Não Sei Desenhar ₹134 - 10/05/24
já pensou que incrível seria se eu soubesse o que escrever aqui
Numa pesquisa recente envolvendo grooves brasileiros, resolvi ir atrás de coisa da fase pós-clássica do nosso amigo Jorge Duílio Lima Meneses. Muita coisa ali eu não tinha ouvido, tirando uns hits clássicos do final dos anos 80/começo dos 90 como W/Brasil e Engenho de Dentro que tocavam com alguma frequência na rádio 105 FM de Criciúma/SC
alguém disse anos 90?
Só que, obviamente, tem muita doideira correndo por fora nos 40 nos de discografia dele. Por exemplo, que tal a música que abre o álbum Dádiva, de 1983, que tem a participação do Tim Maia cantando uma daquelas letras do Jorge Ben que parecem ter sido copiadas de algum livro de geografia (nada contra)
Dizem que ela é descendente
De um antiquíssimo império habitado
Por pessoas felizes e poderosas
Império esse que antes de Cristo
Um filósofo grego mais conhecido por Platão
Escreveu e falou de uma ilha chamada Atlântida
Eu não consigo deixar de imaginar o Tim Maia (ele próprio alguém que costumeiramente escrevia letras quase telegráficas) olhando pra isso e dizendo “sério mermo, Jorge?!”
A letra chega a discutir a própria forma de medir o tempo
Que sumiu sob o mar
Há 10 mil anos e cacetadas
Cacetadas não valem
Há 10 mil anos e lá vai fumaça (agora vale)
Era uma ilha, um grande reino habitado
Por pessoas felizes, bonitas
Cultas e até poderosas
Métrica? Foda-se a métrica. Continua uma sonzeira.
E se a gente der um salto de alguns anos, vamos parar no último álbum de estúdio dele, o Recuerdos de Asunción 443, de 2007. Aqui encontramos uma letra que continua com o tema esotérico e fantástico, agora falando de um povo antigo e muito pouco estudado pela ciência: o Emo.
Veja bem: 2007 era o auge do emo enquanto subcultura, enquanto TRIBO adolescente/pós-adolescente. Aqui o Jorgera trata eles com a visão terna de um senhor amigável olhando pra um bando de moleques
Emo, Emo
Atitudes desconfiadas
Roupas coloridas, transadas
Cabelos nem punk, nem rastafari
Parecem anormais, mas são normais
Parecem ilegais, mas são legais
“Parecem ilegais”? Alguns diriam que deveriam ser mesmo.
De qualquer forma é curioso ver que ele fala dos emos de um jeito pra além do estereótipo que os roqueiros (e meio que os próprios emos) falavam na época
Emo, Emo
Não deixe de brincar, não deixe de amar
Não deixe a felicidade acabar
Aproveite a adolescência
Essa coisa aborrecente maravilhosa
Sem você perceber vai passar
Não deixe a felicidade acabar, emo
Foda que a música é esse reggaezinho xoxo.
Fica aí então o desejo extremamente emo a todos os emos:
Emo, pra você meu amigo emo
Muita luz, muito Sol
Muito céu azul
Fé em Deus e pé na tábua
ainda no tema mas fora do tema:
álbum novo do Ibibio Sound Machine tá bem legal, afro-pop altamente dançante
e o novo do Mdou Moctar segue com as guitarras doidíssimas da cultura tuareg misturado com psicodelia
e ainda: RIP Steve Albini, produtor de Nirvana, Pixies e mais uma cacetada de bandas. Importantíssimo pra cena independente norte-americana e cuja influência vai resvalar no rock do mundo todo. Vale muito ouvir particularmente o Shellac, uma das bandas dele, post-hardcore agressivo em que ele tocava guitarra e cantava
Já vi esse filme ser vendido como o Taxi Driver japonês, mas ele acaba sendo mais algo com o tom de um Dr. Strangelove com quê de Operação França e Death Note se pans: The Man Who Stole The Sun, de 1979, dirigido pelo Kazuhiko Hasegawa.
Maluco professor de ciências é ao mesmo tempo bem quisto pelos alunos porém como a gente vê já pelo início do filme o cara é esmagado pela sociedade japonesa. Aí ele resolve criar uma bomba atômica.
O tom tá muito mais pra uma comédia que beira o absurdo e o roteiro é muito mais bem amarrado do que eu imaginava, a vibe de thriller se mistura com um lance de comédia de erros com alguma frequência porém tudo faz sentido dentro do conceito meio fantasioso do filme. Não é por acaso que o protagonista vive vendo TV (e esse é um dos principais motes da trama) e é meio que influenciado por Ultraman e Astro Boy e Tarzan. A influência da cultura de fora (e mesmo da cultura pop interna) sobre tudo é quase palpável. Existe um exagero geral que fica no limite do naturalismo.
Tudo é costurado pelo niilismo punk da direção. A coisa toda é muito bem filmada e é muito louco como as reais motivações do professor nunca são declaradas, parece haver um embate de povo x autoridades muito claro mas ainda assim o professor não é tratado como um mero herói - ele tá mais pra um psicopata mesmo. Que tudo se exploda? Sei lá também. O professor também não sabe, pelo visto.
Tive que ver baixado não lembro nem de onde e com legenda em inglês, vou ficar devendo essa.
Aliás, o pôster é muito foda:
(parece design do Tadanori Yokoo mas não tenho certeza)
(colocando outro trailer aqui porque o trailer original japonês entrega demais da história)