e o trampo do Yvan Guillo, o Samplerman? Colagens fodidas feitas só com quadrinhos antigos
mais um hit do city pop dos anos 80 ganha um novo clipe depois de 30 anos de vida: Mayonaka no Door - Stay With Me, da Miki Matsubara
e ainda é dirigido por umas tais Friedman Sisters, que são brasileiras???? Loucura
Napoleão do Ridley Scott: o desinteresse generalizado é quase palpável pelo filme todo. Nenhuma cena parece ter o impacto que precisa, a câmera só tá ali porque sim. Tudo parece ser feito no automático. As partes que poderiam suscitar algum interesse são as menos épicas, as mais íntimas, e elas só funcionam por causa do esforço do Joaquin Phoenix em tirar alguma humanidade daquele personagem. As cenas com a esposa, e mesmo as conversas com os outros imperadores, essas coisinhas menores é onde o Phoenix parece conseguir criar alguma coisa, onde ele deixa escapar umas risadas e coisas do tipo. Os momentos onde o personagem se apequena, ali que era pra estar a grande graça. Só que no fim fica tudo jogado no meio de uma história burocrática.
pelo menos deu pra saber qual a cor do cavalo branco e qual a posição em que ele perdeu a guerra (e pra ficar por duas horas e meia num ambiente com ar condicionado)
Saiu um álbum novo do Polyphonic Spree, uma galera que faz um tipo de britpop barroco e psicodélico e o grande lance é que a banda inclui uma porra de um CORAL. Fazia tempo que eu não ouvia falar deles, eu gostava particularmente dessa
(a versão deles de Lithium do Nirvana é uma boa curiosidade também)
o som novo tem bem menos coral como um todo mas tem várias canções muito bem construidinhas e ganchudas, no geral bem calmaria, tá valendo bem.
também teve o novo álbum solo da Cleo Sol, moça que supostamente também faz parte do do ótimo Sault. Neo-soul meio gospel bem de boinha
no oposto da calmaria, deixei passar o novo do CZARFACE, monstro do rap boombap
Pensou filme de kung-fu dos anos 70? Pensou CINCO DEDOS DE VIOLÊNCIA. Veio junto num pacotaço da Mubi com mais uma caralhada de clássicos dessa cena, como A Câmara 36 de Shaolin, Os Cinco Venenos de Shaolin, O Super Dragão Chinês e etc.
Mas esse aqui me parece uma boa introdução ao gênero como um todo. Tem tudo que aparece nos outros filmes, talvez de uma forma um pouco mais pé no chão (o filme é de 72, tenho a impressão de as coisas mais fantasiosas viriam um pouco mais pra frente) mas com a mesma estilização de imagem e som pra dar o impacto geral da coisa.. Tem vingança, traição, honra e desonra, campeonato de luta, treinamento pra aprender uma técnica lendária, zooms rápidos a torto e a direito, e a beleza do ShawScope (queria muito saber que lente eles usavam pra deixar tudo tão distorcido nas cenas mais abertas). E lógico, galera metendo um kung-fu nervoso, com direito a palma da mão brilhando em vermelho, gente sendo atirada pra muito longe, cara arrancando os dois olhos do outro com os dedos…
Sabe aquele alarme do Kill Bill? Adivinha de onde veio. E inclusive ele é usado meio pra representar o protagonista quando o cara já tá no ápice do seu poder de lutador.
NO EPISÓDIO ANTERIOR: Valdir e Brenda finalmente se reencontram! Dá tudo certo, nenhum problema ocorre.
s02e03: instransponível
— Que noite movimentada, hein — diz Moacir do lado de fora.
Brenda ainda está juntando suas coisas. Ela só vai amontoando tudo sem pensar, como se fosse a única coisa a se fazer. Como se seu corpo fizesse sozinho, automático. Sua cabeça não está ali. Agora que ela mandou Valdir embora, poderia ficar, teoricamente. Mas não. Sua cabeça está na relação com Moacir. Na relação com Valdir. Em todas as suas relações anteriores. Por isso ela segue querendo ir embora: é para onde ela deve ir. Brenda se percebe pulando de galho em galho, de relacionamento em relacionamento. Seu corpo sabe disso.
Ela tinha fugido de Valdir sem dar nenhuma explicação quando conheceu Moacir. O mago lhe contratou como segurança numa missão e em pouco tempo eles viriam para a Dungeon Espiral, na esperança de uma vida nova. Brenda só queria estar longe de Valdir, de tudo. Agora só quer estar longe de Moacir.
De Moacir para onde? Ela não sabe e, no momento, não interessa. Ela só sabe que ali, com ele, não é mais o lugar dela. Quando foi a última vez que Brenda ficou sozinha? Sozinha sozinha? Ela mal se lembra. Saiu da casa dos pais adolescente direto para ir morar com o primeiro namorado. O orgulho da família. Depois, de galho em galho.
