Não Sei Desenhar ᴝ169 - 31/01/25
edição especial SEXO. Pois 169 hahahah ai gente alguém me segura
Os Condores do Oriente (Eastern Condors, 1987) é mais uma baguncinha gostosa do Sammo Hung. Pancadaria clássica de Hong-Kong da época, com tudo que o Hung sabe fazer de melhor. Depois de ter lido numa entrevista recente que ele se inspira muito no King Hu (o que não deveria ser nenhuma surpresa), ficou bem claro nesse filme como ele se utiliza de alguns dos métodos do mestre. A montagem e a decupagem são muito precisas e tem até umas câmeras lentas, algo meio raro na forma de filmar ele até então.
A história é um lance tipo Os Doze Condenados com um monte de chineses (ou sino-americanos) trabalhando pro exército americano. Lá pelas tantas vira um lance meio confuso mas o que importa é a emoção. O diálogo final parece encapsular muito bem a política do filme.
Do Sammo Hung antigo pra um recente de 2024, o filme que o Oscar escolheu ignorar pra concorrer a Melhor Filme Estrangeiro: Twilight of the Warriors: Walled In (do Soi Cheang). É uma grande homenagem aos filmes de ação de Hong Kong dos anos 80 mas costurando referências que lidam com o cinema wuxia como um todo. Cada cena de ação parece pegar um pouco de cada momento histórico: tem de superpoderes espirituais a la filmes mais fantasiosos a brincadeiras com o cenário e coisas mais realistas justamente a la Sammo Hung oitentista.
No começo parece que ele vai se importar com questões morais acerca da dominação da cidade de Kowloon por traficantes mas essa moral parece se transformar depois junto com a própria transformação do protagonista. As leis de Kowloon só funcionam ali, daquele jeito, com aquelas pessoas, e elas estão literalmente inscritas no concreto das paredes. A moral que interessa não é a que julga os traficantes, aqui eles são muito mais que isso. Isso tem muito a ver com o próprio gênero dos filmes de ação chineses dos anos 80, em que o submundo sempre foi tratado com franqueza.
É um caso clássico onde a cidade é um personagem, os planos abertos a mostram em todos os seus detalhes e sua claustrofobia, todos os cabos e canos se sobrepondo e engalfinhando aquelas pessoas. Muito louco pensar que tinha gente que morava ali daquele jeito. O filme bebe de uma nostalgia da cidade da época e talvez de uma Hong Kong do passado como um todo, mas o grande interesse parece ser a passagem de bastão entre uma geração anterior (aqui entra o Sammo Hung e outros caras das antigas) e uma nova, que se importa com as tradições mas que faz as coisas do seu jeito. O uso de “crepúsculo” no título não é à toa.
Tivesse eu uns 13 anos ao assistir, teria pirado ainda mais.
Por motivos, ando pesquisando umas coisas sobre alguns JRPGs da época do Playstation 1 e acabei indo parar, por proximidade temporal, de volta no Chrono Trigger. É um jogo de SNES que teve uma versão pra PS1 também, lendária, com suas cutscenes em anime e tal. O que eu nunca soube é que tinham lançado pra ele um curta que passou numa convenção da editora Shueisha em 96, Dimensional Adventure Numa Monjar.
Quisera eu não ter sabido.
Tá, tô exagerando. É que ele é um troço bem qualquer coisa. Pega dois monstros do jogo e os transforma numa dupla muito atrapalhada que vive aprontando altas confusões e aí é um verdadeiro deus nos acuda. E aí se passa um dia antes do começo do jogo. E os personagens iniciais do jogo aparecem em uma cena!!!! Tocam as músicas do jogo!!!! Fanservice!!! Yaaaaaay
Pra quem quiser matar a curiosidade, tem no Youtube legendado em inglês numa qualidade porquíssima (mas aí vocês esperavam o quê).
Ainda sobre produtos relacionados ao jogo, descobri também um álbum de músicas rearranjadas em versões acid jazz da trilha sonora dele. Assim: versões de músicas em gêneros diferentes viraram uma commodity de conteúdo em tempos de Youtube. Hoje em dia não tem mais graça alguém fazer uma versão metal de Descer Pra BC (se é que algum dia já teve). O fator curiosidade desse gênero musical não me atrai mais, embora nos anos 2000 isso fosse menos comum. Tinha aquela banda que fazia versões country/bluegrass de roque, e aqueles franceses que transformavam pós-punk dos anois 80 em bossa nova. Vocês sabem do que eu tô falando. HARDNEJO SERTACORE foi uma coisa que existiu e teve um certo sucesso nos recônditos alternativos.
Nos anos 90 isso era ainda mais raro, ainda mais um lance assim tão específico. Até porque hoje em dia ninguém se importa mais com acid jazz. O que a gente tem no álbum acabam sendo versões realmente criativas da trilha, partindo pra vários gêneros musicais (uma vez que a própria definição de “acid jazz” é algo bem solto) e atingindo resultados de qualidade variada. Parece que ele vai perdendo a graça mais pro final, mas como um todo é um lance bem legal. Mas é nichado: acho que a experiência ideal do álbum só surge quando já se jogou o jogo e já se está com as músicas marcadas no cérebro. Pra além de tudo isso, o álbum tem essa capa que num primeiro momento não tem NADA a ver com o jogo e isso é simplesmente muito foda. Se fosse hoje feito hoje em dia teria um maluco fazendo cosplay de Crono na thumb do vídeo com uma guitarra na mão.
Talvez muita gente já tenha passado por ele, mas não custa registrar aqui: o álbum novo da FKA Twigs tá bem legal. Ou a minha memória me engana, ou esse é o álbum mais pop dela. Os outros eram mais experimentais, não eram? Aqui a parada é bem mais voltada pra pista, as melodias são mais facilmente cantaroláveis, e por mim tudo bem. Parece que tá num meio-termo entre a Madonna e a Björk.
Essa banda só lançou duas músicas até agora e elas já estão entre as minhas preferidas do ano. É um indie rock bem dramático, às vezes pesado, às vezes criando clima, com piano, violino e tal… funciona bem.
Depois de dois meses e pouco eu finalmente terminei de ler Moby Dick.
Pra além da doideira de mistura de gêneros, do ensaio científico à peça teatral; da narração em tom bíblico; da luta do homem contra a natureza; do Destino se aproximando fatalmente na forma de um animal tão titânico quanto as pretensões do livro…
O que ninguém conta é que o verdadeiro nome da baleia é Mobbert Dickinson
Ainda acho o CAPRISONGS o álbum mais pop dela!