Eu pensei muito no quanto escrever nessa edição, ou mesmo se eu sequer conseguiria escrever alguma coisa aqui essa semana, e continuo sem saber direito na verdade. O lance é que eu perdi um amigo de infância essa semana, praticamente da minha idade, de uma maneira estúpida e quase inacreditável. E eu não sei exatamente o que pensar sobre isso, a única palavra que eu consigo pensar pra definir isso tudo é “estranho”. Por que é isso, parece muito fora da realidade, pensar que eu nunca mais vou ver aquela pessoa de novo, alguém com quem eu convivi por tanto tempo. Não sei nem o quanto eu realmente quero falar sobre isso aqui, mas talvez seja o lugar pra isso, só não sei se são vocês que deveriam ler sobre isso e não o meu psicólogo imaginário.
A real é que parte dessa estranheza se dá por que por muito tempo, no período inicial do luto, enquanto eu ainda tentava entender a situação da morte recente, eu me sentia quase culpado por ter me afastado dele nos últimos anos - por questões políticas. É difícil dizer isso mas a amizade tinha arrefecido, e não tinha voltado pra um ponto normal e agora nunca mais vai voltar. Eu não sei o que tirar disso, mas ao longo do processo do velório e do enterro pensei que eu nem sei direito como funciona o meu luto e que talvez não fosse a hora certa pra julgar isso e muito menos coisas que já tinham passado e que, quem diria, não voltam mais. Que nem o meu amigo.
Pelo visto parte da minha LINGUAGEM DO LUTO é ficar me preocupando com coisas práticas e do que fazer após a morte, então em parte pensei se deveria escrever algum texto “definitivo” sobre o meu amigo, sobre a culpa que eu senti, sobre amizade, sobre a fugacidade da vida, sobre aproveitar as coisas boas enquanto se é capaz, sobre o quanto falar sobre si diante da morte de outra pessoa é a única coisa que resta no fim das contas. Aí quando chega no dia de entregar a newsletter eu realmente não sei o que dizer ou o quanto eu quero dizer. Essa edição quase nem saiu, eu poderia ter tirado o dia de luto e tal. Eu poderia fazer um texto altamente dramático e forçar o choro alheio. Mas isso seria eu mesmo?
Talvez a distância dessas horas pós enterro tenham feito eu criar alguma casca sobre a situação, ou talvez eu só não seja capaz de escrever sem me auto-julgar em algum nível, ou talvez eu só esteja dissociando. Ou talvez eu seja só um babaca mesmo.
E aí o quanto disso fala sobre mim e sobre essa newsletter ou sobre qualquer coisa? Eu sei lá, porra. Tem muita coisa pra se tirar disso mas tenho a impressão que os textos dessa newsletter nunca foram muito sobre conclusões, e mais sobre sugerir perguntas e instigar mesmo que minimamente e da forma que eu sou capaz. Mas acima de tudo sobre criar conexões entre mim e vocês, construir essas pontes invisíveis, às vezes com gente que eu nem conheço mas que jÁ cOnSiDeRo PaKaS.
Em resumo esse é mais um texto que vai do nada pro lugar nenhum mas com algum desenvolvimento no processo. Mas a vida não é exatamente isso? Isso e curtir o que vale a pena, se possível com as pessoas que a gente gosta. Que é mais ou menos o que eu tô tentando aqui.
Comecei a jogar Persona 3 Reload e é um jogo em que alguns dos temas centrais são vínculos sociais, vida e morte. Vamo vendo.
Essa aqui é de quando eu pegava carona com ele pra ir pra praia e ele não trocava os CDs no carro. Sempre voltava pro Sublime ou pro Toots and the Maytals
De vez em nunca em alguns rolês eu acabo virando o Louquinho Que Fica Batendo Foto com a minha câmera em vez de interagir que nem uma pessoa normal, embora isso tenha acontecido menos ultimamente. Em parte porque frequentemente nas fotos que eu tiro as pessoas saem meio tortas, etc.
Eu poderia ter escolhido umas trocentas outras, inclusive mais antigas, inclusive mais engraçadas, talvez até uma em que eu apareço com ele, mas a newsletter é minha.
Essa foto dele foi tirada por mim.
Pontes invisíveis.