— Então. — Moacir bota a cabeça para dentro da tenda. — Pra onde vamos?
“Você, eu não sei”, ela pensa.
Alguns segundos se passam e ela deixa as palavras vazarem.
— Você, eu não sei — ela diz.
Moacir ergue uma sobrancelha.
🌀
Alguns lugares na Dungeon interessam mais a Dona Isolete do que outros. Normal. Certas coisas chamam mais atenção do que outras. Alguns se parecem muito com lugares que ela viu fora da Dungeon e parecem facilmente explicáveis. Outros, como este, lhe deixam particularmente curiosa. Como surgiu? Que formação geológica fez este lugar ficar assim? Que deus bêbado tropeçou nas plantas-baixas e deu o aval para a criação deste cenário?
E com esse cheiro?
O vale de terra marrom tomada por grama e árvores verdes se estende diante dela e de um sorumbático Valdir. A parte plana começa a se desfazer e aos poucos se torna um paredão que vai descendo até um ponto em comum com os paredões próximos, formando quase que um círculo perfeito. À medida em que se aproxima desse centro, a terra fica mais marrom. Ao longo da concavidade quilométrica, que toma a visão até quase o horizonte, o chão irregular cria formas corrugadas, como se o ponto central repuxasse a terra, tornando-se quase um vulcão que esqueceu de crescer. O centro então é um buraco, talvez um gêiser desativado que parece estar meramente descansado depois de ter sido esgaçado. Às vezes, uma fumaça pode ser vista sendo disparada sem força. E quando a fumaça sai, exala um cheiro forte que acaba impregnando todo o local ad eternum. Parece cheiro de enxofre com suor.
Ela paira diante daquela visão arrebatadora, o sol estourando sua luz no céu totalmente azul e sem nuvens, deixando as formas ainda mais definidas. Ela senta no chão para olhar, apoiando-se numa grande placa de metal verde que diz:
“Bem-vindos ao Cunion”.
Imitando Dona Isolete, na falta de opções Valdir senta-se também e olha sem observar o Cunion. Não faz diferença.
Dona Isolete puxa um pacote de pãozinho torrado. Oferece a Valdir, que não aceita.
— Impressionante isso aqui, não é? — ela diz.
— Uhum.
Valdir não consegue se impressionar. Nem que ele tentasse. Nada mais tem beleza. Nada mais vale a pena. Ele analisa brevemente a altura do Cunion. Se ele se jogasse, provavelmente morreria. Provavelmente não seria uma má ideia. Provavelmente acabaria com essa dor.
Dona Isolete olha para ele e percebe que ele está fazendo uma careta terrível. Valdir está pensando demais.
— Ei. — Ela estala os dedos na frente do rosto dele. — O que você tá olhando? Não tá pensando em se jogar, né?
— Hã? Não. Não, não.
Se jogar pode ser um erro. Mas a proximidade facilita.
Por alguns minutos, o único barulho que se ouve é o crec-crec das torradas sendo mastigadas. Até que:
— Eu não tenho mais porquê seguir na Dungeon.
— O quê? Como assim?! Você é meu segurança, lembra?
— É…
— Você ainda tem uma missão aqui dentro. Não é hora de desistir, ok?
— Mas eu… não sei se tenho força pra isso.
— Como não? Você é um bárbaro altamente treinado. Olha só pra você. Olha esses bíceps, esse trapézio.
— O problema é bem esse. Ser um bárbaro.
— Não! Na verdade… — Dona Isolete para um pouco para colocar o pensamento em palavras. — Na verdade, o problema não é você ser um bárbaro, é você agir como um. Entende?
— Não — Valdir foi muito sincero aqui.
— Você não precisa ser um bárbaro como o que você veio sendo até agora.. você pode m… o que é aquilo?
Dona Isolete olha pro céu. Valdir segue o olhar dela e ambos veem uma mancha escura que se aproxima. Parece alguém sobre um cavalo. Uma pessoa sobre um cavalo com asas, voando para perto deles.
O pégaso pousa a alguns metros e o cavaleiro o amarra a uma pedra. Contra o sol é difícil de ver, mas ele parece usar uma armadura surrada encimada por um colete de pelos falsos, que termina num elmo metálico adornado por um par de chifres grandes demais. Ele caminha com alguma dificuldade na direção de Valdir e Dona Isolete e passa o antebraço na testa para limpar o suor.
Valdir faz algum esforço pra reconhecê-lo.
— Você é…
— Isso mesmo, Valdir. — Ele faz um barulho enquanto se mexe, a armadura é muito pesada. — Sou exatamente quem você está pensando.
