O primeiro longa-metragem da Bahia saiu em 1958 foi dirigido pelo Roberto Pires e se chama Redenção. É tipo um drama noir em plena luz do sol, com um certo pé num suspense bem hitchcockiano. E curiosamente foi filmando em “Igluscope”, uma lente criada pelo próprio Pires (usando equipamento da ótica que o pai dele tinha) e que acaba lembrando um scope de filmes chineses. Por muito tempo foi dado como perdido mas hoje em dia tem no Youtube com o que deu pra salvar da versão original em 16mm. Então faltam frames aqui e ali e o som tá bem complicado de entender.
Esse é o primeiro filme do Roberto Pires mas já dá pra ver que tem coisa ali: os enquadramentos são quase metódicos, bastante funcionais pra narrativa, e os efeitos de luz e som são bem óbvios mas tudo parece se encaixar. A história é quase um fiapo mas aos poucos as coisas se encaixam ainda que sem tanto suspense porque a gente já meio que sabe o quê é o quê. Mas é interessante como a narrativa se preocupa menos, no geral, com o suspense, e mais como a questão ética do protagonista.
Também traz um clássico uso do tropo do “maluco perigoso que escapou do sanatório”, coisa que depois a gente veria com mais frequência em obras como Chapolin.
Tem no Youtube e tem uma hora de filme! Bem que isso podia ser mais comum.
Fiquei curioso agora pra ver particularmente Abrigo Nuclear, o filme de ficção científica que o Pires fez em 81.
Esse vídeo do Man Carrying Thing é muito ON THE SPOT
Recentemente eu falei aqui de um OVA de anime que era um lance muito anos 80 e que era quase um clipe de música de 40 minutos ao som de city pop. Acontece que isso é um mini-subgênero. Tava na minha lista há muito tempo um OVA chamado Nineteen19, que vai na mesma onda só que é ainda mais a epítome da estética japonesa dos anos 80 (apesar de ter saído em 1990… que é tecnicamente ainda anos 80 né convenhamos).
Ele resume toda a empolgação capitalista do Japão da época. Várias cenas ostentam logotipos e propagandas de tudo quanto é marca, de Panasonic a Rolex, sem apelar pra trocar nomes, e tudo é exibido numa chave de “olha só como é legal a CIDADE GRANDE”. As imagens de propagandas parecem ser um elemento importante da cidade enquanto personagem. Nela, adolescentes usando ternos se relacionam com meninas em baladas e tem um emprego maomeno enquanto decidem o que fazer da vida, esse momento de transição da vida que tanto Nineteen19 quanto o Bobby’s In Deep parecem romantizar. Tudo isso, claro, com um city pop torando nas caixas de som. A música tem um papel fundamental na narração e não é por acaso que o anime foi distribuído (e provavelmente financiado) pela Victor, empresa subsidiária da JVC e que lida com coisas de música em geral. Lá pelas tantas até aparece um toca-discos da marca.
Por falar em aparecer: todo e qualquer quadro desse anime parece feito pra se tornar capa de álbum de city pop. É impressionante, e provavelmente não é por acaso também. A animação brinca com molduras diferentes, montagens com papel branco de fundo e canetinha, cenas que parecem trabalhos do Eizin Suzuki (responsável por essa capa clássica de um álbum da lenda do city pop Tatsuro Yamashita
e por aí vai). Tudo isso embalando uma história de romance adolescente agridoce, onde um virjão (em corpo e espírito) encontra na balada uma ex-colega de colégio por quem ele tinha um crush e aí ela chama ele pra dançar uma música lenta - “cheek time” como é dito no anime, ou “hora da bochecha”, aqui no Brasil seria a HORA DA LENTA. Isso quando a balada não tinha uma “pista lenta”. Por onde andará a música lenta pra dançar né
No fim, ele funciona em vários sentidos: como uma cápsula do tempo de uma época, como história de romance, como animação (mais um trabalho da Madhouse, os caras que faziam tudo na época). Tem no Youtube e tem 43 minutos! Bem que isso podia ser mais comum.
A versão abaixo tem a melhor imagem (ripada do saudoso LASERDISC) e legendas em inglês…
… mas também tem com legendas em PT-BR com imagem em qualidade bem menor.
Inclusive, fuçando no canal do cara que upou o vídeo do laserdisc do Nineteen19, descubro um VHS que é só uma atriz japonesa, “the queen of cuties”, fazendo coisas pra câmera. Tipo, comprando roupas, andando de carro, abastecendo o carro, tomando banho de mar de biquíni. Não tem história nenhuma. É como se a câmera fosse o espectador (ênfase em “o espectador”, porque isso é claramente voltado pra homem hétero japonês) e ela só fica fazendo coisas. Veja bem, não é nem pornô. Quero dizer, talvez seja um pornô de relacionamento, mas não é um “pornô sexual” (???). Aparentemente tem uma cena de banho de banheira dela, mas pelo visto não passa disso. Na descrição o cara dá a entender que isso é um “bikini video” e que isso é um subgênero por si só.
Em outras palavras: Japão
álbum novo do Flamingosis é o melhor dele em muito tempo: composições bem legais, produções mais “carnudas” de certa forma, e muito divertidas de ouvir. Som de verão, é claro, mas eu deixo vocês ouvirem no inverno e com chuva
Agora, um som invernal mesmo é o novo da Beth Gibbons: um lance mais introspectivo e climático mas cheio de hits de alguma forma. Pra quem não sabe/lembra, ela era vocalista do Portishead, banda essencial do trip hop dos anos 90 e 2000. Brabo demais, um dos melhores do ano desde já
Outro foda que saiu recentemente, numa nota um tanto triste, é o novo do Shellac que saiu uma semana depois da morte do vocal/guitarra, Steve Albini. Os caras seguiam produzindo - e mandando MUITO bem. Guitarreira distorcida, angular, no limite do melódico em vários níveis. Pena que acaba rápido.