SUGESTÃO de nome caso alguém aí resolva abrir um motel: “Sexabe”.
Semana passada finalmente saiu o esperado álbum musical de uma mulher que o Brasil inteiro ama. Aquele que o fandom vinha esperando com muita curiosidade.
Sim, ela mesmo: Little Simz! Depois do sensacional GREY Area, de 2019, a rapper inglesa meteu mais um álbum classudíssimo, chamado Sometimes I Might Be Introvert (tamo junto Simz), com muito instrumental de soul/jazz e até coisa de ópera. Recomendo fortemente os dois álbuns.
Matrix foi meio que o meu Star Wars pessoal. Apesar de o Episódio I ter saído no mesmo ano, o impacto daquele foi muito maior. A cabeçudice, as cenas de ação, o visual… esse filme me fez comprar um sobretudo preto numa inocente tentativa de parecer cool usando ele. Escrevo essa edição da newsletter no mesmo dia que sai o primeiro trailer do quarto filme, achando que não poderia mais me empolgar com esse tipo de coisa. Não sei a quem estou enganando.
Mal posso esperar pra me decepcionar de novo com o cinema hollywoodiano. (O cara brinca mas o lance é mais equilibrar a expectativa mesmo)
Atendendo a milhões de pedidos, um quadro muito famoso do meu Instagram e que eu faço desde os tempos da TV Excelsior faz sua estreia aqui na newsletter: resenhas de refrigerantes. Nesta edição, a Fanta preta.
Além do quão toxicamente PRETA ela é (não avermelhada que nem a Pepsi e a Coca), não tem muita coisa diferente da Fanta tradicional. Sei de gente que percebeu um ligeiro sabor extra de maçã, mas nada de muito exagerado. A cópia que eu tomei tinha pouco gás, ainda. Em suma, pra quem coleciona latas e pra quem gosta de Fanta, é um copo cheio.
Ele é um assassino de aluguel. Ele tem uma arma. Ele vai usá-la. Seu nome é Jurandir Fevereiro. Ele é o...
A missão era simples. Madrugada de quarta pra quinta-feira. Jurandir num prédio, seu alvo no outro. Um tiro, no máximo dois, com seu rifle de precisão, daria conta do recado. A noite estaria ganha. Jurandir já planejava onde ia beber depois do trabalho. Uma cervejinha. Uma porçãozinha de batata frita. Uma conversinha no Tinder, quem sabe? A noite poderia se estender mais um pouco pela comemoração.
Jurandir estacionou seu Marea Weekend azul na garagem do prédio às nove da noite e dirigiu-se com sua mala até o apartamento alugado especialmente pra ele. Décimo andar. Dois ou três andares acima do andar do apartamento onde seu alvo estaria, pra dar a ele a visão perfeita. Seria capaz de ver o quarto, a cama dele. Era um apartamento num hotel de luxo no centro da cidade. Por esse lado, Jurandir Fevereiro invejava seu alvo.
O alvo era um cara rico. Bem rico. Empresário. Acima do peso. Seu filho era vereador. Sua filha mais nova era famosa no Instagram. Pra Jurandir, o homem já viveu o que tinha pra viver. Sua hora tinha chegado. Jurandir Fevereiro seria seu carrasco. Não que se importasse muito com isso: o objetivo dele era fazer o que o contratante pediu, receber a grana e ir embora. Jurandir sempre se considerou um homem frio, que nem um sorvete de creme.
Jurandir Fevereiro saiu do elevador no nono andar sem querer e resolveu subir de escada até o andar correto. Ao passar pelo corredor, ouviu no apartamento vizinho ao seu o som da TV muito alto. Quando entrou, o som da TV soava três vezes mais alto. Pensou se isso lhe atrapalharia. Julgou que não e partiu pra montar seu rifle em frente à janela. Tirou os pedaços do rifle da bolsa e começou a se dar conta de que só tinha usado esse rifle uma vez na vida. Naquele outro trabalho, meses atrás, quando Jurandir inadvertidamente matou seu contratante em vez do alvo. Faz parte, segue o jogo.
