VOCÊ QUER BOMBAR NAS REDES SOCIAIS? Você quer números exorbitantes de views, comments, likes nos seus posts e tweets e tiktiks? Então você está no lugar certo. Nesse tutorial você vai aprender TUDO que precisa saber pra viralizar nas redes de maneira orgânica do mesmo jeito que eu.
Primeiro, crie seu post. Coloque todas as hashtags que façam sentido, marque amigos, deixe uma call to action e então, um pouco antes de clicar para postar, ajoelhe-se, pegue uma faca, abra um ferimento na sua mão, use o sangue pra desenhar um pentagr
Gíria pra cagar: “vou ali deflagrar uma operação”.
RIP Takao Saito, criador de Golgo 13, um dos mangás mais longevos da história e cujo personagem principal é uma inspiração direta pro Jurandir Fevereiro. Assim: se eu li alguma coisa de Golgo 13 foi muito pouco, porém o mangá rendeu um filmaço que é Golgo 13: O Profissional (aaaahhh então quer dizer que), dirigido pelo lendário Osamu Dezaki ali por 82. O Osamu Dezaki foi um cara seminal pra estética do anime como a conhecemos hoje, tendo criado um monte de técnicas pra fazer o drama gritar na tua cara, e nesse filme ele tá no auge. Todo enquadramento é lindo. Quem puder, assista - lembrando que é um produto típico dos anos 80, então né.
Bonito citar a morte de um cara e falar de outro. Mas o próprio Saito foi muito importante pro mangá, foi um dos principais nomes da primeira geração do gekigá, que seria um “mangá adulto” a muito grosso modo.
Por falar em filmes dos anos 80, dá uma olhada nesse vídeo sobre as cenas de ação dos filmes de pancadaria de Hong Kong dessa época. Tem narração em inglês mas só pelas imagens já valeria: chineses se jogando no chão, se quebrando, pendurando-se de lugares altos demais… é cada coisa que beira o inacreditável. Quem viu filmes do Jackie Chan ou do Summo Hung tá ligado. Mas a parada vai além. O vídeo ainda trata de vários aspectos estéticos, narrativos e de produção.
A dica musical de hoje é o recentemente lançado primeiro álbum do Genesis Owusu, rapper australiano de ascendência ganesa. Vai do neo-soul a um rap mais experimental quase Death Grips. O homem é bom.
Para Jurandir Fevereiro, missão dada é missão cumprida. Simplesmente. Ele foi contratado para matar um homem e para roubar dele a Cabeça de Tiradentes. O homem foi morto (não por ele), e a Cabeça foi roubada. Ele precisa recuperá-la. Porque ele é...
Jurandir até chegou a ouvir o som de uma moto na rua ao lado do restaurante. Saiu correndo até a porta e pôde ver Karina e um outro homem subindo a rua a toda velocidade sobre duas rodas. Não havia mais o que fazer. Ficou triste por vê-la indo embora com outro homem e pensou que a coisa certa a se fazer era ligar para seu contratante contando que metade de seu plano tinha ido por água abaixo. Jurandir nunca pensou que haveriam tantos palavrões assim tanto em português como em alemão. O senhor Zedequias xingou Jurandir, xingou Karina, xingou Tiradentes. Mas ficou particularmente revoltado com Karina, alguém em quem ele sempre achou que podia confiar e agora fazia isso. Ele desligou na cara de Jurandir e ligou de novo depois de trinta minutos, mais calmo. Explicou a Jurandir o que ele deveria fazer: ir até Belo Horizonte e dar um jeito de recuperar a Cabeça num leilão secreto que iria ocorrer na cidade, de acordo com os contatos dele.
O UberX de Jurandir passou por quase toda a extensão da Lagoa da Pampulha e parou em uma das várias mansões dos arredores. O sol da tarde criava um halo dourado na água verde da Lagoa e as folhas das árvores balançavam quase imperceptivelmente. Do outro lado, ao longo da via, dezenas de carros de luxo se encontravam estacionados. Pessoas faziam cooper ao longo da Lagoa, famílias passeavam com seus cachorros, senhoras liam sentadas nos bancos. Jurandir saía do carro com um revólver escondido dentro do disfarce que o senhor Zedequias arranjou pra ele: o de um homem rico e bem-sucedido. Ajeitou seu paletó cinza, deu uma arrumada na calça um número maior do que o dele e colocou o óculos escuro estilo aviador. Se sentia elegante, como gostaria de ser sempre. O senhor Zedequias lhe mandou entrar no leilão e o autorizou a oferecer até sete milhões de dólares pela Cabeça. Jurandir gostava de imaginar que esse dinheiro seria seu.
Passou incólume pela portaria, dando um nome que o senhor Zedequias lhe recomendou, foi revistado por um segurança que fez vista grossa pro seu revólver e subiu a escada da mansão. Eram degraus longos que iam dar num deque, onde algumas pessoas fumavam e conversavam. Todo mundo ali era muito elegante, pelo menos pros padrões de Juradir. Ele se sentia até meio acuado. Tentava fingir que era uma daquelas pessoas e, pra isso, foi até o bar e pediu uma dose de Black Label. Pediu pra acrescentar uma rodela de limão. Rodelas de limão em bebidas são chiques. Mal teve tempo de tomar o primeiro gole quando todos foram chamados a entrar no salão principal por uma moça com uma prancheta na mão.
