Por algum motivo (provavelmente a expansão cada vez maior do colecionismo de quadrinhos no Brasil) saiu pela Panini o encadernado de Skrull Kill Krew, que ficou como Esquadrão Mata Skrull. É o primeiro trabalho do Grant Morrison e do Mark Millar pra Marvel, de 1995, e dá pra ver claramente que é o meio dos anos 90.
Os caras resgatam uma ideia lá da primeira aparição dos skrulls, numa revista do Quarteto Fantástico dos anos 60, na qual o Quarteto derrota os aliens transmorfos e os deixa presos como vacas pra sempre. Aí em algum momento essas vacas acabam indo pro abate e viram hambúrguer. Quem come esse hambúrguer contrai um vírus e por causa dele ganha alguns poderes de skrull também e consegue ver quem eles são enquanto disfarçados de humanos. É quase um Eles Vivem nos anos 90 com motoqueiros - até por que a ideia altamente morrisoniana é de que esse grupo de super-heróis é uma gangue de motoqueiros. Os caras meio que simplesmente saem por aí matando skrulls e é isso. Eles são agentes do caos mais do que qualquer coisa. A própria formação deles é caótica: é liderada por um cara negro, que se junta com um supremacista branco (que devido ao vírus está se tornando aquilo que ele mais odeia, adivinha o quê), uma supermodelo, uma clubber e um surfista. É o Norvana dos quadrinhos da Marvel, juntando todas as tribos dos anos 90.
É claro que nenhum assunto é discutido muito a fundo mas (como tudo do Millar) tem algo de choque pelo choque e (como tudo do Morrison) tem várias ideias muito boas salpicadas ao longo da história inteira. Aliás, provavelmente as melhores ideias realmente vem do Morrison e cada vez mais eu acho que o Millar só foi na onda do cara mesmo - tem aquele papo de que as ideias do Quarteto Fantástico Ultimate escrito pelo Millar na verdade são do Morrison, sem ter recebido os créditos. De qualquer forma ainda é um quadrinho que vale pelo absurdo da coisa toda, é um lance que se leva muito pouco a sério. Não gosto dos desenhos do Steve Yeowell mas ele acaba dando um gostinho extra de um memento dos anos 90 assim. No geral, aprovado.
estou na moda
Eu não sei muito bem o que eu esperava de Um Lobisomem Americano em Londres mas posso afirmar com segurança que o troço é muito melhor do que qualquer expectativa. Eu tinha uma noção de que era algo DE RIR em algum nível mas não tinha noção de que a comédia do filme era algo tão entranhado assim na concepção da coisa. A narrativa te desorienta e começa a levar pra lugar cada vez mais inusitados. Só agora, vendo meu terceiro ou quarto do John Landis, eu consigo ter uma noção do estilo de comédia “deadpan” que ele costura e de como ele faz as histórias dos filmes dele parecerem umas coisas que parece que foram inventadas na hora e todos os envolvidos simplesmente toparam fazer. (Clube dos Cafajestes e Irmãos Cara de Pau parece que tem muito disso pelo que eu lembro)
Maluco vai pra Inglaterra turistar com um amigo, é mal recebido por um bando de caipiras ingleses, seu amigo e ele são atacados por um lobisomem. Seu amigo morre e começa a espezinhar como um morto-vivo, alguém que vive no limbo, e agora diz pra ele que ele agora carrega uma maldição. O maluco em questão virou um lobisomem. Quer dizer: dá pra arriscar dizer que talvez toda a parte sobrenatural da história se passa na cabeça dele e dos envolvidos, em particular essa do amigo semimorto - que pode ser só uma visão, uma representação da própria culpa do cara. Aliás tem correndo por fora uma crítica ao clássico intervencionismo estadunidense, só que ironicamente o americano em questão tá de certa forma “se vingando” já que ele tá matando gente na terra-mãe dos americanos. O filme é todo cheio das ironias e essa é uma das grandes graças dele, a visão do Landis é justamente essa. Tem várias cenas de comédia que são colocadas de forma muito esquisita - e isso que é o legal. Lá pelas tantas tem tem uma conversa do maluco com o amigo putrefato dele que se passa em um cinema pornô de Picadilly Circus (eu acho muito massa o fato de nos anos 80 Picadilly Circus ter tido cinemas pornô… quando eu fui pra lá só tinha propaganda. Inclusive as propagandas já existiam na época do filme, elas aparecem claramente e como era diferente a publicidade da época… não tinha telão, tava tudo lá físico, em neon… isso é doido).
(TRIVIA
Quando eu fui em Picadilly Circus, comprei um par de tênis por lá mesmo e saí usando na hora (o que ortopedicamente pode não ter sido a melhor escolha pra alguém que ia passar o dia andando), e deixei o meu par antigo e surrado em algum ponto da praça principal. Espero que algum inglês tenha feito bom uso dele.
FIM DA TRIVIA)
Quero dizer: olha a música que toca quando o cara tá se transformando na porra do lobisomem
Esse lance da ironia é tão filho da puta que o último plano do filme mostra uma pessoa chorando porque alguém na frente dela acabou de morrer, em close, e então o filme mete um corte seco pros créditos ao som de alguém cantando DABIDANDANBIDEBIDEUMDÉUM.
Entende?
Não é como se o filme tivesse tirando sarro da morte em si e de toda a situação de terror (que não é tratada “levianamente”, o terror é terror mesmo)… é algo muito diferente mesmo. Foda demais.
nova do IDLES tá bem legal
e por falar em dançar, a nova do Jockstrap tá bem boa também
VHS japonês do dia
Saiu recentemente (mais ou menos 20 anos após o acontecimento) no Star+ uma minissérie documental sobre o famigerado caso do Senhor Waldemar Sendo Anunciado Como Técnico do Flamengo. Vocês SABEM do que eu tô falando.
É um desses documentários da ESPN então o tom geral é bem jornalístico, meio melodramático e óbvio demais, e tem participações duvidosas de flamenguistas famosos como Sandra Sá, Antônio Porchat e os caras do Flow Sport Club. São três episódios mas o marvado memo é o segundo, que faz quase que uma reconstituição pormenorizada do grande momento. Sofre um pouco com esse lance de que poderia ser um filme e não uma minissérie mas dá pra entender: a ideia é mais dar um contexto do que aconteceu, mostrando a entrevista como um ponto baixíssimo na História do futebol brasileiro como um todo (a série começa com a contratação do Romário em 95 e chama de “Bug do Milênio” o que aconteceu com vários clubes nos anos 2000, como rebaixamentos e atrasos em pagamentos e estruturas mambembes e brigas e torcedores invadindo treino e batendo em jogadores) pra depois tentar ““““redimir”””” o Waldemar, mostrando que a passagem dele e a seguinte pelo Flamengo no fim foram bem vitoriosas e hoje em dia ele tem um projeto social. E ainda tem uma reconstituição do repórter da ESPN perguntando pro Vassoura “por que Waldemar”, botando os dois pra se reencontrarem nos dias de hoje e o resultado só fica bobo.
No fim vale a pena e a parte do envoltório político do futebol da época é bem boa. Me deixou um tanto perplexo a info de que o Vampeta, quando de sua passagem rapidíssima pelo Flamengo, morava em São Paulo enquanto jogava no Rio. Ele pegava a ponte aérea diariamente pra treinar. Aí também peraí né.