Com mais dificuldade do que gostaria, Jurandir foi montando o rifle enquanto ouvia a TV no apartamento ao lado oferecendo o que parecia ser um belíssimo tapete persa. Um tapete persa é algo que ele conseguiria comprar com o dinheiro desse trabalho de hoje. Será que o cara vai repetir o telefone? Pra já deixar anotado e comprar. O cabo da arma sempre enroscou pra esse lado? Não era bem isso. Melhor encaixar a lente primeiro. E se o tapete for muito grande pra sala? É melhor medir antes. Mas e se...
Todo profissional passa por isso. É a graça do negócio. A arma estava pronta. Jurandir finalizou encaixando-a no tripé e foi olhar a janela. O alvo aparentemente tinha acabado de chegar no quarto do hotel, no horário que o contratante previra. Havia duas pessoas com ele, o que não estava exatamente dentro do script mas era algo com que Jurandir poderia trabalhar tranquilamente. Não haveria problema.
Jurandir abriu a janela para posicionar sua arma e junto com o ar da rua veio o barulho da TV vizinha. Mas isso não o atrapalharia. De maneira alguma. Quando Jurandir se prepara para dar um tiro, ele se torna um com sua arma. Não existe mais nada. Apenas ele e seu alvo. Tudo ao redor se torna desfocado. Nada mais existe. Jurandir, sua arma e a pessoa que ele vai matar, num vácuo longe de todo pensamento. Só existe o agir. Doze vezes de cento e catorze reais. Não tá caro. Se for persa mesmo, vale a pena.
Jurandir forçou uma piscada e respirou fundo. Prostrou-se diante do cabo do rifle e começou a analisar a cena onde estava seu alvo. Os dois homens que estavam com ele andavam pelo quarto, falando no celular, pegando bebida do frigobar. Todos riam. A noite tinha sido boa pelo visto. A qualquer momento o velho ia jogar seu corpo suado em cima da cama e esse era o momento de Jurandir Fevereiro entrar em ação. A qualquer momento...
O alvo saiu do banheiro. Secou as mãos na calça, pegou uma taça de vinho, falou algo com um de seus amigos. Foi até a janela enquanto mandava um áudio despreocupadamente. Virou-se, jogou o celular sobre o criado-mudo e sentou-se na cama. Agora.
Um tiro – seguido de outro. Jurandir levou um cagaço com o som dos tiros e ainda sofreu com o recuo da arma, indo parar no chão. Sentou-se de novo rapidamente e olhou pela lente. Um corpo estava no chão. O alvo estava olhando pra ele, de pé.
– Ô caralho – disse Jurandir.
Puxou o rifle pra dentro e tratou de fechar a janela rapidamente – fazendo uma barulheira de metal se esfregando – e se levantou. No processo de tentar sair dali muito rápido ainda deu um terceiro tiro que pegou na parede e foi chegar na TV vizinha, fazendo o barulho dela cessar. Jurandir fazia o possível pra desmontar a arma mas isso tinha ficado difícil com a mão suada e tremendo. Desmontou a arma como conseguiu (com alguns pedaços ainda montados) e jogou dentro da bolsa do jeito que estava. Pegou a chave do apartamento, e foi saindo, com a gola da jaqueta insuspeitavelmente erguida.
Deu dois passos pra fora do apartamento e viu uma mulher do lado de fora, usando roupas de moletom largas e bobes no cabelo. Putaça.
– Que porra é essa? O que aconteceu aqui? – berrou ela. Jurandir olhou pra ela, engoliu em seco, virou-se e saiu correndo na direção do elevador.
Incrédula, a mulher apenas olhou pra ele. Viu-o apertando o botão do elevador e esperando-o chegar, olhando para os lados, olhando para o relógio. O elevador chegou e quando a porta se abria o homem deu meia volta e foi na direção dela dando uns pulinhos apressados.
– Olha só, a senhora sabe me dizer o telefone da loja daqueles tapetes persa? – perguntou Jurandir Fevereiro, com o celular na mão.