Fiquei de cara com essa versão funk de A Lenda da Luz da Lua feita pela Alice Caymmi:
Pra quem não ligou o nome à música…
Som bom dessa semana também é o álbum novo do Parcels, banda com uma pegada meio Steely Dan/Fleetwood Mac/outras coisas setentistas mas bem puxado pro soul também.
E na editoria “bandas velhas que eu só fui ouvir agora”, ando ouvindo muito o álbum de 1999 do Blackalicious, Nia. Boom bap underground finíssimo.
Recentemente assinei de novo o Game Pass pra PC e obviamente fiquei um mês além do que eu planejava, então aproveitei pra jogar algumas coisas que já tavam no meu radar. A saber:
Skatebird: um jogo de skate com passarinhos. Afinal “bird” = “board”. Ahahah. Muito boa piada. Legal. Próximo.
Narita Boy: cheio das pixel arts bonitas e dos efeitos CRT legais, mas a jogabilidade é meio truncada. É um platformer de ação, com espadinha e tiro. Mas o jogo mal começa e já tu já cai numa piscina de INFODUMP, um monte de explicação sobre a história é jogada no teu colo e não dá nem tempo de sacar tudo de uma vez. Valeu o esforço galera.
Moonglow Bay: esse foi lançado recentemente e é um jogo de pescaria. Tu pesca coisas (inclusive TARRAFEANDO), cozinha elas e bota pra vender, e isso ajuda a fazer crescer a cidadezinha canadense de Moonglow Bay. É bem simpático e uma coisa que me deixou meio ??????? no começo é que a personagem que tu cria tem tipo 40 anos e tem uma filha. Como é a cabeça do ser humano né.
Donut County: o único desses que eu terminei, até porque demora tipo três horas pra coisa toda. É um jogo no qual tu controla um buraco e tem que ir engolindo as coisas à tua volta. Um Katamari Damacy ao contrário. O texto é engraçado (destaque pra Trashopedia) e a história é legal também.
Ele era o CEO de uma empresa de software em ascensão. Seu app estava instalado em milhares de celulares mundo afora, sua presença se espalhava pelo globo fantasmagoricamente, espiritualmente. Ele também era um mago. Estava se preparando para um ritual. Acabara de entrar em seu escritório de janelas de 4 metros de altura que eram cercadas por uma floresta verde brilhante. Sua casa era um cubo preto metálico e transparente a alguns quilômetros da civilização. Sentou-se diante de seus dois monitores e começou a analisar a situação da bolsa de valores. Os números gritaram na sua cara. Gráficos subiam e desciam formando desenhos de montanhas alucinadas. Foi até outra mesa e de lá tirou seu vape preto-piano. Encheu com um pouco de skunk e aos poucos começou a tragar, caminhando pelo escritório soltando vapor. Seu ritual se iniciava. Sentou novamente em sua cadeira de CEO e começou a se concentrar nos pixels na sua frente. Nos números, nos gráficos. Fundo preto, letras coloridas. Um céu noturno formado por zeros e uns pra onde ele aos poucos começava a flutuar.
Ele não a conhecia. Não fazia ideia da existência dela. Ela usava um moletom roxo com capuz e tinha o rosto redondo iluminado pela luz azulada que vinha de seu notebook. Era a única luz em seu quarto desarrumado. Ela era uma hacker mas também era uma maga. Começou seu ritual abrindo um energético, bebendo um gole, colocando pra tocar um álbum do Death Grips e então digitando códigos rapidamente. Seus códigos eram seus símbolos mágicos, seus sigilos. O feitiço estava se formando em sua frente.
O feitiço dele já havia começado. Ele viajava pela imensidão escura que era iluminada pelas estrelas que eram os pixels brilhantes. Ele viajava cada vez mais rápido. Os pixels claros passavam por ele a velocidades cada vez maiores até se tornarem borrões. Ele avançava não apenas naquele espaço não-físico, mas também no tempo. Um pico de um gráfico se sobressaiu. Aquele seria seu objetivo naquele ritual. Abriu os olhos e voltou ao monitor. Fez uma ligação e mandou comprar ações da empresa do pico. Sentiu mais alguns milhões entrando na sua conta em breve.
Ninguém a conhecia. Para ela, era melhor que ninguém a conhecesse, muito menos seu alvo. Os códigos refletiam em seu óculos de grau, surgindo de forma acelerada e construindo uma parede de números, palavras e símbolos. Uma parede que na verdade estava criando uma porta, por onde ela entrava naquele momento. Ela seguiu túnel adentro para voar quilômetros além de seu quarto, porque pra ela naquele momento a distância pouco fazia diferença.
Ele se tornava um com o carro que dirigia. O carro feito de polígonos refletia a luz falsa do sol do ambiente 3D graças ao raytracing gerado pela placa de vídeo de seu computador. Ele venceu a corrida. Respirou fundo e voltou a si. O ritual tinha terminado. O ritual diário de culto a seu deus estava pronto. Bastava agora esperar as ações subirem. Foi beber um copo de uísque pra comemorar.
Ela não podia ser vista. Estava entranhada nos servidores como se fizesse parte do ambiente, embora nunca tivesse estado ali. Procurava pela porta certa. Os túneis brilhantes formavam bifurcações fractais que podiam dar em qualquer lugar do mundo porém ela precisa de um caminho, de uma porta em específico. Ela fechou os olhos e respirou fundo. Sentiu os números surgindo. Um atrás do outro, saltando em sua mente. Digitou-os no teclado como se eles saltassem direto da sua cabeça pros seus dedos, como se nascessem diante de sua mão. Apertou Enter. Encontrou a porta certa. Sorriu.
Os gráficos subiam diante dele. Seu sorriso se abriu à medida em que via a seta apontar cada vez mais pra cima, sem nunca cair. Era hora de vender.
Ela encontrou o que procurava. Estava pronta para o ataque. Não pensou, apenas digitou os códigos certos e partiu pra cima com suas armas.
Ele ia fazer a ligação para mandar vender, mas não conseguia. Tinha algum problema. De repente, perdeu a conexão com a internet. O sinal do celular parecia não funcionar mais. Algo estava errado.
O ataque foi certeiro. Destruiu as defesas do inimigo e deixou o tesouro à mostra.
Reiniciou o computador. Começou a berrar para ninguém. Jogou o celular no chão. Derrubou um monitor. Algo estava muito errado. Não era isso que era pra acontecer, não era isso que seu deus tinha lhe prometido. Ela fez o que precisava ser feito e saiu. Ninguém a viu, sua presença não existia. Como gostava de fazer. “Não” era a única palavra que ele conseguia repetir pra si mesmo, como um tipo de mantra inútil que tentava cancelar o feitiço que acabara de sofrer. Fechou as portas. Voltou pra casa. Abriu os olhos. Sorriu. Conseguiu ligar o monitor. Percebeu que tinha perdido milhões. Não. Não não não. Ela fechou o notebook e foi pedir uma pizza pra comemorar. Tinha dinheiro de sobra pra isso agora.