Não Sei Desenhar ᶛ174 - 07/03/25
tem dias que o calor frita o cérebro da gente e não sobra nada muito mais complexo a se dizer
Eu queria voltar a comprar alguns quadrinhos tipo os da Panini só que eu queria edições SEM luxo. Deu de luxo. Me dêem umas edições meio vagabundas mesmo, tá de bom tamanho pra algumas coisas. Chega de capa dura. Deu de edições Deluxe, me dêem edições Delixo.
Tem quem diga que as decisões do Oscar como um todo são recados, e no geral faz sentido. Só não sei até que ponto os recados são ouvidos e levados a sério. A escolha de Anora a Melhor Filme e outras categorias + o discurso de vitória do Sean Baker parecem falar sobre uma tentativa de voltar os olhos da indústria pra um cinema de menor escala, mais pé-no-chão, mais simples e menos espalhafatoso. Mesmo o prêmio de Ainda Estou Aqui parece ter a ver com isso, por mais que não seja exatamente um filme independente: é um drama de um escopo pequeno em estrutura. O prêmio de Flow vai pelo mesmo caminho: filme pequeno de um país minúsculo, feito num software open source.
Outra coisa que me fez pensar nesse lance dos recados foi a homenagem aos Broccoli: o número com músicas clássicas de filmes de 007 pareceu uma elegia. A marca 007 agora tá totalmente nas mãos do Jefferson Beijos, e consequentemente fora das mãos de Hollywood e dos produtores originais. Sabe-se lá o que vai ser dela, mas é um sinal do poder da indústria se esvanecendo diante das big techs. Se não é um recado, é um sintoma.
ou também não quer dizer porra nenhuma
o mundo da propaganda segue firme e forte
Ainda nos restolhos do Oscar:
A Substância é outro daqueles que é complicado. É claro que a mensagem do filme é pesada e justa, o problema é que ele fica martelando isso o tempo inteiro e ele fica repetindo uma série de coisas da história como se a gente não tivesse entendido. Tudo bem que ele trabalha numa chave nada realista, mas acho que a personagem da Demi Moore acaba perdendo força no meio dessa brinks (ainda que o esforço da Moore como atriz seja bem válido). As referências a O Iluminado parecem estar deslocadas do esquema todo: não sei se é uma tentativa do filme de querer se colocar num tipo de linha sucessória, algo assim.
Nickel Boys é simpático no seu gimmick de usar praticamente só planos em primeira pessoa. Parece ter a ver com uma proposta do filme de buscar histórias em experiências compartilhadas, é a definição do Roger Ebert do cinema como uma “máquina de empatia” em seu resumo mais óbvio. Acaba tendo laços próximos com Ainda Estou Aqui no lance da memória. Só que a edição quer muito ir e voltar no tempo e isso acaba tirando muito da força da narração. Alguns mistérios acabam desnecessários ali no meio.
Saiu álbum novo da Nao, cantora inglesa que faz um neo-soul/pop bem gostosinho e bem bolado. Por um momento, lá atrás, na época do álbum dela de 2016, eu achei que ela ia estourar. Saca essa:
Vai dizer que não merece?
Não estourou mas o som continua bem bom, é o melhor dela em muito tempo.
Nem ouvi tudo ainda mas o que tem já vale: o novo do Darkside, trocentos anos de lançar o hit Paper Trails. É o projeto mais roque/psicodelia do Nicholas Jaar, também o cara por trás do projeto de música eletrônica Against All Logic. Altos climas e grooves e texturas legais
Acho que caí no conto do Balatro. Pra quem não tá ligado, é um videogame de pôquer roguelike. Cartas tem poderes, vão subindo de nível, os teus flushes e trincas e sequências vão ficando mais fortes e etc. A curva de aprendizagem é bem suave e o jogo ajuda gente como eu que nunca lembrou direito a ordem das coisas no pôquer. Uma das grandes forças dele é a interface de usuário, que parece que resume tudo de forma direta, sem firulas, e deixa tudo muito prático. Exceto quando eu seleciono cartas e troco os botões de descartar com o de jogar mão e vice-versa. Que interface horrível.
Inclusive o LocalThunk, o desenvolvedor solo, lançou no site dele uma linha do tempo do desenvolvimento do jogo e é bem legal ver por onde passa a coisa toda.
Fica o registro de que a newsletter chegou a 300 assinantes, o que talvez pareça pouco mas se for ver mesmo é bastante coisa pra esse lance extremamente nichado que é essa newsletter. São só os meus gostos pessoais e as bobeiras que eu faço e ainda assim tem gente interessada e isso é louco de ver. Obrigado a todo mundo que acompanha, e em especial à
e ao sistema de recomendações do Substack, sem os quais esse número não seria possível.