Ok galera. Foi bom enquanto durou. Mas esta é a última edição da newsletter. Sinto muitíssimo, mas a grana tem que entrar de alguma forma. Eu faço isso aqui toda semana e tamo com o quê? 100 inscritos? Seis meses de trabalho! Cadê a grana? A fama internacional? Não, olha, sinceramente…
Então espero que até o final desta edição surja algum patrocinador pra salvar e podermos alavancar a newsletter, senão não vamos ter condições. Aproveitem o conteúdo feito com carinho pra última edição. Obrigado e até a próxima!
BREAKING NEWS
BOAS NOTÍCIAS PESSOAL! Finalmente temos os nossos primeiros patrocinadores da newsletter. Vários parceiros aqui das redondezas!
Pizzaria do Japa! Ao lado da Casa de Sushi do Italiano.
Mais um empreendimento do Grupo Preconceito
#publi
O filme Uncharted - Fora do Mapa.
Um filme pra quem odeia cinema mas adora videogames. Tá, não é pra tanto.
Os gráficos do Tom Holland tão meio ruins.
Outro problema sério é que em nenhum momento ninguém falou “well, that’s uncharted!”
Como alguém que não jogou nenhum dos jogos, posso dizer: prefira os jogos.
Você é um MAN?
Você se considera um BRO?
Então não perca tempo! Venha agora para a…
#publi
Semana passada eu falei aqui do álbum novo do Yung Bae, que veio do future funk e tal. E logo na semana seguinte saiu um álbum de outro dos pilares do gênero, o Macross 82-99. Esse é um álbum de future funk mais “puro” mesmo, com muito sample de city pop japonês, AOR e congêneres. É só alegria:
ESTA estética de álbuns indie dos anos 90
tem mais uns aí mas tô esquecendo
vocês entenderam
Em notas relacionadas, o Spotify me lembrou desta belíssima pérola dos anos 90:
BEM-VINDOS AO MUNDO MÁGICO DA COMIDA E DA BEBIDA
#publi
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Pedro - parte 3
(outras histórias passadas na cidade de Maravilha do Sul você pode encontrar nas seguintes edições anteriores desta newsletter: #14, #16, #17, #18, #19, e as duas partes anteriores da história de Pedro nas edições #21 e #22)
Ana, a secretária de Pedro, chegou no escritório no horário de sempre mas pela primeira vez na história daquela agência ele tinha chegado antes dela. A jovem colocou a mochila em sua cadeira e viu a porta da sala de seu chefe entreaberta. Pôde ver ele fazendo uma careta de concentração enquanto olhava para o computador.
- Bom dia, Pedro.
- Oi Ana, bom dia. – disse ele sem tirar os olhos do monitor.
- Os cupins voltaram a atacar o teto da tua sala, tu viu?
- Ah é? Que merda. – Pedro não pareceu particularmente preocupado.
- Também acabou o veneno de barata. Já apareceram umas duas ontem.
- Que pena.
- E a descarga do banheiro continua sem funcionar, tem que chamar o encanador.
- Acontece. – ele só se movimentou para olhar o monitor mais de perto.
Ana deu de ombros e arriscou ir para sua mesa. Então voltou e se encostou na porta.
- Escuta. – ela tirou uma mecha de cabelo da frente do rosto. - Tu consegue pagar pelo menos uma parte dos meus salários atrasados? Eu tô precisando desse dinheiro.
- Sim.
- É? Quanto?
- Aham.
- O quê?
Pedro fez um silêncio de quem está muito concentrado. Ana ficou esperando, e então deu um berro.
- Pedro!
Ele arregalou os olhos e então passou as mãos no rosto.
- Desculpa, Ana. Eu tô... eu tô muito encucado com um caso aqui. Acho que é um caso grande.
- Vai dar pra pagar os meus salários atrasados com ele?
Pedro olhou pro monitor e depois olhou pra ela. Cruzou os braços. Agora ele fez um silêncio de quem não sabia o que responder.
