Se tem um filme que existe na periferia da narrativa periférica é A Vizinhança do Tigre, de 2014, do Affonso Uchôa. Ele foge totalmente de qualquer tentativa de espetacularizar as vidas de vários personagens que vivem numa favela de Contagem, Minas Gerais pra trazer um retrato que tá a um pé de ser documental. Ao mesmo tempo, tem uma visão cinematográfica muito precisa, uma fotografia que faz muito com pouco. Transita entre o Pedro Costa e o Robert Bresson de certa forma. Não foge da escuridão e aproveita muito bem o contraste natural do equipamento muito simples que é usado. Os créditos comprovam: a equipe de produção é minúscula e o orçamento foi duas balas 7 Belo. O que eles conseguem tirar daqui cinematograficamente é coisa de louco.
O filme pega várias passagens do dia-a-dia daquelas pessoas e transforma na sua história: em vez de pegar os grandes momentos de possíveis dramas na vida delas, tudo se costura a partir de momentos banais e pedestres. Sabe o que o Hitchcock fala sobre pra fazer uma boa história, é só pegar a vida e tirar as partes chatas? Ou algo assim. Vocês sabem. Aqui, são essas as partes que ficam - e isso é um elogio. As partes que importam são as relações entre as pessoas, os pequenos momentos, as ajudas, as trocas, as amizades. As drogas e o tráfico estão ali mas como parte da vida deles, sem nenhum tipo de julgamento moral ou coisa que o valha. Inclusive ninguém aparece propriamente trabalhando em momento nenhum. O que define esses personagens não tem a ver com a visão que se esperaria ver em um filme sobre favela. Mais do que um filme “sobre” favela, é um filme da favela. Tudo foi criado ali e a câmera parece que só registra tudo da melhor forma possível.
Pra além de tudo isso: declaro aqui o sotaque mineiro como um dos 3 melhores do Brasil no mínimo (não sei quais os outros dois).
Tem na Filmicca mas se acha no Youtube também (aparentemente no canal de um dos atores, no qual a maior parte do conteúdo é ele e outras pessoas comendo????).
O filme inclusive conversa de uma maneira interessante com um outro, de 1998: Gente da Sicília, do casal Straub-Huillet. Ambos são sobre as relações interpessoais e sociais num lugar pequeno e relativamente inóspito, sobre essas pequenas histórias que acontecem nos encontros, de uma forma meio bressoniana também.
Só que aqui Straub-Huillet vão além no sentido de brincar com o tempo fílmico. Eles entortam, esticam, deixam sobrar, deixam faltar. Não só o timing do filme é particular, a exploração da memória no tempo é essencial também. Há inevitavelmente um tom brechtiano na forma como todo mundo atua e como isso colabora com a questão do esticamento do tempo pra nos lembrar que esse é um filme, uma encenação, tudo é matéria pra criação.
E que tal um emo-post hardcore anos 90 bem Naquele Pique? No caso, o álbum do Hoover de 94
No Extremo Oposto, esse ano teve um álbum novo do SUSS, que é uma banda de ambient country. Fique com esse conceito
por hoje é só