Não Sei Desenhar ꜝ186 - 30/05/25
Achei interessante o conceito de "frio". Já entendi. Não precisa mostrar mais que isso. É frio suficiente já. Está bom.
E o Cymande que lançou álbum novo? Uma das bandas mais clássicas da soul music inglesa, com um groove sempre quebrado, percussivo e muito classudo, leve de ouvir. Vide esse clássico deles:
O álbum novo segue a mesma vibe no geral…
… mas o hit mesmo é a música que abre o álbum. O groove inicial hipnótico se transforma quando entram os violinos, levando a música pra outro nível. Quando eu ouvi pela primeira vez, achei que era algum som perdido deles dos anos 70.
Ainda na vibe funkeira, tem o novo do Kneebody, só que só instrumental
E seguindo na calmaria, saiu o novo do Stereolab depois de muito tempo. O som prossegue aquele indie pop gostosinho ligeiramente eletrificado
Depois de um spaghetti western semana passada, fiquei encucado com cinema italiano de gênero e fui atrás de um poliziotteschi: vi The Big Racket (1976, do Enzo Castellari, supostamente também chamado de A Grande Extorsão). Me parece ser um belo resumo do que é esse subgênero. O poliziotteschi surgiu durante os Anos de Chumbo da Itália, uma época de bagunça política e violência generalizada. Máfia bombando, terrorismo de esquerda e de direita, insegurança, nada parecia funcionar… os poliziotteschi então são filmes policiais meio que na onda de filmes policiais americanos tipo Dirty Harry e Desejo de Matar, só que produzidos localmente e totalmente atolados desse contexto.
The Big Racket parece um retrato disso tudo, do meio do olho do furacão. Ainda que, claro, sob a lente do cinema de gênero. Não tem nenhum interesse em botar os personagens discutirem política mas a forma como a narrativa os mostra acaba dizendo muito. A cena inicial (foda) é violência em estado puro. A iluminação vermelha no rosto deles, que poderia muito bem remeter à polícia, só deixa tudo mais pungente. Policial tenta pegar de todo jeito uma gangue de mafiosos que acaba com pequenos negócios locais e depois cobra uma grana em troca de “segurança”. Os desafios dele acabam sendo o medo dos lojistas, a politicagem da justiça, os advogados… então ele vai fazer as coisas do jeito dele. O filme não exatamente o coloca como herói (por mais que o Fabio Testi seja a lata do Sean Connery), ele mesmo acaba indo fazer arranjos escusos pra fazer o que quer e acaba sendo demitido lá pelas tantas. No fim não é como se ele e seu grupo estejam atrás de justiça: ele mesmo diz que o negócio é vingança mesmo. A história vai construindo e claramente buscando a revolta do espectador, colocando os mafiosos como agentes do caos sem nenhum tipo de piedade. Eles são só vilões, e eles tem chefes muito poderosos. Mafiosos de todas as gôndolas do supermercado do crime que estão em conluio com a justiça, e a política não funciona. Inclusive ninguém é particularmente profundo em termos de personagem aqui, mas esse nem é o foco: o personagem central parece ser a sociedade italiana e o que a gente tá vendo é ela se debatendo na nossa frente. Os mafiosos usam a política pra enganar o público, tem golpista que é bonachão, tem pai de família quer matar assassino… é um grande turbilhão.
Tudo isso vem pela narração dinâmica e direta do Castellari. O olho pra composição dele é muito foda e ao mesmo tempo parece não ter muitas firulas, é tudo em busca do impacto da narrativa e da ação. Tem carro capotando, tiro e sangue pra todo lado, umas lutas mano a mano através de uma arte marcial que dá a impressão de ter sido inventada na hora… tem toda uma breguice e um exagero tipicamente italianos rolando aqui, não há dúvida. Mas a graça é essa, claro. O contexto espacial só é apresentado quando importa, várias das cenas são só closes em rostos. Existe uma preocupação aqui com os olhares e com as reações e como as pessoas se comportam diante dessa violência incessante.
O último plano do filme inclusive parece falar sobre esse ciclo de violência. Quando o protagonista vence (spoiler mas né), ele não descansa, não faz uma pose heroica, não vai atrás da família (ninguém foi propriamente salvo, inclusive). Ele só começa a bater com a arma em alguma coisa. É quase como se a violência a essa altura já tivesse sido internalizada por todo mundo ali, já se tornou normal, doentia, e já não tem mais escapatória que não seja mais violência.
Tive que catar de certos jeitos por aí, mas tem no Youtube com áudio em inglês e sem legenda.
Em mais um esforço de reportagem da newsletter Não Sei Desenhar, eu, a minha namorada e a irmã dela fomos à Grandiosa Festa Em Honra A Nossa Senhora do Caravaggio, no bairro Caravaggio, Nova Veneza, SC. Tudo que aprendemos lá você descobre agora nesse trabalho pra aula de história:
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