O salão era uma antiga sala de estar dourada que fora adaptada para comportar vinte cadeiras que ficavam de frente pra uma mesa com outras duas cadeiras. Quase todas as cadeiras estavam ocupadas por mais pessoas elegantes e alguns seguranças e garçons cercavam o cômodo. Jurandir sentou ao fundo para não chamar atenção. Um homem magro com um penteado que pareceu ser desenhado por um designer de objetos exclusivamente para ele chegou à mesa, se apresentou como leiloeiro e começou os trabalhos. Jurandir deu um lance aqui e ali só pra fazer de conta mas o grande momento veio quarenta minutos depois, quando o leiloeiro apresentou o grande momento do dia: a Cabeça de Tiradentes. Todos se empolgaram, o burburinho tomou conta do local.
- Ela está entre nós, - anunciou o leiloeiro. – Finalmente, o que todos esperavam. Alguém aqui hoje poderá levar pra casa esse que é um verdadeiro presente não só pra vocês mesmos, como para seus cônjuges.
Jurandir estranhou a frase e seguiu prestando atenção, curioso. A moça da prancheta voltou ao salão, trazendo o cubo de madeira que ele tinha visto previamente em Ouro Preto. Ela ergueu a caixa e a abriu, orgulhosa. A multidão fez um “ooh!”. Era a Cabeça de Tiradentes, de fato. O que não tinham contado para Jurandir era qual Cabeça. Uma glande pútrida de um verde com manchas escuras saía de um buraquinho dentro da caixa. Apesar do aspecto, ou talvez fosse pela emoção do momento, a glande parecia sorrir para todos. Jurandir fez uma cara de nojo e percebeu que era o único na sala que transparecia isso. Todos à sua volta estavam genuinamente emocionados.
Os lances começaram em dois milhões de dólares. Dois milhões e cem mil pra uma mulher de topete. Dois milhões e trezentos mil para um jovem de camisa polo. Dois milhões e quinhentos mil para um senhor grisalho com sorriso de porcelana. Jurandir ergueu a plaquinha e declarou:
- Três milhões.
O leiloeiro se empolgou e começou a pedir mais. Três milhões e quinhentos para o homem do sorriso. Três e oitocentos para um rapaz de boné. Quatro milhões para a mulher de topete. Quatro e meio para o homem do sorriso.
- Cinco milhões e meio. – disse Jurandir.
O homem do sorriso olhou para trás, com o sorriso aos poucos se desmanchando em seu rosto enrugado. Os lances começaram a rarear. O homem do sorriso ofereceu cinco e oitocentos. Neste momento, uma figura surgiu da porta que ficava atrás da mesa. Uma mulher de pele muito branca, um macacão largo e cabelo preto escorrido. Jurandir a reconheceu: Karina. Observava o leilão com as mãos para trás. Seis milhões para o rapaz de boné. Jurandir não sabia se ficava escondido ou se impunha para demonstrar quem (ele achava que) mandava ali. Seis milhões e duzentos para o ex-homem do sorriso. Silêncio por alguns segundos. Jurandir resolveu levantar a placa.
- Seis e quatrocentos.
Karina olhou para Jurandir e arregalou os olhos. O ex-homem do sorriso agora tinha largado o sorriso embaixo do próprio sapato e esfregado ele no chão como uma barata.
- Seis e quinhentos! – declarou o ex-homem do sorriso levantando a plaquinha alto demais.
- Seis e seiscentos! – disse Jurandir.
O ex-homem do sorriso virou-se para Jurandir.
- Seis e setecentos!
- Seis e oitocentos! – disse Jurandir, mais alto.
- Seis e novecentos!
- Sete milhões! – falou Jurandir, por fim.
O ex-homem do sorriso olhou profundamente nos olhos de Jurandir com seus olhos azuis muito claros, olhos que eram chiques por si só e pareciam ter sido comprados num leilão como esse. O ex-homem do sorriso bufava. Virou-se para o leiloeiro rapidamente e berrou:
- Dez milhões!
O choque foi geral. Ninguém se mexeu. Karina olhou para Jurandir e para o ex-homem do sorriso. Jurandir olhou para o ex-homem do sorriso, depois para Karina, depois para a Cabeça. O leiloeiro olhou para Jurandir. O maior barulho no salão era o do sol entrando pelos janelões. O ex-homem do sorriso virou-se de volta para Jurandir e brandiu novamente seu sorriso. Pela primeira vez, num tom ameaçador.
Jurandir se agachou e empurrou o homem do sorriso pro lado, saiu correndo na direção do leiloeiro e começou a atirar na direção dele, ainda que de forma descoordenada. A mulher da prancheta se assustou e deixou a caixa com a Cabeça cair no chão. Ela fez um baque e Jurandir saltou para pegá-la. Uma correria generalizada e completamente desvairada começou. Os seguranças foram atrapalhados pelo corre-corre e empurra-empurra e, quando se deram conta, Jurandir estava correndo casa a dentro. Os tiros passavam por ele e ele viu Karina mais ao fundo correndo ainda mais que ele. Olhou para trás e percebeu os seguranças se aglomerando. Viu um janelão. Não pensou: pegou impulso numa cadeira e saltou pra fora da janela. Depois, quando perguntado, Jurandir não saberia responder como saiu da mansão e correu ileso pelo bairro da Pampulha em Belo Horizonte. E também não percebeu que Karina e um homem de moto seguiram ele cidade afora.
CONTINUA...