Não Sei Desenhar Գ128 - 29/03/24
Sexta-feira Santa, dia de refletir sobre nossos pecados e agradecer muito a Beyoncé por mais um álbum lançado
Identification Marks: None é o primeiro longa do Jerzy Skolimovski, diretor polonês que tá na ativa até hoje. Esse, de 65, costura com uma coesão torta experimentos estudantis dele pra formar um longa que, enquanto eu via, de fato me fez pensar que tem muita coisa ali que fede a filme de estudante de cinema. Então existe toda uma vontade de extravasar planos criativos e chamativos, propostas de fotografia e narrativas que parecem não conversar entre si mas que no fim parecem demonstrar algo bem promissor. O personagem principal (interpretado pelo próprio Skolimovski) parece estar sempre fugindo de algo, não trabalha, e parece estar cada vez mais perdendo coisas e se perdendo no processo de alguma forma: perde cachorro, perde esposa, perde dinheiro, mas o objetivo dele é entrar pro exército pra trabalhar porque meio que é o que sobra pra ele. O cenário em volta dele é desolador mas os reflexos que parecem persegui-lo não tão muito diferentes disso.
Não achei um trailer do filme, então vai o filme inteiro no Youtube mesmo (tinha na Mubi legendado em português até outro dia):
Tempos atrás eu prestigiei o filme de Vampire Hunter D de 1985, um filme de anime baseado numa série de livros que aparentemente fez muito sucesso no Japão. Os designs dos personagens são do lendário Yoshitaka Amano, que também fez muita coisa pra Final Fantasy e por aí vai. Realmente é um dos filmes de animação já feitos, mas não chega a ser ruim.
Mas aí eu fui e vi o outro anime famoso dessa franquia, Vampire Hunter D: Bloodlust, de 2000. E aí sim nós estamos conversando.
Dirigido pelo lendário Yoshiaki Kawajiri, mesmo diretor de Ninja Scroll (lendário anime dos anos 90) e Wicked City. Todos animes no geral com uma animação impressionante e com designs de personagens muito característicos, mas em Bloodlust o homem está em outro nível. Certos efeitos são bem a cara da época, com algumas animações de cenários feitos em computação gráfica misturados com desenhos à mão.
Me parece que uma das grandes graças de Vampire Hunter D como um todo é o universo dele. Se passa num futuro meio pós-apocalíptico mas ainda tem coisas de alta tecnologia misturadas com um aspecto medieval gótico e ainda com um pezinho no velho-oeste (o próprio personagem principal, o D, é muito um personagem de western). E arraias gigantes voadoras no deserto. E, claro, o mais importante: vampiros. É o tipo de salada que parece uma bagunça mas que foda-se, na prática funciona, ainda mais sob a direção do Kawajiri. As cenas de ação (que não são poucas) são muito boas e eu já falei que a animação é impressionante?
A história aqui é um romance gótico e apesar do clima desolador - que me parece menos gore e terror do que no filme de 85 - aqui existe um coração batendo por baixo da coisa toda. No fundo todos os personagens são um bando de gente solitária em busca de alguma conexão naquele mundo já meio perdido, seja por meio do amor romântico e pela família (escolhida ou não). O plot em si, nas suas miudezas, é muito uma desculpa pras cenas de ação e pra criar o clima desse cenário doido. Por mim tudo bem. Até porque a animação é impress
Tem umas versões rolando no Youtube mas se conseguir a versão em HD, como umas que tem no Nyaa, prefira (talvez só tenha em inglês). Nunca é demais frisar: versões HD de animes em celuloide = crocância, coisa linda demais.
psicodelia jazzística folk pop japonesa dos anos 70, o som da nossa amiga Yoshiko Sai:
Pulando alguns pouquíssimos anos no tempo, descobri um subgênero do vaporwave chamado barber beats. Ainda tem aquela vibe de muzak e talvez seja um pouco mais focado nas batidas e no groove… mas talvez não tanto. Todos parecem ser trilhas sonoras de obras que não existem. Tem coisas como o brasileiro slowerpace
mas um dos mais brabos e mais prolíficos é o Macroblank
Aí que recentemente eu terminei Blasphemous, metroidvania com um pé enterrado no soulslike. Por ser metroidvania, é um jogo de ação e plataforma 2D em que a ideia é que tu vá fuçando pelas áreas do jogo - várias fases que são interligadas - e achando novos itens que te dão poderes pra te deixar mais forte e (em menor escala aqui) vão te permitir explorar outras áreas de formas diferentes. Por ser soulslike, é bem difícil e vai te exigir tempo, técnica e alguma paciência. Mas é um tipo de difícil que vai fazer tu se acostumar com ele, vai fazer tu aceitar que a morte faz parte da proposta da coisa toda e por mais puto que tu fique quando morra, tudo faz parte. O lance é fazer as pazes com o game over. Não por acaso o nome do personagem do jogador é Penitente. A morte em si e a punição quase como mecânica conversa diretamente com a estética do jogo, um lance totalmente católico-espanhol-gótico-gore-black metal.
E tudo debaixo de uma belíssima pixel art que torna tudo mais misterioso, parece que a falta de definição deixa algo pra imaginar. O que me deixa triste é que supostamente a pessoa responsável por ela acabou saindo do estúdio criador do jogo, e aí no Blasphemous 2 a coisa descambou pra uma parada meio anime que meio que não combina com o rolê todo.
Um ótimo jogo pra reunir a família e jogar na Páscoa! Diz pra tua mãe que é um jogo religioso