Cocoon é um jogo que saiu recentemente no Game Pass e pode interessar por que é do designer principal de outros jogos assaz aprazíveis como Limbo e Inside. Mas onde esses dois eram cinematic platformers, esse aqui tá mais pra um “cinematic puzzler”.
O jogo se autoexplica de forma muito clara. Nada é dito ou falado, o pouco que tem de história vai se desenrolando na tua frente. E tal qual a história, a jogabilidade é muito simples: tu se mexe com o direcional e aperta um botão pra fazer coisas. E deu. Não mexe câmera, não pula, nem nada. Os puzzles são todos baseados em lógica e movimento e na interação com o cenário.
Mas o grande lance dele é que ele é sobre tu explorar cada fase e em determinados momentos tu pode sair dela (como se saltasse de um universo em miniatura pra outro maior) e ela fica contida dentro de uma bola de gude gigante. E aí essa bola causa efeitos específicos na fase maior. E aí depois essa fase maior também vira uma bola de gude gigante e que também tem funções específicas e aí depois essa fase também vira uma bola de g… tu entendeu.
Tem momentos que são de dar um nó na cabeça mas o level design é muito preciso, ele sempre te entrega tudo que tu precisa pra fazer os puzzles, nunca rolam momentos de soft lock (em que tu precisa voltar e refazer algo específico num puzzle anterior pra resolver). E cada fase é muito diferente uma da outra mesmo com as conexões entre elas se tornando mais claras às vezes, vários mundos tecno-orgânicos misteriosos e muito bonitos - ainda que simples. E tem até chefes! No geral eles se baseiam mais em velocidade e precisão mas são todos legais.
Parece um tipo de ideia que poderia ficar muito confusa mas tudo funciona muito bem e mesmo o nó na cabeça parece que é na medida certa. Ele poderia se tornar muito confuso facilmente mas tudo se amarra perfeitamente e o jogo é curto, então não tem nem espaço pra isso.
Ainda no tema, Solar Ash é um jogo de ação em 3D e exploração que tinha tudo pra ser bom mas adivinha só. Ele tem uma mecânica de patinação que num primeiro momento é divertida mas que o jogo não incentiva a usar, então parece uma oportunidade desperdiçadíssima. É tipo os jogos antigos em 2D do Sonic: tu pode até sair correndo pela fase mas isso em última análise não é lá muito útil. O objetivo principal é explorar umas áreas grandes em busca de matar uns bichos pra depois matar um bicho maior usando a patinação e um gancho e o lance se repete à exaustão por sei lá quantas fases. Foda é que tudo muito repetitivo, as fases parecem ser exatamente as mesmas, os chefes também. Aí entristece. Eu queria muito ter gostado mais, o jogo anterior da mesma turma, Hyper Light Drifter, é bem legalzinho até onde eu joguei. Mas esse aqui não rolou.
Fuçando no Game Pass resolvi catar um Ninja Gaiden, no caso o Sigma. Eu que nunca tinha jogado nenhum Ninja Gaiden pós-Nintendinho fui empolgado ver se encontrava uma ação divertida de hack’n’slash, uma porradinha meio descerebrada sincera. Só que a câmera é INSUPORTÁVEL de mexer e os controles não respondem como deveriam então é tudo truncado demais, por mais que a ação seja legal. “Ah mas é um jogo de 2009” não me interessa. Não cometa o mesmo erro que eu, passe longe. Ou cometa, se tu assina o Game Pass ele tá ali e é só pegar. Mas depois não diga que eu não avisei.
O novo do Ghost of Vroom é meio que uma mistura de hip-hop com indie rock, lembra um pouco um som meio alternativo anos 2000 assim. Me lembrou coisas como Eels e tal. Bem bolado
E na seara do rock argentino do final dos anos 70, tem o primeiro do Serú Girán, banda encabeçada pelo lendário Charly Garcia (que eu já citei ã passã por aqui e é responsável, entre outras coisas, por esta obra-prima) e que pega coisa de psicodelia com um pé no jazz-rock/progressivo em melodias no geral cheias de drama e bem cantaroláveis. Classicão - um dos vários que faz pensar por que a gente conhece tão pouco de música argentina sendo que os caras tão aqui do lado, vindo incomodar nas nossas praias todo mês janeiro.
Falei recentemente do álbum novo da Mistki e reforço a recomendação. Tenho ouvido com mais frequência e vai pra minha lista de Melhores do Ano. Ah, a famosa lista de Melhores do Ano da newsletter Não Sei Desenhar, uma grande festa sempre esperada pela indústria musical e cinematográfica e culinária. Muito suspense ao longo de todo ano, todo mundo se perguntando “que álbuns será que vão entrar?”, “será que ele vai falar de mim?”, “quem realmente se importa com isso?”.
Achei legal que no Youtube da Mitski tem lyric videos com as letras traduzidas pra outros idiomas, como espanhol, japonês e até português. O que é muito bom principalmente quando se tem letras como essa:
Did you go and make promises you can’t keep?
Well, when you break them
They break you right back
Amateur mistake
You can take it from me
They break you right back
ouch
A Aline Valek falou recentemente na newsletter dela sobre uma teoria foda da Ursula Le Guin que tem rondado a minha cabeça ultimamente, sobre como ela
Desfaz a cena de 2001: Uma Odisseia no Espaço, ao se recusar a acreditar que a ferramenta que marca o início da história humana tenha sido uma arma. Não, não foi uma arma, foi uma bolsa.
Uma sacola para guardar a comida coletada no caminho, um recipiente para conter aveia, uma rede para segurar o bebê e manter as mãos livres para pegar o que quiser, o que é útil, comestível ou bonito e levar para casa, a casa sendo outra enorme espécie de bolsa ou sacola, um recipiente para pessoas.
E isso muda muita coisa. Tem o link pro texto da Le Guin e, putz, como era sagaz essa mulher.
Já aqui um artigo do Mason Currey sobre como talvez criar uma rotina ideal de escrita, pegando alguns exemplos de outros escritores.
VHS japonês do dia
eu sei lá pô, não me pergunte