Não Sei Desenhar ӹ127 - 22/03/24
sua revista eletrônica semanal sobre as melhores épocas do ano pra se ter um ataque de rinite
A essa altura do campeonato, o conceito de “hétero top” já tá bem difundido né? Provavelmente mesmo até fora dos círculos LGBTQIA+, que é onde ele se originou. Vocês sabem: aquele homem hétero cis que usa gola polo, dirige carros caros, vai nos camarotes das baladinhas eletrônicas de Jurerê Internacional, provavelmente é herdeiro da empresa do pai, etc. Não chega necessariamente a ser um playboy ou MAURICINHO, mas tá muito perto disso. Acima de tudo, é um cara rico e padrão.
Pois eu acho que existe um nível abaixo do Hétero Top. Alguém que quer ser muito Hétero Top mas não consegue, ou é algo que tá muito próximo dele mas ele não tem como bancar como gostaria. É um cara que é padrão mas não é exatamente rico. O Hétero Top de baixa octanagem. É o Hétero Resenha.
O Hétero Resenha é boleiro. Tem um Golf rebaixado ou um Onix Nitro. Ouve funk e sertanejo. Tem tatuagem com os nomes dos filhos. Cabelinho na régua - agora o bigode voltou à moda, pode estar incluso no kit. Usa com frequência o Status do Zap (mas não tanto o Stories do Instagram), pra postar selfies no churrasco/happy hour com a galera do futebol ou da firma, com seu copo de vodca com energético. Ou tem uma empresa de serviços pequenos ou é empregado numa empresa maior mas em um cargo mais baixo. Pode até ter feito uma Engenharia na faculdade, mas não necessariamente trabalha com isso. Adora filmes de ação mas reclama quando “tem muita fria”. Se orgulha muito da sua TV Box (“todos os canais liberados, até putaria!”). Anda de Lacoste gola polo falsificada e sapatênis.
enfim vocês entenderam
Pode ser que eu esteja só ligeiramente atrasado, mas só depois de velho e de já ter passado por uma fase de pesquisar sobre roque brasileiro alternativo dos anos 80 é que eu fui parar pra ouvir o álbum clássico do Violeta de Outono e não é que é bom??? É total post-punk quase gótico. Me lembra frequentemente Wipers e Joy Division. Dê uma chance você também
Pra quem tá afim de um rap oldschool, que em 1993 já falava do “retorno do boom bap”, tem o primeiro álbum do mestre KRS-One. Pesadíssimo, principalmente nas batidas
Tudo Pode Ser Roubado, da Giovana Madalosso: belíssimo livro, ágil e quase fugaz como o cenário que ele apresenta. No caso, uma ladra lidando com a vida em São Paulo e tudo que isso acarreta. Todas as pessoas que ela conhece parecem ter uma tristeza natural - pra além da visão cínica e distanciada da personagem que narra a história - e a cidade de São Paulo em si é parte fundamental dessa tristeza. Por mais que esse verbo esteja meio vilipendiado hoje em dia, dá pra dizer que a cidade atravessa o livro e todos os personagens inevitavelmente e de uma forma ou de outra ela vai acabar contigo. Ou melhor: ela vai te roubar alguma coisa. Isso porque… volte e releia o nome do livro.
vinil lindo da semana: a edição limitada de 4’33” do John Cage pela Smashed Plastic. Vocês tão ligados.
Patos - Dois anos nos campos de petróleo, da Kate Beaton: quadrinho slice of life bem foda. Talvez vocês lembrem dela do site de tiras que ela mantinha, o Hark! A Vagrant. Aqui o lance é autobiográfico e mostra a vida dela trabalhando no meio do nada, envolta de neve e solidão e machismo e assédio sexual. A história é contada de fato como pequenas fatias (“slices”… whoa) do dia-a-dia dela, num fluxo quase sem pausas, e sempre existe um espaço pro humor torto da Beaton no meio disso mas quando o drama da história pega, ela entrega muito também. O desenho é revoltantemente simples no que tange a cenários e coisas mais complexas (coisas que se fosse eu desenhando… bem), ela manja é das expressões nos rostos dos personagens, como ela já fazia nas tiras. Mas a força da história vem disso mesmo, como demonstra a cena final.
Emocionado com O Menino e a Garça, fui ver um das antigas do Miyazaki, o segundo dele no Ghibli, Castelo No Céu. É claramente mais infantil e aventuresco e essa que é a grande graça dele. A vibe meio proto-steampunk me faz lembrar de Porco Rosso e Serviço de Entregas da Kiki, designs como os da vila do começo do filme. Sem contar a quantidade de coisas que ele influenciou de alguma maneira. Quero dizer: olha esse maluco, vê se ele não é a lata do Dr. Robotnik do Sonic
e a própria fase Sky Sanctuary do Sonic 3 também parece a equipe do jogo querendo fazer seu próprio castelo no céu
e o design todo da ilha claramente vira referência em coisas como Zelda e etc.
essa foi braba, de acordo com a classificação