alaor.
- Isso!
- Vocês tão malucos. – Pedro Júnior sentou-se na grama úmida. – Eu que não vou me meter lá.
- Que que custa, Juninho? – Sabrina se aproximou de Pedro Júnior. – A gente só vai chegar um pouco mais perto, ninguém vai se ferir nem nada. – ela olhou para Giocoda. – Jô, bora?
Gioconda estava dormindo.
Alaor ia fazer alguma piada mas sua reação foi interrompida por uma luz batendo no rosto de Gioconda. Ele levou um susto e por uma fração de segundos todos acharam que tinham sido encontrados pela polícia e obviamente agora todos iam presos pois eram menores de idade sob efeito de substâncias entorpecentes ilegais e teriam que encontrar-se com seus pais e sofrer o maior castigo possível pelo resto de suas vidas. Mas quando olharam melhor, encontraram um carro quadrado que era conduzido por um jovem alto, que mal parecia caber dentro do veículo. No banco do carona, estava uma mulher mais velha que parecia dormir de olhos abertos. O carro estava entulhado de malas e enganchado nele vinha uma carretinha que levava móveis, eletrodomésticos e mais malas. Os adolescentes viram o carro ignorá-los e seguir pela estrada com alguma pressa. Fitaram o trajeto do carro até que Pedro Júnior quebrou o silêncio:
- Eu acho que a gente devia fazer que nem essa galera. Pegar nossas coisas e ir embora.
Sabrina ficou olhando pro carro, respirou fundo e concordou com Pedro Júnior. Pelo menos por enquanto.
BEM VINDOS AO MUNDO MÁGICO DA COMIDA E DA BEBIDA
#publi