Não sei se vocês ouviram falar mas recentemente saiu um filme chamado Duna.
Bom. O que dá pra dizer é que com certeza é um filme.
E também que eu achei bem PROTOCOLAR. É uma adaptação e pronto. Por mais que tenha umas ideias legais em termos de direção de arte e criação de mundo, meio que não passa disso. Muito do filme é explicação e dá pra ver que existe um esforço em tornar ela minimamente interessante mas nem sempre funciona porque a direção do Villeneuve é, bem, protocolar e sem gracinha. Esse lance quase monocromático o tempo todo. Porra. Bota uma cor aí meu amigo. Mas não. Tem que ser SÉRIO. ADULTO. PESADO. SOLENE. Mesmo lance da Liga da Justiça do Zeca Snyder. E sem contar que as cenas de ação são bem merda, o que pode vir a ser problemático pro segundo filme porque a promessa é de guerra e treta direto.
Se eu recomendo ver? Bom, se você tem FOMO e quer ficar por dentro dos chistes e dos memes, vai na fé.
No que tange a música, o que temos hoje é o álbum novo do Blockhead, DJ e produtor novaiorquino, que já produziu umas coisas pro Aesop Rock. Hip-hop instrumental assaz grooveado, na linha do DJ Shadow, Kid Koala, Amon Tobin, essa vibe mais Ninja Tune.
E esse Red Bull sabor pitaya?
Gostei hein? Tem um sabor de pitaya muito mais NATURAL do que eu esperava, dá pra sentir as frutas que obviamente foram colhidas para a produção do acepipe. Na verdade, tem mais sabor de pitaya do que muita pitaya de verdade. Quase tem um gosto de Fanta Uva, mas bem no fundinho. E é bonito. Achei mais interessante do que as outras versões alternativas do Red Bull (esse papo de “sabor tropical”, “coco com salame” ou sei lá o quê) e talvez melhor que a versão original e seu gosto de [???????]. Harmoniza com verão, sol, praia e gente bonita. Nota: 8/10
A faca do chef de Homera cortava a cebola roxa com rapidez. Homera não chorava, a faca estava devidamente afiada e criava fatias perfeitas em formato de meia-lua. Gostava de quão bem estava cortando cebolas àquela altura do seu tempo como única cozinheira do Último Restaurante que existia. A frigideira já estava quente. Homera tacou um filete de azeite de oliva dentro da panela e esta por sua vez chiou alegremente de volta. A cozinheira levou as fatias de cebola da tábua de madeira direto pra frigideira e então distribuiu uma pitada de sal e depois pimenta-do-reino. Balançava de leve a frigideira e mexia a cebola com uma colher de pau. Era só deixar pegar um pouco de cor e dar uma cozinhada. O perfume da cebola refogada aos poucos ia dominando as narinas de todos que estavam no restaurante. Era uma pena que naquele momento só havia duas pessoas ali: ela e LunaTokyo. E LunaTokyo estava apontando um revólver pra ela.
Homera lembra-se desse nome. Ou melhor, desse user. Antes de o mundo acabar, LunaTokyo era uma influencer com milhões de seguidores em várias redes sociais. Falava de moda, batia fotos das comidinhas do dia, dos lookinhos. Aparentemente, continuava a fazer isso. A despeito de qualquer coisa que tenha acontecido ao redor dela. Usava um cabelo azul que batia no pescoço com um topete espetado, uma maquiagem que puxava pra um rosa shock e um sobretudo amarelo reluzente. Homera lembra-se também de como ela mesma era antes do fim de tudo.
Cozinhava só para si. Não tinha restaurante, era apenas uma entusiasta. Via canais de culinária no Youtube, assistia reality shows de comida. Mas gostava muito de cozinhar, experimentar receitas, métodos e ingredientes diferentes. Sonhava em viajar o mundo experimentando pratos das mais diferentes culturas possíveis. Porém o mundo acabou. Tudo virou um deserto. A água rareou. Novos animais e plantas que antes só poderiam existir na imaginação surgiram, não se sabe como. Foi quando Homera se viu mudando de vida, indo parar na cozinha de um restaurante – o último. Alguém naquele mundo novo precisava cozinhar para os outros, afinal de contas.
- Olha como ela faz! – disse LunaTokyo, alegremente, apontando ao mesmo tempo o celular e o revólver para Homera. – Ela refogou as cebolas, e agora...
- Agora eu vou quebrar três ovos de galintaruga e vou mexer bem rápido, pra misturar tudo na frigideira. – disse Homera, sorrindo. – Mas antes...
Deu dois passos até um armário e dali tirou um naco de manteiga de leite de cabratum, cortou um pedaço e jogou na frigideira. Só então despejou a mistura de ovos e começou a mexer com rapidez, evitando que a mistura grudasse no fundo da panela.
- Que incrível! – dizia LunaTokyo, entre outros elogios a nada em específico, apenas pelo costume de elogiar. – E agora, ficou pronto?
A mistura aos poucos deixou de ser líquida e gosmenta pra ficar mais cremosa.
- Ficou pronto. – disse Homera, sem olhar para LunaTokyo. – Então Luna, quantas pessoas estão nos vendo agora na live?
- Ah! A gente tá com umas mil e duzentas, duas mil! Todo mundo doidinho pra ver como ficou esse ovo mexido do Último Restaurante!
LunaTokyo estava preocupada demais com o que filmava e dizia para ter percebido quando a frigideira acertou-lhe o rosto pela direita, sujando seu rosto e levando-a ao chão. Homera terminou o movimento e saltou por cima do balcão.
Assustada, LunaTokyo atirava. Seu revólver não tinha balas. Seu celular estava desligado. E agora, seu rosto estava sujo e dolorido devido a um ataque de ovo mexido e manteiga derretida.
- SUA IDIOTA! OLHA O QUE VOCÊ FEZ! – berrava LunaTokyo, esfregando a mão no rosto. Homera se aproximava dela lentamente. – EU VOU DAR A PIOR NOTA PRA VOCÊ NO TRIPADVISOR! ESSE TEU RESTAURANTE DE MERDA VAI FALIR!
Homera quis tirar LunaTokyo do restaurante na base do chute. Não apenas se conteve como em última análise tinha pena dela.
- Você está louca. – disse Homera num tom baixo. – Sai agora do meu restaurante e não volta nunca mais aqui.
- EU NUNCA MAIS VOLTO NESSE RESTAURANTE! – gritou LunaTokyo, filmando-a com o celular sem energia. – ESPERO QUE VOCÊ APODREÇA AQUI JUNTO COM ESSA COMIDA DE MERDA! – e saiu correndo do restaurante.
Nesse mesmo momento, quase esbarrando nela, chegaram seus dois colegas de empreendimento, Biano e Mile.
- Peraí, aquela era a LunaTokyo? – perguntou Mile.
- Era. E vai continuar sendo por muito tempo, pelo visto.