Duas newsletters que eu sigo essa semana convergiram em temas complementares:
A
responde alguém que basicamente pergunta “por que escrever em vez de apenas ler?” e aí claro que uma pergunta dessas exige uma resposta que envolve muitos aspectos do que é escrever - e escrever nos dias de hoje, do jeito como estão as coisas todas. (e ela ainda faz uma citação ao Luiz Fernando Veríssimo que me fez pensar “por que faz tanto tempo que eu não leio nada desse homem?”)E o
responde pra alguém que se intitula “O Escritor Deprimido”, uma pessoa que já publicou mas que acha que vai se considerar pra sempre um escritor medíocre. Ele vai longe numa possível técnica pra fazer a pessoa simplesmente escrever a coisa mais simples que vier na cabeça e largar essa ideia de ficar julgando a própria escrita (ou algo assim) e tem muitas ideias boas ali no meio. (em inglês)Os dois citam a situação de se colocar como alguém que escreve porque quer ver algo escrito e que não existe ainda - o que eu consigo entender completamente e em última instância é meio que isso. Mas pra mim pessoalmente parece que a criação de algo é mais uma coceira muito profunda e irritante que precisa ser curada, principalmente quando é uma ideia que parece muito boa pra ficar só no pensamento. E aí em algum nível eu só quero “me livrar” daquilo e ver o troço pronto na minha frente. Por isso que eu ainda tenho alguma dificuldade com revisão e edição do meu próprio material, em parte é uma vontade de manter essa aparente “empolgação” original que gerou aquela ideia, o que não quer dizer que ela não possa ser polida mas ao mesmo tempo existe um receio de “estragar” algo que parecia natural.
É claro que isso é em grande parte baboseira.
Revisão é essencial sim, em algum nível, e provavelmente o ímpeto inicial é só isso, um ímpeto. Talvez a revisão ajude justamente a fazer transparecer melhor o que se queria dizer nessa primeira versão mas tinha ficado escondido debaixo de um amontoado solto de ideias.
Esse trecho mesmo que eu tô escrevendo nesse exato momento: começou como uma coisa e terminou como outra. Eu vou revisar? Não muito. Até porque eu tenho a mania de ir corrigindo as coisas enquanto vou escrevendo e isso é quase uma auto-revisão. Mas ainda é muito claro que a gente vai escrevendo/fazendo as coisas e frequentemente só no caminho a gente vai descobrindo o que queria dizer ou fazer o leitor/espectador/etc sentir ou pensar ou etc. A gente vai aprendendo a fazer a obra (seja ela qual for) no processo mesmo, como um jogo em que tu vai aprendendo as regras no decorrer da partida. Depois eu poderia muito bem voltar e, tendo entendido onde a coisa parou, voltar e revisar.
A conclusão a que chegamos é que
álbum novo da Mitski (menos falado e possivelmente melhor que o anterior) veio fortíssimo, indo mais pra um folk/meio alt country dessa vez. A voz dela é forte e singela e tem várias sonzeiras principalmente mais pra primeira metade
ainda no folk, recentemente saiu o novo da Joanna Sternberg, que bebe muito mais no Bob Dylan diretamente e às vezes chega a me lembrar Daniel Johnston
dos violõezinhos pra pedreiragem e sujeiragem: um duo paulista de noise punk chamado Cáustico, tem esse álbum do ano passado e mais um single novo que é bem bom também
e agora o som da noite: a coletânea Viva el sábado: Hits de disco pop peruano (1978-1989), só no Bandcamp.
Esse Ori and the Will of the Wisps é bom memo hein? Melhor do que eu esperava. Eu lembro que o Ori anterior era legal mas esse vai full metroidvania mesmo. Em cada área aberta se descobre um poderzinho novo que funciona pra explorar melhor aquela área e ajudaria a explorar as outras em pontos específicos. “Ajudaria” por que eu terminei o jogo com 49%, o que foi suficiente pra pegar os poderes principais e terminar a historia porém muito pouco das sidequests. Por mim tudo bem.
O que funciona muito bem nele é a ação e a movimentação: pular com o Ori e fazer todos os movimentos aéreos (que não são poucos, incluindo ataques) é muito satisfatório e os desafios que envolvem usar os vários golpezinhos aprendidos vão ficando cada vez melhores, e mais difíceis do que eu esperava - ainda mais diante de todo o aspecto fofinho do jogo, da beleza dos gráficos e da música e da história do tipo que te faz ter simpatia pelo chefão final. No fim todas as mecânicas parecem se equilibrar bem, os desafios de plataforma conversam bem com o combate e ainda tem umas set pieces que pegam muito, umas perseguições onde a única coisa que se tem a fazer é sair correndo e pulando pra sobreviver… videogame pra mim é isso aí, porra. Agir quase sem pensar, só no raciocínio e no movimento de botões. Aqui um exemplo de uma bem no começo:
e pra quem tá com o inglês em dia, vale checar um vídeo do Game Maker’s Toolkit em que um dos desenvolvedores analisa o level design de uma das fases em detalhes bem legais, incluindo ideias que foram deixadas de lado e tal
o papo do Luiz Fernando Veríssimo me fez lembrar da vez em que a TV Pirata adaptou a história hoje clássica dele do pôquer interminável (a.k.a. “NINGUÉM SAI”), e também originou outras trocentas adaptações feitas por estudantes que apareceram ali quando eu pesquisei no Youtube