Não Sei Desenhar ↨170 - 07/02/25
eu juro que tinha alguma outra coisa moderadamente engraçada pra escrever aqui
Deu bom o financiamento coletivo do Fronteiras Siderais, coletânea da Editora Mundo que vai trazer um conto de space opera que eu cometi! Valeu demais pra todo mundo que apoiou. Mas a campanha ainda tá rolando até dia 15/02, então não perca tempo e adquira agora o seu exemplar antes que acabe. Depois não quero ouvir reclamação. “Ah mas eu” não quero saber
Faça como todas as pessoas que apoiaram o projeto até agora: emporcalhe sua biblioteca com um livro que tem o meu nome na capa! Vamos ser felizes juntos.
É mais um dia em que faz um calor vergonhoso em Criciúma, Santa Catarina. Porém, às cinco da tarde, chove. Uma chuva que é uma promessa. Quem vive aqui há mais tempo sabe que ela não vai ser cumprida tão cedo. Não vai refrescar tão cedo. E mesmo que refresque, vai ser momentâneo, como tudo.
A chuva das cinco da tarde de um dia de fevereiro soa justamente como o álbum da Dagmar Zuniga. Gostastes de Cindy Lee? Essa moça vai na mesma onda. Um pop simples, gravação tosca, ares espaçados, oníricos. Não tem no Spotify.
O sol prossegue no meio da chuva. Deixa de ser promessa pra virar uma ameaça constante, como aquela lua no Zelda Majora’s Mask - um jogo que eu nunca prestigiei, mas pelo que eu sei aquela lua horripilante tá caindo no mundo de Hyrule.
O que inclusive me lembra muito de uma fase do Sonic 3 & Knuckles, uma imagem que me apavorava muito quando era criança: uma cabeça gigantesca do Robotnik que surge no cenário enquanto os personagens caem. Essa cabeçorra fica ali a fase inteira, espreitando com esses olhos de maluco.
(Eu nunca tinha falado disso na newsletter? A minha memória e a busca do Substack parecem estar me enganando de novo)
A chuva prossegue, com uma força que vai e volta, e o calor permanece junto. Não parece haver chuva que dê conta. O violão da Dagmar Zuniga toca lentamente, de forma quase preguiçosa, se esvaindo. A chuva está azulando o que eu vejo pela janela. As estradas já estão molhadas e empoçadas. Quase chegou a altura em que o motorista criciumense esqueceu como se dirige, o momento mais mágico das horas de chuva da cidade. Um incrível fenômeno da natureza: a chuva cai, a habilidade de dirigir evapora. Por sorte as crianças ainda estão de férias, então o movimento talvez seja menor hoje.
O sol já está abrindo seu sorriso punitivo novamente. Tem uma brisa rolando, pelo menos. Nada mudou. A lua de Majora’s Mask continua se aproximando.
Dias depois, uma brisa quase morna pela manhã. Só resta aproveitar o hoje.
O Expresso de Shanghai que dá título ao filme (1932, do Josef Von Sternberg) é como se fosse uma Torre de Babel horizontal: uma confluência louca de sotaques e trejeitos e, no meio da bagunça, uma história de espionagem política e romance. Tudo ocorre quase com uma certa frieza, que vem da fotografia impecável que deu o Oscar pro Lee Garnes mas que supostamente foi feita pelo próprio Von Sternberg. As coisas se desenrolam com uma naturalidade estranha, como se tudo precisasse ocorrer exatamente como ocorre.
A questão da fé e da resiliência do amor diante de preconceitos morais é central aqui. Conhecemos um bando de europeus pentelhos, uma velha que engana o pessoal do trem escondendo um cachorro, um cara que só quer de aposta, um velho alemão hipocondríaco, um francês chato… de alguma forma eles não funcionam juntos mas esse que é o grande lance. Ninguém bota fé na personagem da Marlene Dietrich, a Shanghai Lily, porque ela é uma prostituta famosa. Ela vai se reencontrar com o amor de sua vida no trem, embora tudo que ocorra entre os dois se desvele só no final (junto com a trilha sonora extradiegética do filme), porque até então tudo parecia só uma conversinha não muito séria, graças principalmente à interpretação da Dietrich. Tem uma única cena em que a personagem parece mostrar o que sente de verdade e é a mais bonita do filme tranquilamente - isso num filme cheio de imagens fodas.
Inclusive é curioso notar como, no cômputo geral, as personagens que tem as ações mais impactantes pro mundo do filme são as que menos importam pro bando de velhos resmungões e hipócritas que são os outros ali da primeira classe do trem. Tudo roda por causa delas, através da fé e do amor ou da violência. (Aliás as duas personagens interpretadas por um casal lésbico na vida real aparentemente??? Brabas)
E pô, não dá pra não destacar a forma como ele usa os fades entre as cenas, tudo muito lento e calculado (como tudo na sua direção aparentemente), ainda que muito efetivo. Os planos transbordam seus significados pra dentro um do outro em vários momentos, vide a cena final. No meio da bagunça do lugar, o amor prevalece.
Tem no Belas Arte À La Carte.
Africanoise é o projeto do baterista Renato Júnior em que ele mistura toques de candomblé e sons próximos com música eletrônica, basicamente techno. Resulta num som profundamente percussivo, com grooves meio inesperados. Doideira.
VAI TOMA NO CU MARCOS ZUCKEBERG 🖕 - TROPA DO XANDÃO - MC LUIGI MANGIONE DA NOVA HOLANDA ( DJ PS2 DESBLOQUEADO ) [[ PIQUEZIN ÓDIO DE CLASSE]]