- Eu espero que sim.
- Que bom. - Ana bateu a porta.
Então Pedro voltou a analisar aquelas fotos e não percebeu que se passaram quase duas horas até Ana abrir a porta de novo. Sua concentração se quebrou porque ela jogou algo em cima da mesma propositalmente fazendo barulho. Era um envelope de papel pardo.
- Chegou na caixa de correio agora há pouco. – disse Ana. – Tinha um filhote de barata junto mas acho que não fazia parte do pacote.
- Obrigado, Ana.
Ela fechou a porta de novo e Pedro abriu o envelope. Havia uma foto ali dentro. Era uma imagem dele mesmo, ajoelhado, com o rosto enfiado dentro do visor de sua câmera, na noite anterior. Pedro virou a foto e atrás dela tinha um texto riscado em vermelho com letras retas que pareciam ter sido escritas com muita raiva, pela quantidade de vezes com que a caneta passou por cada uma delas. Ocupava quase a parte de trás inteira da foto e dizia: “melhor parar”.
Márcia enxugava um copo no balcão do bar sem prestar atenção. Sua cabeça não estava ali. Entre outras preocupações, a que mais lhe incomodava no momento era a presença daquele policial em seu bar. O homem sentava relaxado num canto do bar com sua arma em cima da mesa. Olhava para ela às vezes. A atenção de Márcia se voltou a Ezequiel, que acabava de passar na frente do bar e deu um tchauzinho sem graça para ela. Ela respondeu com um sorriso amarelo. Se não fosse a presença do policial ali, ela teria parado Ezequiel e lhe contado algumas coisas. Mas uma sugestão dada de forma muito enfática mais cedo pelo policial fazia ela tratar apenas dos seus problemas, e não dos problemas dos outros. Seria melhor para todo mundo, ele disse. Márcia queria acreditar nisso.
Uma das fotos que Pedro tirou tinha algo diferente das outras. Para além do grupo reunido em volta da cratera, Pedro se deu conta de que havia uma casa próxima à cratera. Era uma casa muito simples de madeira, que tinha uma horta e uma vaca. Ao voltar ali, Pedro se deu conta que a vaca na verdade não era empalhada. Ela estava viva, porém respirava muito pouco e parecia estar paralisada, num tipo de estado catatônico, mais até do que de costume para uma vaca. Olhou para a vaca sozinha em seu cercado enquanto entrava no quintal da casa e então tocou a campainha. Foi recebido por um jovem alto que mal aparecia por inteiro na porta.
- Hã, oi... meu nome é Pedro, eu sou detetive particular. Você mora aqui?
- Ah não, quem mora aqui é a minha mãe. Eu só venho visitar mesmo, cuidar dela às vezes. Por quê?
- Tu sabe alguma coisa sobre aquela pedra que caiu ali atrás?
- Não! Eu não faço a menor ideia, gostaria de saber também. Inclusive...
O jovem foi entrando na casa e Pedro o acompanhou. A porta dava na sala de estar e esta mais atrás dava na cozinha e era lá que, sentada à mesa, estava a mãe. Uma senhora de meia idade que tinha se tornado uma planta humana. Paralisada, com os olhos vazios, imóvel.
- Ela ficou assim desde que aquele troço apareceu. – disse o jovem.
Pedro se aproximou da mulher, encucado. Passou a mão na frente dos olhos dela como se isso fosse chamar sua atenção de alguma forma. Ela não esboçou nenhuma reação.
- Parece que isso aconteceu com a vaca também. Se tu tiver alguma informação sobre isso, por favor me fala.
- Pode deixar. – disse Pedro, sem tirar os olhos da mulher.
Da mesma forma que Pedro olhava para ela, alguém olhava para ele. Uma câmera apontava para seu rosto e tirava fotos dele dentro da casa, desde o momento em que botou os pés no quintal. A mesma câmera que bateu a foto que lhe dizia que era melhor parar. Uma câmera empunhada por um policial muito subserviente, que com sucesso já tinha conversado com Márcia.
