Sendo esta a edição de número 182 da newsletter, nada mais justo do que eu falar sobre a minha relação com uma banda cujo nome inevitavelmente vem à cabeça quando esse número aparece.
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Pra quem tem interesse num prog altamente dramático, climático e com altas guitarreiras (e com uma dose forte de breguice legal), tem o Alan Parsons Project fazendo uma adaptação de Eu Robô nesse álbum deles de 1977
E essa playlist do Numero Group traz uma bela selecta de PETARDOS de emo clássico/post-hardcore.
Aliás, RIP atrasado pro David Thomas, do Pere Ubu, que só depois de sua morte fui descobrir que também esteve envolvido no Rocket From The Tombs, banda seminal do proto-punk que também daria origem ao Dead Boys.
Sua Única Saída (Pursued, de 1947) é um western noir do Raoul Walsh no qual a história se repete não como farsa, mas como tragédia de novo. Apesar disso, aqui o ciclo eterno de tristeza, violência e ressentimento que envolve os personagens pode sim ter um fim, e o amor surge como uma das armas.
Considerado meio que um dos primeiros westerns “psicológicos”, seu protagonista lida diretamente com um trauma de infância ao longo do filme todo e isso o define, até então, como pessoa. O personagem, interpretado pelo Robert Mitchum, é uma pedra humana. Trocentas coisas passam pela cabeça dele mas isso nunca transparece, a menos que ele queira, ou que lhe acometa inadvertidamente. Ele tenta sim mudar sua própria história mas a repetição dela parece persegui-lo, contra sua vontade. O próprio destino parece estar contra ele. O mundo à sua volta o força à violência. O personagem do Mitchum não chega a ser um homem sem passado como muitos protagonistas de western, mas seu passado está enterrado e ele precisa trazê-lo à tona pra que as coisas se resolvam.
É foda como o Walsh impõe um ritmo certeiro o tempo todo, tanto na edição quanto no enquadramento e na maneira como esses elementos contam a história. Os personagens se apequenam diante do Monument Valley (onde o filme foi rodado, tal qual uma caralhada de outros westerns), e frequentemente lutam com as sombras noturnas que parecem engolfá-los e que são por si só metáforas da situação toda. Aqui, o dolly in/zoom in não funciona pra mostrar o impacto do heroísmo como o John Ford faz na cena que apresenta o personagem do John Wayne em No Tempo das Diligências, mas pra nos aproximar ainda mais desse protagonista quebrado pelas circunstâncias.
Tem no Youtube no Acervo en Scène, legendado e em HD.
É estranha a sensação de ter coisas pra falar aqui, só que eu nem sei nem o quê direito. A cabeça parece que não funciona cem por cento, talvez a inspiração não venha - não que ela precise vir de alguma forma, mas é preciso fazê-la florescer, aparecer, sair da inércia pra andar de novo. Não é simplesmente uma questão de sentar e esperar, é uma questão de sentar e escrever pra ver as palavras saindo, sozinhas, quase por conta própria, com uma vontade inerente a elas mesmas, quase como num vetor de fluxo direto e frequente, simplesmente jorrando. Eu, por exemplo, nem sei o que tô escrevendo agora - e o azar é de vocês, eu acho. Quisera eu ter algum lugar pra chegar no meio dessas palavras, aqui a coisa não funciona exatamente como a gente quer, mas não é essa a graça dessa newsletter? Provavelmente não, na verdade. Eu nem sei o que vocês querem ver, mas também não sei se deveria me importar. Talvez em algum grau, mas não muito. Não somos muitos aqui, essa microcomunidade, o nosso cantinho na internet, o cantinho que eu divido com vocês, mas quero acreditar que seja aconchegante, quentinho e cítrico e divertido. Mas se não for também, tudo bem. Eu acho. O importante é só largar essas palavras pra ver elas saindo, surgindo como se brotassem do chão num videogame, automáticas.
sei lá