Dona Isolete percebe que Valdir faz uma careta ainda mais feia do que antes.
— Não sei quem é você.
— Porra. Sou eu, Iussuque, pô.
Valdir não diz nada.
— Eu tentei te matar na mansão do Khepresh. Você arrancou meus braços com uma espadada. Te ajudei com o polvo no Pântano de Merda.
Valdir dá uma ligeira arregalada nos olhos.
— Ah sim! Como você vai? Tá com braços novos, pelo visto.
— Sim! É um lance de última geração, importado. Chegou essa semana. Ainda tô me acostumando com eles, sabe como é…
— Daqui a pouco você nem sente mais.
— Melhor que nada, né? Que era como tava antes.
Valdir assente e então todo o pouco interesse que tinha na conversa se esvai totalmente. Iussuque se lembra:
— E eu vou usar esses braços pra te matar.
Ele aponta um ameaçador dedo indicador para Valdir, e então sua mão se desfaz em várias tiras metálicas que abrem espaço para um machado aparecer.
Ou pelo menos era o que deveria acontecer. O machado fica aberto pela metade e as tiras ficam soltas, os dedos metálicos fora de posição como se a mão ciborgue esquecesse como é uma mão humana e virasse uma árvore.
— Não. P-peraí. Eu esqueci de atualizar o firmware, me dá um minutinho.
Iussuque senta no chão enquanto os músculos de metal de suas mãos se desligam e se preparam para ligar de novo. Dona Isolete aproveita para se aproximar do rapaz.
— Escuta, Iussuque. Essa pode não ser uma boa hora pra isso.
— Sempre é uma boa hora para a vingança! — grita Iusssuque. Então percebe que gritou com uma pessoa mais velha e fica acanhado. — Desculpa.
— É que o Valdir está passando por um momento bastante difícil agora. Ele acabou de sofrer um baque emocional.
— Baque emocional?! Esse cara decepou as minhas mãos! Ele me envergonhou na frente do meu senpai! Quer um baque emocional pior que esse?
— Ele descobriu que a mulher que ele ama estava com outro e deu um pé na bunda dele e agora ele se deu conta de que entrou na Dungeon Espiral por nada.
Iussuque considera.
— Ah — ele diz, por fim.
Ele olha para Valdir, que por sua vez olha para o nada.
Iussuque nunca encostou numa mulher que não fosse sua mãe. A coisa mais próxima de um relacionamento amoroso que ele teve foi segurar uma capa plástica de um DVD de anime hentai. Então fica imaginando que aquela deve ser uma situação muito complicada mesmo. Talvez ele até quisesse estar no lugar de Valdir - melhor sofrer do que nunca ter sentido nada.
Seus braços terminam a atualização e completam a transformação de mão para machado. Iussuque fica parado.
— Não seria certo eu lutar com ele desse jeito. Preciso que ele esteja inteiro pra me enfrentar como deve ser.
Dona Isolete concorda com um sorriso aliviado. Iussuque aponta seu machado para Valdir.
— Nossa história ainda não acabou, bárbaro!
Valdir não diz nada.
Então percebe que alguém falou com ele.
— O quê? Ah sim sim, claro. Vamo combinando.
Iussuque se despede de Dona Isolete, corre até seu pégaso e alça voo gritando:
— Lembre-se de mim! Iussuque Hævneren terá sua vingança!
Nova fantasia, novo sobrenome.
*
O Cunion tem uma atividade gasosa maior durante a noite mas isso não impede Valdir e Dona Isolete de acamparem por ali mesmo. Quando percebe que Dona Isolete caiu no sono (o que não demorou muito para acontecer), Valdir puxa seu caderno da mochila pra perto do lampião. Segura a caneta. A ponta dela encosta na folha em branco.
Um ponto.
E só isso acontece. Valdir olha para a folha e a folha olha de volta, rindo desafiadora. Valdir não pisca. As palavras se esconderam dele. Há um muro gigante entre ele e elas. Instransponível. Não que Valdir tenha pensado nessa palavra em específico.
O ponto se transforma num traço torto que machuca a folha. Valdir fica olhando para o traço por minutos inteiros, imóvel. Dorme sentado depois de uma hora e meia olhando para a folha.
つづく
Só agora conseguindo colocar em dia... e essa edição tá genial. Um monte de info boa... só o chato que vou ter de assinar o Mubi, e ainda mais um episódio porrada do Dungeon Espiral. O cunion, a capa de hentai, o "vamo combinando"... Genial.
Ah, e a edição de ontem me jogou em um sequencia de videos do Atarashii Gakko! que é outra coisa sensacional. Continua detonando aí.