Era mais um dia que Pedro se perdia analisando as fotos em seu escritório até depois de seu horário. Se perdendo em conjunturas, inventando possibilidades, mas sem conseguir chegar a lugar nenhum. Chegou à conclusão de que talvez fosse melhor deixar o assunto descansar por enquanto, no dia seguinte ele voltaria com a mente limpa pronto pra encontrar soluções. Desligou o computador, apagou as luzes, fingiu que não viu a infiltração no teto, trancou a porta e saiu. Mal se virou para ir em direção a seu carro estacionado nas proximidades quando percebeu duas presenças nas sombras. Dois homens apoiavam-se em um carro, como que esperando por ele. Pedro apertou os olhos para tentar ver quem eram e então os arregalou.
- Eu achei que você sabia ler. – disse o General. – Achei que você tinha lido atrás da foto que era melhor parar.
Pedro ficou sem reação. O General deu dois passos na direção dele e junto com ele foi o policial. Ambos traziam consigo sacolas do Mercado Maravilha cheios de compras.
- Achei que você tinha entendido os meus recados. Você quer que eu seja mais específico?
O General aos poucos se aproximou de Pedro, tomando a visão dele. Parecia muito maior do que Pedro se lembrava, ou talvez fosse Pedro que estava definhando diante do homem.
- Eu posso ser bem específico. – disse o General, com metade do rosto envolto em escuridão.
- Pra mim tá ótimo. – disse Pedro, com uma voz aguda que ele não sabia que tinha.
- Certo. – fez uma pausa. - Você deve estar achando que eu seria capaz de ameaças, mas eu sou um homem bom, Pedro. O que você quer pra não se meter mais nos meus assuntos?
O tempo pareceu parar diante de Pedro.
Nunca tinha ido tão longe. Nunca nenhuma de suas investigações pareceram ter consequências tão sérias para ele ou para pessoas em volta dele, ou mesmo para pessoas que ele não conhecia. Talvez para a cidade inteira. Era isso que ele queria? Não era isso com que tinha sonhado de alguma forma desde sempre? Iria largar aquela possibilidade naquele momento? Era isso que um detetive de verdade faria? O que era um detetive de verdade? Ele era um detetive de verdade? Ele seria capaz de ser um? Estaria próximo de ser um?
Pedro respondeu à pergunta do General. Este, por sua vez, apenas assentiu e foi abrir a porta do carona do carro próximo.
- Peraí. – disse Pedro. O General parou, metade do corpo para dentro do carro. – Tu é o pai do rapaz, o Ezequiel?
- Talvez eu seja. Que diferença faz? – entrou no veículo.
Os dias seguintes foram de muita movimentação no escritório de Pedro. Veio encanador, dedetizador, pintor. Foi instalado um ar condicionado para a sala dele e para a de Ana – que, por sua vez, recebeu das mãos de Pedro todos os seus salários atrasados e ainda ganhou uma bonificação pelos bons serviços prestados.
- O caso era grande mesmo, então? – disse Ana.
- Tu não faz ideia. – disse Pedro, enquanto o rapaz da loja de informática instalava seu novo computador.
Pedro saiu do escritório no seu horário de sempre. Pegou seu carro e foi dirigindo para casa sem pressa. Passou pelo bar de Márcia e a viu limpando uma mesa. Ela ergueu a cabeça. Olhou para ele. Ele olhou de volta. Não mudaram suas expressões, não falaram nada. Apenas olharam um nos olhos do outro, por segundos que pareceram minutos. Pedro nunca mais foi ao bar.
Filosofia? Não tá com nada!
Largamos esse negócio e estamos focados no que realmente interessa na modernidade: repasses premium.
Baumann Repasses Premium: aqui a negociação é SÓLIDA.
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